Mauro Seidel iniciou na cadeia produtiva aos 15 anos de idade e segue com a profissão até os dia de hoje
Com uma grande presença nos três estados do Sul do Brasil, a produção de erva-mate é a principal ou única fonte de renda de muitas famílias que formam esta cadeia produtiva. A árvore é uma espécie nativa característica da Floresta com Araucária e que também pode ser encontrada no Mato Grosso do Sul, São Paulo, Minas Gerais e nordeste da Argentina, leste do Paraguai e norte do Uruguai. No Vale do Rio Pardo, sua presença é forte em Venâncio Aires, o que leva a cidade a ser considerada a Capital Nacional do Chimarrão. Conforme os últimos dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Venâncio Aires é responsável pela produção de 4.063 toneladas de erva-mate, com um total de 650 hectares destinados ao cultivo. Já no Rio Grande do Sul, a produção chega a 214 mil toneladas, com 27,4 mil hectares destinados ao produto.
Na localidade de Linha 17 de Junho, cerca de 8,4 quilômetros do centro de Venâncio, está uma delas: a plantação de erva-mate de Mauro José Seidel, de 56 anos. Ele que tem a paixão pela planta, tem ela como a única fonte de renda da família.
Em uma plantação de cinco hectares com árvores de erva-mate, ele colhe por ano cerca de três mil arrobas do produto, ou seja, cerca de 45 mil quilos. “Essa paixão e interesse pela produção vêm desde pequeno, pois meu avô produzia. Mas, eu comecei a trabalhar e tirar renda com o produto desde os meus 15 anos de idade”, contou.
Mauro explicou que, agora, inicia a melhor época para colheita. Em sua propriedade a produção é colhida pela Ervateira Rainha, a mesma a qual ele vende o produto. “Como só eu lido com a produção fica inviável a contratação de outras pessoas, por isso essa empresa vem com seus funcionários, faz a colheita e já leva para a empresa”. Uma arroba de erva, que equivale a 15 quilos, é vendida por ele ao valor de R$ 18. “A empresa desconta uma porcentagem devido ao trabalho”, sublinhou.
PRODUÇÃO DA ERVA-MATE
O cultivo de erva-mate pode demorar a ter resultados, isso porque a árvore precisa de um período de até três anos para se desenvolver e estar em ponto de colheita. Mauro destaca que por ter a produção há muitos anos, consegue plantar mudas novas e ir intercalando a colheita, sem o risco de ficar sem a produção. “Eu corto os galhos de dois em dois anos, para que a árvore produza novamente, então todo ano eu tenho erva-mate”.
Apesar dos avanços tecnológicos no meio rural, Mauro considera a colheita manual, com facão, a melhor, garantindo a qualidade do pé e uma melhor colheita dos galhos. Além destes cuidados, o produtor lembra que a seca dos últimos anos tem danificado a produção, alguns pés de erva chegaram a morrer, além de insetos que podem danificar a árvore. “Eu sempre digo que sou teimoso e persistente, não dá pra desistir, por isso mantenho a produção até hoje”.
O produtor também destaca que a erva-mate é uma árvore do frio, então não chega a sofrer com o clima do inverno. Seguindo os costumes dos mais velhos, ele observa as fases da lua para colheita da erva e, tem dias que ele não deixa que o trabalho seja realizado até mudar a fase da lua. "Tem gente que não acredita, mas acredito que a lua tem interferência no processo de colheita e sabor da erva". A colheita no verão pode danificar a árvore por ela estar gerando brotos. “No inverno é a melhor época”, frisou. Mauro cultiva a espécie ‘Argentina’ e elenca que a maioria de sua produção de erva-mate é destinada para o Tereré, no Mato Grosso. “Na próxima semana vou iniciar a colheita aqui e deve seguir até agosto ou setembro”.
TRADIÇÃO
Mauro deixa claro o desejo de lidar com erva-mate até não conseguir mais trabalhar. “Eu pretendo seguir na produção até o fim da minha vida, eu gosto de fazer e acho que todos têm que fazer o que gosta", enfatizou.
Para quem deseja iniciar a produção do zero, ele lembra que as primeiras produções irão demorar, devido ao crescimento da árvore e orienta ter uma segunda fonte de renda. “A terra aqui é vermelha e considerada própria pra erva-mate, por isso aqui em Venâncio é bom para a produção”.
PROCESSO NA FÁBRICA
O comprador da erva-mate de Mauro é a empresa Rainha, de Venâncio Aires. Conforme o empresário, Jaime Bergamaschi, alguns produtores levam o produto até a empresa e em outros, através dos tarefeiros, é realizada a colheita na propriedade.
Ele explica que a erva-mate ao chegar na empresa vai direto para a esteira onde passa por um forno, conhecido pelo processo de sapeco, para tirar a película da folha e não ficar com uma coloração escura. “Ali está o segredo para a cor da erva, para ficar verdinha”, destacou Bergamaschi.
Quando sair do forno, as folhas precisam ficar secas para, em seguida, passarem pelo processo de pré-moída. Posteriormente, é realizada a secagem em um cilindro que mantém a temperatura em torno de 100 °C e passa por peneiras onde ocorre a separação da erva fina da grossa e segue para o processo de embalagem. “Vendemos esse produto principalmente para o Paraná e Mato Grosso que consome para o Tereré”.
Bergamaschi pontua que a erva-mate produzida em Venâncio Aires é ideal para o Tereré, pois ela é mais amarga. “Ganhamos muito mercado isso”. O período de compra e venda acontece o ano todo, mas a erva produzida no inverno é ideal para o chimarrão e no verão para o Tereré.
*Colaborou a jornalista Bruna Oliveira.
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