Atividade foi realizada nesta semana, na Unisc, e tratou dos efeitos de substâncias extraídas da planta sobre diversas doenças
Ainda que já comprovado cientificamente e praticado no país, o uso medicinal da cannabis divide opiniões e, para parte da população, é visto de forma negativa, sendo associado ao estigma histórico do uso recreativo da maconha. Essa discussão ganhou espaço na manhã da quarta-feira (23), em Santa Cruz do Sul, durante palestra “Cadeia produtiva da Cannabis: da semente ao paciente”, ministrada pelo farmacêutico da Associação de Apoio à Pesquisa e a Pacientes de Cannabis Medicinal (Apepi), João Gabriel Gouvêa da Silva. A atividade fez parte da 16ª Reunião Técnica Estadual sobre Plantas Bioativas e do 2º Congresso Sul-Brasileiro de Plantas Bioativas, promovidos pela Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) e Emater/RS-Ascar, entre a terça e sexta-feira, dias 22 a 25.
Conforme João, os óleos artesanais a partir de substâncias extraídas da cannabis têm o potencial de atender diversas doenças. “Hoje o que está mais consolidado na literatura médica é a utilização do cannabidiol ou CBD [substância derivada da planta] para o tratamento das epilepsias. O que mais sem tem possibilidade é na ação contra as epilepsias refratárias, que são resistentes aos medicamentos já presentes no mercado. Então, muitas vezes, se faz o uso compassivo, sendo essa a última alternativa terapêutica viável”, esclareceu.
Além disso, continuou ele, esses óleos conseguem tratar neuropatias, síndromes do sistema imunológico e doenças inflamatórias em diversas regiões do organismo, também patologias mais complexas, como Alzheimer e Parkinson, bem como diversos tipos de câncer. “Isso não quer dizer que trabalhe necessariamente na cura do câncer, mas sim, no manejo dos sintomas adversos da quimioterapia, como enjoos, falta de apetite e dores. O THC [Tetrahidrocanabinol, outra substância extraída da cannabis] é muito utilizada no tratamento de dores, então, consegue auxiliar muito esses pacientes”, frisou.
Conforme o palestrante, tamanhos benefícios fazem com que o uso medicinal da cannabis seja descredibilizado. “Se ela serve pra tudo, parece que não é verdade”, brincou.
Preconceito
Para João, o preconceito em relação ao tema não está tão associado à utilização medicinal da cannabis, mas sim, ao seu uso recreativo. “A maior parte da população é favorável quando utilizado para propósitos medicinais. O grande problema é justamente a falta de informação técnica. Alguns prescritores têm preconceito sobre o tema, porque boa parte dos ativistas trazem a perspectiva polarizada de que a cannabis serve para tudo. Mas utilizamos essa frase que explica muito: a cannabis pode não servir para tudo, mas pode servir para todos. Inclusive, em alguns países já se considera o uso do cannabidiol como suplemento diário”, arrematou.
A Apepi
A Apepi é uma associação sem fins lucrativos que visa o cultivo associativo para garantir o acesso à saúde aos produtos à base de cannabis. Dessa forma, tem autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para o plantio da cannabis, bem como para extrair, fabricar e vender produtos para uso medicinal.
Os óleos artesanais comercializados pela Apepi à base de substancias extraídas da planta custam R$ 180. Mas para ter acesso a esses medicamentos, conforme João, o paciente precisa apresentar prescrições de profissionais autorizados pela Portaria Nº 344, sendo eles médicos, médicos veterinários e dentistas. Também, se necessário, o paciente tem acesso a acompanhamento continuado com farmacêuticos e médicos, assim como os prescritores têm acesso a todas as informações e aos laudos de qualidade do produto, dando segurança na hora de indicar esta terapia.
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