Serão escolhidos os prefeitos de 5.568 municípios. No entanto parece que teremos apenas uma eleição: para o cargo de prefeito de São Paulo
Quando eu era criança havia uma brincadeira tradicional em festas de aniversário e encontros de família: a dança das cadeiras. Era formado um círculo de cadeiras, com o assento voltado para fora, com uma a menos do que o grupo de participantes. Escolhida uma música, deveriam os candidatos dançar ao redor das cadeiras.
O responsável pela música, sem olhar para o salão, deveria repentinamente cortar o som, momento em que todos deveriam sentar-se. Evidentemente um deveria sobrar e retirar-se, pois havia uma cadeira a menos.
Retirada uma cadeira, prosseguia a música, até nova parada, e assim sucessivamente. Por fim sobrariam apenas dois candidatos para uma cadeira, sagrando-se vencedor o que conseguisse sentar-se quando a música parasse.
Brincadeira sadia praticada por jovens e adultos.
Lembrei-me disso pois agora em jogo uma cadeira em que muitos querem sentar-se: a de prefeito.
Eu sempre disse que jamais aceitaria um cargo desses. É o lugar que se está mais próximo da porta da cadeia. Também pode ter bloqueado seu patrimônio, mesmo por atos de outrem, como ordenador de despesas.
Pelo menos ERA assim.
Nas eleições de 6 de outubro serão escolhidos os prefeitos de 5.568 municípios e milhares de vereadores, muitos cuja arrecadação não é suficiente nem para custar a máquina pública.
No entanto parece que teremos apenas uma eleição no Brasil: para o cargo de prefeito de São Paulo.
O universo midiático através das diferentes plataformas –jornais, revistas, televisão, rádio e internet – tem como ponto principal, a preencher largos espaços de informação, a eleição paulista.
A reeleição do atual prefeito, Ricardo Nunes, do Movimento Democrático Brasileiro (MDB), com o apoio de outros grandes partidos, parecia encaminhada, apenas desafiada por Guilherme Boulos, do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL). O apresentador Datena, que já passou por 11 partidos, permanecendo longo tempo no Partido dos Trabalhadores (PT), surge agora como candidato do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), mas com pouco cacife político. Existem outros candidatos com menor expressão.
A novidade, que fez balançar a tranquilidade da campanha foi o empresário Pablo Marçal, do Partido Renovador Trabalhista Brasileiro (PRTB). Comportando-se de forma provocativa e desafiadora, pesquisou e atacou as fraquezas de cada um dos adversários. Banana, assediador de mulheres e cheirador de açúcar, foram espetadas mortais nos outros candidatos, a quem ameaçava com uma carteira de trabalho.
O debate político – prometo isso, prometo aquilo – repetido de forma cansativa e monótona em vários locais e mídias, acabou se transformado em verdadeira arena de gladiadores, com socos e empurrões.
O mais grave foi a agressão a Pablo Marçal, pelo candidato Datena, com o uso de uma cadeira, após diversas provocações. Sua exclusão do debate coincidiu com a ida de Marçal para o hospital, de ambulância, com máscara de oxigênio, em pantomina que não pegou muito bem entre os eleitores.
Quem não consegue sentar na cadeira cai fora, na saudável brincadeira das crianças… e também nas urnas. Em Vera Cruz a cadeira já tem dono, com candidato único. Vamos ver nos demais municípios da região…
Sentar antecipadamente na cadeira para fotos, antes da eleição, dá azar e já derrotou o então senador Fernando Henrique Cardoso, que concorreu à prefeitura pelo PMDB, em 1985. De forma jocosa seu adversário, Jânio Quadros, prefeito eleito, borrifou a cadeira com inseticida, antes de ocupá-la, “porque nádegas indevidas a usaram”.
Para quem já elegeu o rinoceronte Cacareco, vereador com cem mil votos, e o palhaço Tiririca, com um milhão e trezentos mil votos, o deputado federal mais votado do País, vamos ver agora qual o efeito no eleitorado paulista de “sentar a cadeira” no adversário…
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