Errar se tornou corriqueiro e a banalização do aceitar por aceitar o erro tem levado a humanidade para um caminho complicado
O ser humano tem várias “manias” e, entre elas, talvez a mais complicada e difícil de vencer seja pedir a agradecer. Durante o ano vivenciamos diversas datas e momentos que sempre acabam despertando aquela vontade de pedir algo a uma “força superior” quando, na verdade, o grande exercício seria agradecer.
Como tudo no mundo atual, tecnológico e por muito artificial, a essas alturas os neurônios da crítica, em suas múltiplas sinapses e conexões cerebrais, já devem ter vociferado inúmeras justificativas contrárias à fala inicial.
Várias questões devem ter surgido e entre elas não tenho dúvidas que algumas se colocaram da seguinte forma:
É possível agradecer a morte de alguém a quem sempre amamos?
É possível agradecer o término de um relacionamento, uma traição pessoal ou profissional?
Como agradecer por algo que acabou com a vida de muitas pessoas em poucos minutos?
Como agradecer ter perdido todos os bens construídos ao longo de uma vida de trabalho árduo?
Concordo que a resposta não é fácil e nem eu quero lhe convencer que me sinto feliz com qualquer uma das situações acima colocadas. Talvez, e digo apenas talvez, esse seja o ponto de partida da reflexão pois não me proponho a discutir o impacto dos acontecimentos na vida de ninguém e apenas provocar a, mesmo na “desgraça”, termos a serenidade em conseguir avaliar e entender o porquê do acontecido.
Muitas das situações e ou acontecimentos desfavoráveis pelos quais passamos poderiam ser evitados ou postergados caso tivéssemos tranquilidade em usar a balança dos valores pessoais, forças de caráter e virtudes como forma de verificar o que realmente é melhor para todos e não apenas para um.
Imagino que seja cultural esse processo pois muito queremos mas muito pouco fazemos, por muitas vezes e, assim sendo, acabamos por terceirizar os acontecimentos. Quando escolhemos apenas pedir em lugar a agradecer não nos permitimos reconhecer o nosso papel como protagonista do acerto e também do erro.
Errar se tornou corriqueiro e a banalização do aceitar por aceitar o erro tem levado a humanidade para um caminho complicado. Dias desses, andando por aí de carro, meu filho, ao perder um joguinho no seu smartphone, me disse: “ perdi, errei….mas como vocês dizem, é errando que a gente aprende”.
Confesso que me assustei com a fala e no mesmo momento coloquei que não adiantava apenas falar e que era preciso refletir e analisar a razão do erro, caso contrário ele não traria aprendizado e se repetiria .
Natal chegando, ele mesmo nos seus 9 aceitando a magia do momento, na sequência de nossa conversa, agora no elevador, colocou que esse ano não pediria presentes ao Noel pois o Noel sabe o que faz. Coloquei que era interessante isso pois o importante era ser lembrado e isso já era motivo para agradecer tudo que ocorresse.
Talvez daí surgiram essas minhas reflexões. Agradeci a educação que recebemos e estamos conseguindo retransmitir. Agradeci estar nesse plano pois um dos que me transmitiu valores não mais habita esse Oriente e por aí vai. Poderia reclamar a agradecer, pedir que não me leve outros pois quero todos próximos de mim entre tantas outras coisas.
Mudanças requerem constância e por isso talvez essa “mania” de pedir demore para dar lugar a agradecer. Contudo, sempre existe um começo e eu lhe sugiro que hoje, você pare 5 minutos desse seu mundo corrido, pense em algo extremamente doloroso que tenha lhe acontecido, faça a reflexão sobre o que isso lhe fez aprender e agradeça sem culpa e sem se sentir culpado pois não tenho dúvida que ser grato ao aprendizado é uma grande oportunidade de tornar o mundo melhor.
Notícias relacionadas
Re (começar)
O maior aprendizado, entretanto, foi de que se queremos um mundo melhor precisamos fazer a nossa parte. Basta querer
Por Daniel Cruz
É preciso (re)aprender
Se a vida fosse um constante subir não haveria oportunidade de aprendermos a levantar após cair. Não haveria a oportunidade de aprendermos a estender a mão e ajudar a quem caiu. Não haveria oportunidade de pedir desculpa, de reconhecer erros e glorificar acertos. Não haveria oportunidade de dar um novo significado a algo outrora aprendido.
Por Daniel Cruz
Fazer diferente, fazendo a diferença
O momento é a oportunidade para mostrarmos que somos humanos de coração e para aprendermos que, como humanos, vamos falhar, pois o instinto da sobrevivência sempre existirá.
Por Daniel Cruz
Meio século?
Nessa semana a natureza conversou conosco de uma maneira diferente, pois talvez estejamos insistindo em não entender suas dores. Semana que antecede meu aniversário; meio século, 50 anos e por aí vai nas diferentes formas de expressar a marca bem…