Vida longa ao rock’n roll

“EM Brasília, 19 horas”. Sob acordes impactantes da abertura da ópera “O Guarani”, de Carlos Gomes, inicia a Hora do Brasil. Enquanto muitos desligavam seus receptores, iniciava minha peregrinação pelo dial à procura da emissora argentina que diariamente tinha um horário dedicado à banda inglesa The Beatles. Estamos novamente viajando pelo túnel do tempo. Pela metade dos anos 60, as emissoras locais mantinham um musical conservador meio que censor ao rock’n roll, o gênero contestador que ganhava o mundo cultural e artístico. À noite, por determinação legal, as rádios nacionais eram obrigadas a diminuir a potência e isso favorecia o alcance das co-irmãs portenhas porque nos vizinhos não havia essa restrição. Qualquer radinho de pilha sintonizava dezenas de emissoras dos castelhanos. Quem tinha o privilégio de ter televisão na época, preferia ver e ouvir o consagrado marco do jornalismo brasileiro, o “Repórter Esso” que se autodenominava “testemunha ocular da história”.  No Rio Grande do Sul era apresentado pela TV Piratini.

DE volta ao rock’n roll, minha curiosidade começaria bem antes. Em 30 de abril de 1957, meus pais compraram um vinil de Bill Haley e seus Cometas, que guardo com muito cuidado, e a informação consta na contracapa com rubrica do pai, Adolfo Werner. Acho que queriam manter-se atualizados e saber como era esse “tal de Roque Enrow”, como diria mais tarde a roqueira N° Um do Brasil, Rita Lee. O novo gênero musical que empolgava os adolescentes ganharia espaço e venceria resistências com a chegada da Jovem Guarda, sob comando de Roberto e Erasmo Carlos, Wanderléa, Renato & Seus Blue Caps, Incríveis, Fevers e tantos outros. O repertório trazia versões de músicas inglesas que estavam no topo das paradas no exterior e composições próprias. O mercado fonográfico foi invadido pelas vitrolinhas portáteis que ajudaram a popularizar o rock animando as festinhas de garagem e que não tinham hora para acontecer e acabar. Muitos laços de amizades se formaram e namoros que viraram casamento nessas jovens tardes de domingo. Belos tempos, belos dias.

NÃO foi apenas um modismo. O tempo e a obstinação da juventude pelo rock’n roll consolidou-o como o movimento de maior influência na música, na moda, nos costumes, na arte, na cultura, nas atitudes e até na política. Foi de uma repercussão duradoura. A guitarra, um dos símbolos icônicos do rock, tornou-se o instrumento de lendas consagradas como Jimi Hendrix, Eric Clapton e Eddie Van Halen entre outros. Rotulada como “música do diabo” aos poucos foi ganhando a simpatia de grandes maestros e regentes que passaram a gravar sucessos do rock em suas orquestras. O diabo afinal não era lá essas coisas como pintavam. O gênero diversificou-se, abrangendo hoje o rock clássico, o rock romântico, o hard rock, o metal rock, o pop rock, o folk rock, o country rock, o disco rock, o rock progressivo e muito mais. Bandas e artistas de todos esses sub gêneros se tornaram ícones culturais e suas músicas continuam a ressoar também em gerações posteriores. Com efeito, hoje é possível ver avô e neto curtindo junto as apresentações dos “dinossauros” do rock.

AMANHÃ, 13 de julho foi o dia escolhido para celebrar o Dia Mundial do Rock. Além do Brasil, é também lembrado no Reino Unido, Argentina, Estados Unidos, Chile e Portugal, embora não seja uma lista oficial. A data remonta ao ano de 1985, quando da realização do festival Live Aid, iniciativa do músico e ativista político Bob Geldof, com intuito de arrecadar fundos para alimentar o povo da Etiópia. Foi realizado simultaneamente em Londres e Filadélfia reunindo uma verdadeira constelação de astros, bandas e cantores consagrados do rock. A mobilização contagiou Phil Collins, vocalista do Genesis, que sugeriu na apresentação que o dia ficasse consagrado como Dia Mundial do Rock, aplaudido pelo público e adotado pelos organizadores e demais artistas. E como vai o rock’n roll hoje? Vai bem, obrigado. Quem um dia foi inoculado pelo rock, felizmente isso não tem cura. Vai ser rockeiro até o fim dos dias. Vida longa ao rock’n roll!