Colunista

Moacir Leopoldo Haeser

Sobre as ondas

Publicado em: 15 de outubro de 2024 às 07:43
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A ornamentação para a Oktoberfest deste ano causou grande surpresa com a substituição das cores vivas da bandeira alemã pelo azul

Uma das mais belas valsas gravadas em minha memória, executada por meu pai, meu tio e outro parceiro, com seus violinos, na Orquestra Jazz e Típica Guarany, foi Sobre as Ondas.

No coro do Ginásio Medianeira, em Candelária, tive a oportunidade de cantar a magnífica canção do compositor mexicano, Juventino Rosas, que ganhou o mundo.

Seus belos acordes parecem seguir a ondulação do mar no incessante chegar das ondas à beira da praia, trazendo barcos do velho mundo.

Num desses barcos os antepassados de minha avó, Amália Würdig. Em sua chácara ao lado da cidade, fornecia hortaliças para o Hospital Santa Cruz.

Quis a fatalidade que seu marido, Frederico Starck, ao construir uma vala para uma roda d’água, morresse soterrado. Viúva e grávida, minha avó vendeu a chácara para as freiras e foi morar em Candelária, já casada com José Haeser, da região de Alto Cerro Alegre, de quem descendemos.

A miséria e as dificuldades, numa Europa emergente de repetidas guerras, trouxe da Alemanha para o Brasil, milhares de imigrantes.

Em 1852 embarcou no navio Louise Emilie, com destino ao Brasil, a família de Johann Heinrich Karl Wächter, de quem descende minha esposa.

O naufrágio na costa da Inglaterra, deixou 38 mortos e apenas 34 sobreviventes. Auxiliados pela população com materiais e dinheiro, a maioria prosseguiu a viagem. No naufrágio faleceu a esposa e três filhas de Johann, sobrevivendo ele e o filho Augusto, do qual não se teve mais notícia. No novo mundo constituiu família gerando grande descendência.

Na sepultura de meu bisavô materno, Jacob Jensen, de Neukirchen, circunscrição de Tondern, Schleswig, Dinamarca, há uma âncora. Sempre se pensou que indicasse ter sido marinheiro. No entanto, descobri em vários outros antigos cemitérios, tratar-se de indicação de ter sido imigrante.

No cemitério de Campo Bom está a arca de madeira que trouxe em 1859 os pertences de minha bisavó, Maria Margarida Engelman, de Bergenhausen, Alemanha.

A primeira vez que vi o mar foi na viagem de conclusão do ginásio, já com 16 anos. Foi amor à primeira vista. À beira da praia praticamente criamos nossos filhos.

Quando observamos o mar é possível notar dois tipos diferentes de ondas: as ondulações nos locais mais distantes da praia e a arrebentação das ondas próximas à orla. Perturbada a superfície pela ação do vento, uma onda não transporta matéria, apenas energia.

Já nas transmissões de rádio falamos em ondas médias e ondas curtas.

No mundo subatômico, invisível aos nossos olhos, pelo avanço da física quântica, descobriu-se que uma partícula é um pacote de ondas. Na experiência da dupla fenda, quando se passa a luz através de dois orifícios paralelos de um obstáculo, as ondas duplicadas se reencontram do outro lado e interferem entre si.

Produzindo um padrão de interferência semelhante ao das ondas na água, a física quântica tem aplicação em toda forma de tecnologia que envolva chips ou algum tipo de circuito muito pequeno, como celulares, computadores, ressonância magnética, painéis solares, leitores ópticos, etc.

A ornamentação da Marechal Floriano para a Oktoberfest deste ano, em Santa Cruz do Sul, causou grande surpresa. A substituição das tradicionais cores vivas da bandeira alemã pelo azul só podia ser coisa de algum gremista!

Bastou, no entanto, abrir o desfile com a réplica de um barco, navegando pela avenida sob as ondas dos enfeites azuis, balançados pelo vento, para vir ao imaginário dos descendentes a bravura dos imigrantes singrando as ondas dos mares da esperança rumo ao desconhecido.

Belíssimo desfile. Recorde de público. A Oktoberfest já é um sucesso!