SETEMBRO AMARELO

Suicídio entre crianças e jovens precisa ser abordado, defende pediatra

Publicado em: 15 de setembro de 2024 às 11:00
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    Portal Arauto
  • TAXA DE SUICÍDIO ENTRE CRIANÇAS E JOVENS PREOCUPA, DIZ PROFISSIONAL | DIVULGAÇÃO/FREPIK
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    Entre 2016 e 2021 houve aumento de 49,3% nas taxas de mortalidade nos jovens de 15 a 19 anos e aumento de 45% de 10 a 14 anos por suicídio

    Entre as tantas campanhas e números que reforçam o Setembro Amarelo, mês de intensificar a prevenção ao suicídio e o alerta sobre a saúde mental em todas as idades, a pediatra Clarissa Aires Roza chama a atenção para um público que às vezes é deixado de lado nestas reflexões: adolescentes e crianças.

    O assunto é difícil, pesado, mas deve deixar de ser um estigma, defende a profissional. Tema que não deve ser só abordado em setembro, mas permanentemente. Pois Clarissa explica que o que tem acontecido no Brasil é o aumento progressivo no suicídio e nas doenças como depressão e ansiedade, algo que tem importância gigantesca na saúde pública.

    Neste ano, o setembro Amarelo traz como tema “Se precisar, peça ajuda”. Mas a pediatra instiga: “como um adolescente e uma criança pedem ajuda se não se enxergam nesse problema?”. Quando não se fala sobre o assunto, dificulta o entendimento e, por isso, Clarissa acredita que as crianças e os jovens formem uma população sensível a esse tema.

    Para justificar a preocupação, ela traz dados da Secretaria de Vigilância em Saúde, divulgados pelo Ministério da Saúde em setembro de 2022: entre 2016 e 2021 houve aumento de 49,3% nas taxas de mortalidade nos adolescentes de 15 a 19 anos e aumento de 45% de 10 a 14 anos por suicídio.É algo muito sério”, resume.

    Em 2021 foram 200 casos no país nessa faixa etária. Dos jovens, foi o maior número registrado desde 1996. Desses 200 casos, cinco deles foram em menores de nove anos.É um tema urgente. Eu me arrepio falando nisso, não tem como não ficar impactado, a gente precisa falar sobre esses dados”, comenta.

    Não podemos fugir do assunto. Antigamente se dizia que falar desse assunto era incitar o ato e hoje se sabe que não. Precisamos falar sobre isso. Precisamos tirar o tabu sobre o tema, abordar de forma transparente e sincera para talvez mudar esses dados tão alarmantes”, completa Clarissa.

    Múltiplos fatores

    Não existe um único fator que leva ao suicídio. Mas falando nessa faixa etária da adolescência, a médica lembra que antecedentes genéticos, quando já tem casos de depressão, ansiedade e suicídio na família, aumenta o risco. Como é o ambiente dessa família? Existe abuso de álcool, drogas? Como a família é assistida em termos socioeconômicos? É algo multifatorial, responde ela. Inclusive, aponta que a tecnologia e as mídias sociais interferem nisso, assim como traumas e abusos também podem levar o jovem a se desregular e influenciam. “Precisamos estar atentos a esses fatores”, atesta.

    Com os adolescentes, ainda, comenta sobre as alterações hormonais e no entorno, na socialização, que afetam eles, pois não possuem maturidade cerebral para lidar com algumas situações. E eles possuem como agravante a impulsividade, e tomar uma atitude extrema num momento desses, próprio da fase, também exige atenção. “Nossas atitudes, a forma como a gente lida com os comportamentos desde a criança, tem muita relação com a saúde ou a falta de saúde mental”, complementa

    Existem sinais?

    As crianças que costumam apresentar mudanças de comportamento dão sempre esses sinais de alerta. Nem sempre chorar ou parecer triste é o sinal. Às vezes se isolar, a recusa aos convites de sair com amigos indicam. “Tive muitos casos no consultório de pais que demoraram para descobrir que seus filhos se automutilavam e escondiam embaixo das roupas. Às vezes criam máscaras que escondem a realidade dos jovens“, explica.

    A pediatra aponta que doença mental não pode ser vista como loucura. É preciso tirar os preconceitos falando, frisou. Tratamentos passam por boas relações, amigos, família, atividades ao ar livre, não se restringem à medicação, dependem de avaliação psiquiátrica, mas existem formas de auxílio que vão muito além e é preciso ir à base do problema, do trauma, exemplifica. Para Clarissa, os principais desafios estão relacionados ao modelo de vida das pessoas hoje em dia, enquanto sociedade. Fazer uso adequado das tecnologias, o equilíbrio das tecnologias para trabalhar, interagir, “e o quanto vou deixar isso de lado para viver, para estar presente na vida as crianças”, recomenda. É participar de todas as situações possíveis de forma ativa, é olhar, ouvir essa criança, como alguém que está percebendo cada mudança na vida dessa criança e que vai mudando junto com ela, finalizou a pediatra.

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