Depois da enchente, nosso Estado virou um imenso canteiro de obras. Precisamos seguir. Da mesma maneira, é necessária uma radical mudança de mentalidade, com olhar atento para os sinais da mudança climática.
ÁGUAS de maio baixam lentamente deixando ver um incalculável saldo de prejuízos de toda ordem em meio à lama, destruição e os entulhos. As imagens percorrem as mídias, desabrigados olhando fixamente o infinito, não querendo acreditar que o sonho construído por décadas foi impiedosamente levado em poucas horas.
Outro cidadão disse que “deixou de existir”, pois toda a sua documentação pessoal, identidade, cartões bancários foram levados, não consegue sacar as poucas economias, nem comprovar que está “vivo”. Em outra situação, uma senhora em lágrimas cata por entre escombros do que era sua casa, qualquer coisa pessoal que possa salvar e aproveitar.
Empresas, além da invasão da enchente, ainda foram saqueadas pela bandidagem covarde, mercadorias que serão ofertadas nas redes sociais a preços muito baixos. Muito cuidado com isso. Relatos como esses serão descritos por muito tempo nas mídias, livros, revistas, jornais, entrevistas e reportagens de televisão.
NOSSA Província virou um enorme e complexo canteiro de obras improvisadas, tudo sendo feito com um imediatismo eficiente, diga-se, porque é preciso seguir em frente. O Rio Grande não pode e não vai parar. Estradas e pontes que esperam recuperação recebem estruturas provisórias, e na medida do possível, garantem transporte de abastecimento e ajuda humanitária.
Escolas voltam gradativamente a receber alunos e linhas de ônibus intermunicipais são atendidas por rotas alternativas. O Aeroporto Salgado Filho só deve receber voos em setembro e os estádios da dupla Gre-Nal ainda não têm previsão de acomodar jogos. Tudo vai se adaptando às condições do momento.
A volta à normalidade não está sendo fácil, pois também as famílias desabrigadas estão perdendo a paciência, já se registrando atritos nos alojamentos, assim como voluntários estão exaustos, eis que trabalham em condições precárias e nem sempre reconhecidos. O momento exige calma e bom senso.
ESTA tragédia que se abateu sobre o Rio Grande é repetição em escala maior do que já havia acontecido em setembro e novembro do ano passado. Com efeito, a enchente de agora, de proporções épicas e de um prejuízo imensurável, foi precedida por outras e significa um alerta. Negar esta realidade é flertar com a irresponsabilidade, o risco e o perigo de perder mais vidas e destruir os pilares da nossa economia primária.
A prevenção é um trabalho muito maior que se possa imaginar, mas se impõe desde logo para atenuar os efeitos destes desvarios climáticos, que, aliás, têm ocorrido cada vez com maior frequência e intensidade. Ações preventivas e de reconstrução devem levar em consideração aspectos ambientais. Do contrário é dar oportunidade ao caos e possíveis tragédias futuras.
Já passou do tempo de o Brasil ouvir discursos de uma politicagem de proteção ao meio ambiente que na verdade não acontece. As agressões ao nosso maior ativo acontecem em toda parte.
VOZES do Piratini admitem que haviam estudos de alerta sobre o descontrole climático, mas que o governo dava primazia a outras demandas. Faltaram investimentos na prevenção e contenção de enchentes e o Rio Grande paga um preço alto por essa imprevidência, mas que acontece também em todos os entes da Federação.
Os sinais das mudanças climáticas não estão sendo avaliados com a importância que deveriam. Políticos e autoridades só costumam dar prioridade ao meio ambiente nos discursos de palanque. Entre dirigir recursos em ações ambientais, a preferência recai sobre as emendas paroquiais porque desejam captar a visibilidade do eleitor.
Se não houver uma radical mudança de mentalidade, os eventos climáticos apocalípticos continuarão alagando cidades, secas estorricando plantações, incêndios florestais, garimpagem predatória na Amazônia, desertificação e erosão de solos, picos de calor e frio que desafiam a saúde da população. A Natureza está avisando.
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