Após uma música clássica, Belchior adormeceu para sempre

“Quero desejar, antes do fim, pra mim e os meus amigos, muito amor e tudo mais; que fiquem sempre jovens e tenham as mãos limpas e aprendam o delírio com coisas reais”. Os próprios versos de Belchior agora servem de consolo para os fãs que perderam hoje seu ídolo.  Belchior, discreto em sua vida, viveu cerca de quatro anos em Santa Cruz. Ninguém, além de amigos próximos, sabia que ele morava em uma casa no Bairro Santo Inácio.

De acordo com Dogival Duarte, amigo do cantor, Belchior procurava sossego e encontrou, em Santa Cruz do Sul, o lugar ideal para compor em silêncio. Antes de morar no Bairro Santo Inácio, ainda morou na casa de dois amigos da cidade, inclusive Duarte. Pouco caminhava, pouco cantava, mas continuava a escrever. Com uma vida isolada, as paredes se tornaram sua platéia.

Análise preliminar identifica que ele morreu de rompimento de artéria. Na noite deste sábado, ele tomou um banho quente e sentou em seu sofá. Era lá que ele descansava para adquirir inspiração. De acordo com o delegado Luciano Menezes, que conversou com a esposa do compositor, ele colocou uma música clássica para tocar e escreveu um pouco de sua nova obra que pretendia lançar hora ou outra. A vida dele era um mistério.

Sua esposa, entre às 23h e 23h30min, cobriu Belchior. De madrugada, ela tentou o acordar. Ele não respondeu. Tentou outra vez e nada. Belchior partiu no mesmo local onde passou os últimos meses escrevendo e escutando música clássica. Reservado e cheio de mistérios, sua vida chegou ao fim em terras santa-cruzenses. Mas, seus versos e sua melodia continuam por aí, no Ceará, no Rio Grande e por todo o país.

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