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No clima olímpico, Bolívar relembra Munique, em 1972

Publicado em: 30 de julho de 2024 às 12:09
BOLÍVAR GUARDA COM CARINHO A CAMISA DA SELEÇÃO QUE JOGOU CONTRA A HUNGRIA | ARQUIVO ARAUTO
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Santa-cruzense jogou na Seleção Brasileira de Futebol aos 17 anos e disputou os jogos olímpicos na Alemanha

Em clima de Olimpíadas de Paris, em que as disputas por medalhas recheiam a programação da mídia e das redes sociais, vale remexer na memória para mostrar que em 1972, o primeiro santa-cruzense a disputar os jogos foi Bolívar Modualdo Guedes, quando a Olimpíada ocorreu em Munique, na Alemanha. O passaporte para a disputa foi “carimbado” no Torneio de Cannes, em 1972, quando o time foi campeão do mundo, ainda que não fosse reconhecido pela FIFA na época . “Após, o treinador da seleção olímpica conversou com atletas que se destacaram, como eu e o Paulo Roberto Falcão, por exemplo, dizendo que estaríamois nas Olimpíadas”, relembrou Bolívar à Arauto News.

A equipe era muito boa, mas muito jovem. “Eu tinha 17 anos. O mais velho era Abel Braga, com 21 anos”, recorda. Bolívar atesta que a seleção, muito jovem e inexperiente, teve uma das piores atuações em Olimpíada, não passou da primeira fase. No entanto, jamais vai esquecer um jogo bem jogado. Foi contra a Hungria, e terminou em 2 a 2, “jogo que jamais vou esquecer”.

Bolívar carrega com orgulho o fato de ter sido o primeiro atleta de Santa Cruz e, acredita, do Grêmio a ir para uma Olimpíada. “Viver a Olimpíada é a coisa mais linda que existe, é um clima diferente. A gente tentando se comunicar com pessoas de outros países, trocando flâmula”, recorda ele, que guardou com carinho sua camisa amarela.

Em entrevista ao Jornal Arauto em 2021, novamente para relembrar da trajetória olímpica, Bolívar fez a foto que estampa esta matéria, com a referida camisa da seleção. Jogador de muito talento, com 14 anos já estava no Grêmio, seu time de coração, e três anos depois, aos 17, encarava uma Seleção Brasileira. “Tudo era uma festa e a ficha demorou para cair. Mas não tem coisa melhor no mundo do que poder representar a Seleção Brasileira, ainda mais nos jogos olímpicos. É emocionante”, descreveu.

Ainda que o desempenho da seleção, no entanto, tenha sido considerado desastroso: empate com Hungria e derrotas para Dinamarca e Irã, foi marcante. “A inexperiência pesou, éramos atletas juvenis, poucos já haviam disputado em times principais. Nas outras seleções tinha atletas com Copa do Mundo na bagagem”, recorda o lateral-esquerdo.

Massacre de Munique

Ainda que o mundo tenha parado para aplaudir o nadador norte-americano Mark Spitz, campeão olímpico de sete provas da natação e recordista mundial de todas elas, o que marcou Munique foi o atentado protagonizado pelo grupo terrorista Setembro Negro, que invadiu a  Vila olímpica e fez 11 integrantes da equipe olímpica de Israel reféns, com direito a sequestro e emboscada. O saldo do massacre foi alto. Um total de cinco terroristas mortos, cerca de 11 reféns e um policial alemão também perderam a vida. “Já estávamos desclassificados e fomos liberados para sair da vila olímpica e jantar fora. Quando voltamos, ouvimos barulho. Mas quando acordamos eram helicópteros, cães, sirenes. Logo depois a CBF mandou a gente fazer as malas para irmos embora”, conta Bolívar, traduzindo o clima de medo que se instalou.

Acabou com o brilho. Olimpíada é congraçamento dos povos, disputa por medalhas… Aí os caras fizeram esta barbárie. Antes só se viam as delegações rindo, brincando. Depois só se via terror no semblante dos atletas”, frisa o santa-cruzense, que viveu a festa do esporte e a tragédia que marcou a história dos jogos olímpicos.

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