No Rio Grande, ou é oito ou oitenta

TUDO de novo! Outono se despede como o mais chuvoso de todos os tempos. O Rio Grande está emergindo da mega enchente de maio, mas nem por isso mais aliviado. Depois de uns dias de trégua, os radares meteorológicos, sempre muito precisos, desta vez foram enganados por mais um evento climático tenebroso: estavam previstas chuvas de fracas a moderadas, mas enquanto as linhas deste comentário estão sendo escritas, chove copiosamente, além de descargas elétricas e trovões.  A Defesa Civil alerta que todos os rios dos vales do Taquari, Rio Pardo, Jacuí, Sinos e Caí estão no limite da cota de inundação porque o solo ainda está encharcado. O “El Niño” um dos fatores que influencia esses distúrbios do clima trazendo chuva, está indo embora. Já vai tarde… Por outro lado, volta “La Niña” que ao contrário, traz tempos secos e não está descartada uma estiagem pela frente. No Rio Grande é assim mesmo, ou é oito, ou é oitenta. Ou é chimango ou é maragato. Valha-nos, São Pedro!

EM meio às incertezas, desalojados mantêm a esperança de logo poder voltar para casa, ou que terão um novo lar para dizer de seu e livre de enchentes. Como dito outro dia, há todo um emaranhado técnico e burocrático a ser vencido, como a identificação de uma nova área, serviços de topografia, infraestrutura, projeto das residências e, é claro, os recursos necessários para a implantação. As midiáticas e prometidas subvenções palacianas estão vindo a conta gotas. Uma quarta inundação de menor volume vai fazendo o seu “arrastão” levando o que ainda não tinha sido levado. A atuação preventiva das prefeituras, da Defesa Civil, bombeiros e voluntários monitoraram os rios, hora a hora, e alertaram a população em situação de risco para deixarem seus imóveis a tempo, de tal forma que não se registraram vítimas e os danos foram pontuais. Deslizamentos de encostas, estradas do interior, pontes e bueiros sofreram erosão prejudicando a locomoção e o acesso entre comunidades.

TUTELAR o bem-estar das famílias atingidas pelo infortúnio é obrigação do Estado e os governos de todos os níveis administrativos o fazem com prioridade. Contudo, em paralelo não pode demorar a tomada da iniciativa de serviços de dragagem dos rios, eis que devido ao seu assoreamento qualquer chuva de maior intensidade provocará novas enchentes, como está se vendo. Os rios são públicos, sendo que cabe a União os cursos d’água que abrangem limites de estados e países. Estados são responsáveis pelos rios que nascem e tem curso dentro do seu território. Dragagem, construção de barragens e diques de contenção, preservação da mata ciliar e limpeza ribeirinha são as principais ações para evitar ou diminuir os efeitos desastrosos de novas enchentes, das quais não estamos livres porque podem acontecer a qualquer momento. Tem municípios do Alto Taquari, como Vespasiano Correa, por exemplo, que estão limpando seus arroios, fazendo a parte deles. Parabéns.

MÊS de maio será lembrado pela destruição que causou ao Rio Grande, mas também por notáveis feitos de heroísmo do seu povo e que serão relatados ao longo dos tempos. A devastação da Provincia de São Pedro gerou uma onda de solidariedade às vítimas que percorreu o Brasil em todos os seus recantos. No entanto, esse movimento de irmandade também atraiu a atenção de golpistas, que aproveitaram o momento de sensibilidade para aplicação de golpes. Segundo dados da SOS Golpe, uma plataforma que denuncia patifarias, mais de 25 mil vítimas caíram na tática das falsas doações. Os golpistas usam imagens impactantes de salvamento que foram postadas nas redes sociais e criam “organizações idôneas” de ajuda às vítimas, de “pets”, para obter doações através de chaves PIX. Alguns já foram desmascarados, presos e aguardando julgamento. Desconfie de mensagens urgentes, apelativas, cheias de histórias comoventes e imagens tristes. Procure fazer uma investigação.