Colunista

Luciano Almeida

Bastidores do futebol

O fim de uma relação

Publicado em: 04 de novembro de 2024 às 11:46
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Se o fim de uma relação, qualquer relação, nunca é prazeroso, a forma escolhida pode provocar ainda mais dor, trauma e incontáveis estragos

A banda Legião Urbana já cantou e ensinou que “o pra sempre, sempre acaba”. Porque sim, por menos romântico e mais pragmático que seja, relações acabam. São ciclos com início e com final. E por dolorido que seja todo fim de relação e de ciclo, será tanto mais sofrido se não souber ser encarado com maturidade e serenidade. É assim na vida. E é exatamente assim no futebol. Mas qual seria a melhor forma de colocar o ponto final em uma história que nada mais tem a dar?

Normalmente há dois jeitos. No primeiro (e mais recomendável) deles, um olha nos olhos do outro, trata com respeito e consideração todos os dias vividos, encara e reconhece que a relação já não pode mais fazer feliz, diz adeus e cada um segue sua vida. O outro modo (que funciona, mas é mais traumático) é um dos dois, ao perceber que o ciclo se encerrou, mas não ter coragem de aceitar ou enfrentar, provocar no outro a iniciativa do fim. Se tornar tanto pior, cometer mais erros, se desajustar, ser irresponsável e até cruel, se comportar ainda pior de tal forma que por insustentável seguir no mesmo relacionamento, o outro tome a iniciativa. Funciona. Mas esta é a forma normalmente mais traumática e que provoca mais estragos.

E esta parece exatamente a forma escolhida pelo técnico Renato Portaluppi para encerrar seu ciclo no comando técnico do Grêmio. Só pode ser isso, não há outra explicação. Que a relação se desgastou a ponto de qualquer um, com mediano discernimento e maturidade, compreender que não dá mais, parece não haver dúvidas. Mas neste exato momento, a cada jogo aumentam os indícios de que o treinador resiste em admitir e reconhecer o fim da linha. Ou de tomar a iniciativa.

Como menino birrento, parece propositalmente tomar as decisões mais equivocadas, mais controversas, mais polêmicas possíveis. A cada entrevista coletiva, se torna mais deselegante, menos diplomático e menos preocupado com o bom ambiente. Seu time é mais e mais confuso, incerto e desorganizado. Jogadores não têm sequência. O que antes sempre foi sagrado, o cuidado na sua relação com seu grupo, agora já parece colocado no meio do fogo cruzado.

O treinador parece cansado e/ou acuado pela cobrança e pelas críticas. Seu trabalho e seus resultados indicam que não há mais o que entregar, que o ciclo chegou ao fim. Ele mesmo parece saber disso. Mas ao invés de reconhecer e agir com maturidade, parece preferir provocar o conflito e induzir que o Clube tome a iniciativa. É traumático e é arriscado. E até para a relação afetiva que sempre mantiveram, é perigoso. Mas neste momento, é como parece estar acontecendo. Se o fim de uma relação, qualquer relação, nunca é prazeroso, a forma escolhida pode provocar ainda mais dor, trauma e incontáveis estragos.