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“Ainda estou aqui” vai além da tortura, é sobre amor, resistência e superação, atesta doutor em Ciências Políticas

Publicado em: 27 de novembro de 2024 às 08:14
  • Por
    Portal Arauto
  • Colaboração
    NÍCOLAS SILVA E LEANDRO PORTO
  • FILME AINDA ESTOU AQUI, EM CARTAZ NOS CINEMAS, É SUCESSO DE PÚBLICO E CRÍTICA | PAOLA SEVERO
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    Filme nacional que é sucesso de bilheteria e aposta para o Oscar 2025 repercute, sendo uma aula de história

    Um sucesso estrondoso no cinema nacional e internacional e que pode render ao Brasil o Oscar. O filme “Ainda estou aqui” é uma adaptação da autobiografia homônima de Marcelo Rubens Paiva, que conta o drama da própria família durante a Ditadura Militar. Seu pai, o ex-deputado Rubens Paiva, foi capturado dentro de casa e nunca mais retornou. Sua mãe, Eunice, protagonizada por Fernanda Torres, foi levada presa com uma de suas filhas e depois de solta, teve que lidar com o desaparecimento do marido, a criação dos filhos, o sustento, a justiça. O programa Direto ao Ponto, da Arauto News, entrevistou o doutor em Ciências Políticas e professor na Unisc, João Pedro Schmidt, que se une à repercussão dessa obra.

    João Pedro assistiu ao filme no fim de semana e destaca: retrata um período duro, uma história triste, “mas de uma forma que saímos emocionados. Puxa vida, essa mulher, a Eunice Paiva, que resistência, que capacidade, e como os filhos conseguiram superar uma história familiar tão complicada”. Afinal, em certo dia, na década de 70, em plena ditadura, militares em sua casa, levaram Rubens Paiva e ele nunca mais voltou.

    O filme vai além da tortura. É de amor, de resistência, de grande capacidade de superação. Porque nos anos 70, na época de ditadura, era um período muito duro. Não temos um número exato de mortos e desaparecidos. Pode ser que fique entre 1 mil e 1,5 mil”, acredita. Só não foi mais dura, talvez, que na Argentina, com 30 mil mortos, e no Chile também, acrescenta o professor.

    João Pedro lembra, na vivência em Boa Vista, nos anos 70, que tinham que obedecer as autoridades, mas pouco se repercutia sobre a ditadura. “Na família não se falava sobre isso, sobre o mundo da política. Mas quando entrei na Filosofia, em Porto Alegre, percebi a realidade dos conflitos”, confessa.

    E filmes como esse, ele recomenda, porque conta uma história verídica e bem contada, adaptada de um livro, do filho de Rubens. Em tempos de internet, reflete o cientista político, para ler um livro de 200 páginas é preciso paciência, num tempo que as pessoas querem rapidez. E o cinema dialoga num ritmo mais rápido. “E quando se une a capacidade de fazer um belo filme com uma história das mais relevantes, o cinema é uma maneira pelas quais as pessoas conhecem o mundo. Cumpre também o papel de mostrar a nossa história para nós mesmos e para outros países, um pouco do que é o Brasil e neste caso, um pouco do que foi a nossa história”, acrescentou, e com a possibilidade de receber um Oscar, ganha mais notoriedade.

    E quem assiste, convida João Pedro, acaba tendo a curiosidade em conhecer mais sobre o Rubens Paiva e a Eunice. “Ele não era um revolucionário típico. Ele foi um deputado cassado pela ditadura militar, ficou um período fora e voltou. Ele distribuía cartas, não estava envolvido com armas, nada disso. Era um engenheiro que mantinha contato com perseguidos políticos distribuindo cartas. O que se estabeleceu nas ditaduras em geral foi uma falta de limites”, aponta.

    Ainda, para João Pedro, o filme vem em boa hora porque dialoga com o presente. “Pela primeira vez na história brasileira temos o indiciamento pela Polícia Federal de vários generais suspeitos de terem participado da tentativa de golpe de 2022, coisa que não aconteceu na década de 70”, compara.