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Irmãos de Santa Cruz conquistam o Rio Grande do Sul com a paixão pela cultura gaúcha

Publicado em: 18 de setembro de 2023 às 13:54 Atualizado em: 17 de maio de 2024 às 15:25
  • Por
    Nícolas da Silva
  • Fonte
    Portal Arauto
  • Foto: Milena Mueller/Portal Arauto
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    Amanda Kothe Bartz e Gabriel Kothe Bartz participam de atividades no CTG Lanceiros desde os seis e quatro anos de idade, respectivamente

    Nesta quarta-feira, 20 de setembro, o Rio Grande do Sul celebra o início da Revolução Farroupilha e comemora o Dia do Gaúcho, relembrando uma página importante da história do estado, marcada pela luta por liberdade e pelos ideais de um povo. Neste contexto, a história dos irmãos Amanda e Gabriel, naturais de Santa Cruz do Sul, ilustra um exemplo vivo da rica cultura gaúcha, enraizada desde a infância.

    Amanda Kothe Bartz, aos 15 anos, é aluna do 9º ano na Escola Goiás e detém o título de 1ª Prenda Juvenil do Centro de Tradições Gaúchas (CTG) Lanceiros de Santa Cruz. Além disso, em 2021/2022, conquistou o título de 2ª Prenda Mirim do Rio Grande do Sul. Seu irmão, Gabriel Kothe Bartz, com 13 anos e estudante do 8º ano na mesma escola, faz parte do Departamento Jovem do CTG Lanceiros de Santa Cruz e ostenta o título de 2º Piá do Rio Grande do Sul no período de 2022/2023. Com isso, Santa Cruz é a primeira cidade a ter dois irmãos premiados no mesmo ano na 5ª Região Tradicionalista, que engloba 15 municípios.

    O amor pela cultura gaúcha nasceu cedo na vida dos irmãos. “Minha família não estava presente no CTG. Comecei por conta de uma amiga que frequentava o Lanceiros, e ela dançava na invernada pré-mirim do CTG Lanceiros de Santa Cruz. Fui em uma das noites de ensaio para ver como funcionava, gostei de cara e logo comecei a dançar. Isso foi aos seis anos de idade“, relembra Amanda.

    Gabriel, por sua vez, recorda seus primeiros passos: “Eu comecei com quatro anos de idade, e no início eu não gostava. Mesmo eu frequentando os ensaios, eu não sentia o gosto pela tradição gaúcha. Eu lembro até que preferia ficar na minha avó do que ir aos ensaios com a minha irmã. Pouco tempo depois, eu acompanhei uma apresentação, durante um baile, da invernada pré-mirim que minha irmã participava, e posso dizer que foi neste momento que eu me apaixonei pela tradição gaúcha e nunca mais deixei de ir aos ensaios e participar de todas as atividades culturais do CTG“, conta o jovem.

    Os irmãos enfrentaram um longo caminho para alcançar seus títulos em nível estadual. “O concurso estadual é o maior concurso cultural de CTGs que existe no Rio Grande do Sul. A fase interna desse concurso já inicia dentro do próprio CTG. O passo seguinte seguinte é a fase regional, com disputas entre os CTGs da região tradicionalista. No terceiro ano, aí sim é a disputa entre todas as 30 regiões. Então, são três anos de muita preparação, muito estudo e dedicação para conseguir chegar nessa fase estadual“, salienta Amanda.

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    Pra nós é um sonho realizado. No início, a gente sequer sabia da existência dessa fase, a gente participava só do interno e não sabia que ia adiante. Quando a coordenação da 5ª RT nos apresentou essas outras etapas, nós colocamos como um objetivo real que queríamos alcançar. Então poder realizar esse objetivo é muito gratificante pra nós, principalmente por poder representar a 5ª RT por todo o Rio Grande do Sul“, destaca Gabriel.

    No entanto, o ano em que Amanda concorreu trouxe um desafio adicional devido à pandemia de Covid-19, que alterou o formato do concurso. “A ciranda não ocorreu de forma normal por causa da pandemia. O que aconteceu foi uma prova escrita com 50 questões, que envolvia conhecimento de geografia e história do Rio Grande do Sul, tradição, tradicionalismo e folclore. Dessas 50 questões, eu acertei 48“, relembra, orgulhosa.

    A competição de Gabriel, por outro lado, manteve o formato tradicional:No ano em que disputei, essa prova com 50 questões acabou caindo na fase regional, então tive a sorte de ainda conseguir ter a disputa estadual normalmente, sem restrições por causa da pandemia“.

    As provas do concurso incluem uma ampla gama de conhecimento. “Além da prova com 50 questões, nós precisamos fazer uma pesquisa. Eu, como prenda mirim na época, fiz uma pesquisa sobre brinquedos e brincadeiras. Essa pesquisa envolve pessoas da nossa região, e precisamos apresentar um relatório, com fotos e comprovação de eventos que a gente participa. Também temos a mostra folclórica e a prova artística. Eu acabei apresentando um brinquedo chamado pandorga“, comenta Amanda.

    A minha pesquisa foi focada em brinquedos e brincadeiras em dias de chuva. Aí tem a parte escrita, oral e artística também. E na minha, ao invés da mostra folclórica, tinha a apresentação campeira. Para os piás o desafio é fazer o chimarrão, contar a origem e história dele e entregar aos avaliadores para provar“, conta Gabriel. O jovem explica que também precisou encilhar um cavalete e laçar vaca parada. Os pequenos não encilham e laçam animais por questão de segurança. 

    Gerenciar as atividades do CTG enquanto mantêm um alto desempenho escolar é um desafio para os irmãos, mas eles concordam que vale a pena. “É complicado conciliar tudo. Uns meses antes do concurso a gente para de dançar para dedicar as noites exclusivamente aos estudos, porque é muita coisa para estudar, uma bibliografia enorme para conhecer, e a gente nunca sabe o que vai cair nas provas, então precisamos estudar tudo mesmo. Quanto à escola mesmo a gente consegue conciliar, embora fique bastante carregado de tarefas. Mas, no fim das contas, vale a pena porque é algo que a gente gosta muito de fazer“, explica Amanda. Ambos enfatizam que o concurso vai muito além da aparência e da dança, exigindo dedicação e estudo ao longo de três anos de preparação.

    Além dos benefícios acadêmicos, Amanda destaca como o CTG os preparou para a vida: “Tudo que aprendi, a questão de falar em público, de comportamento, foi tudo graças aos ensinamentos colhidos dentro do CTG. Foi algo muito positivo que nos aconteceu. Inclusive muitas matérias na escola eu tinha facilidade por muitas questões que eu já havia aprendido na cultura gaúcha. E também de conhecer pessoas diferentes. Conhecemos muitas cidades do Rio Grande do Sul por causa dos concursos, e isso certamente nos deu uma bagagem cultural muito importante“, diz.

    Além de suas conquistas no tradicionalismo, os irmãos têm uma forte conexão com a música. Amanda, que toca violão e canta, compartilha sua paixão: “A música sempre foi algo muito forte pra mim. Na Igreja São José tinha o coral e também um projeto de violão. Comecei com o violão lá e hoje consigo tocar muito bem o instrumento e sou apaixonada por violão e por música. Nós temos um grupo agora na Igreja São José. Meu irmão está presente, assim como uma amiga. Eu toco violão e canto.” Gabriel, por sua vez, aprendeu a tocar gaita e também faz parte do coral na igreja, junto com sua irmã. Ele destaca como as habilidades desenvolvidas no CTG o ajudaram na escola, especialmente em apresentações públicas.

    Além dos títulos estaduais, os irmãos se orgulham de outros troféus conquistados ao longo de sua jornada. Amanda recorda com carinho de um título na modalidade de declamação no Premiart, na primeira edição do evento. Gabriel tem memórias especiais de um segundo lugar conquistado na modalidade mirim de dança de salão durante o Enartinho, que ocorre no mesmo período que o Enart (Encontro de Artes e Tradição Gaúcha). “Marcou muito, éramos uns pitoquinhos de gente, bem pequeninhos mesmo“, lembra Gabriel.

    Quando questionados sobre o futuro, Amanda e Gabriel têm planos sólidos de continuar sua trajetória no tradicionalismo gaúcho. Amanda ressalta: “Com certeza é nosso plano continuar, porque é uma coisa que a gente realmente gosta de fazer, e não necessariamente só concorrendo. A gente pode concorrer ainda por muitos anos, porque até com 27 anos pode concorrer como prenda adulta. Mas dançando também nas invernadas, porque há outras modalidades e depois, futuramente, levar os filhos pra crescer dentro do movimento tradicionalista, porque é uma paixão, é algo que a gente ama fazer e com certeza eu não planejo largar“.

    Gabriel compartilha a mesma visão de futuro: “Eu também não pretendo deixar o movimento. Quando eu olhei a invernada pré-mirim da Amanda dançar, eu realmente me apaixonei, então com certeza acredito que vou levar essa paixão. Levar os filhos pra viver, pra introduzir nesse movimento tradicionalista, porque é uma coisa muito boa, que desenvolve os jovens. Crianças pequenininhas tem melhor desenvoltura quando estão no movimento tradicionalista“, afirma.

    A mensagem que os irmãos deixam para todos é uma de perseverança e determinação. “É nunca desistir do seu sonho. Porque tudo que a gente persiste, a gente consegue e alcança. E o tradicionalismo me ajudou em muitas coisas na minha vida, eu vou levar pra sempre. Essa faixa que eu conquistei era um dos meus maiores sonhos, e hoje eu posso dizer que eu consegui realizar“, pontua Amanda. .

    Gabriel complementa a irmã. “Se você tem um objetivo, tem que correr atrás. E isso não somente dentro do tradicionalismo, mas em todas as áreas. Foi um sonho que a gente batalhou muito pra conseguir, e ter conquistado é muito gratificante“, finaliza o tradicionalista. Os irmãos personificam os valores do tradicionalismo gaúcho, honrando suas raízes e inspirando gerações futuras a preservar e celebrar a herança cultural do Rio Grande do Sul. 

    Confira o conteúdo em vídeo: