Colunista

Daiana Theisen

Conversa de mãe

A Fada do Bico

Publicado em: 27 de junho de 2024 às 19:30 Atualizado em: 28 de junho de 2024 às 09:00
compartilhe essa matéria

O texto de hoje é da sessão nostalgia. Dia desses, mexendo nas gavetas em casa e organizando algumas lembranças, eis que encontro os bicos - carinhosamente chamados de bibi - da Amanda.

Como é bom relembrar alguns marcos do desenvolvimento das crianças e quem sabe contribuir com quem esteja passando por este processo. Como tudo vira história, hoje quero lhes apresentar uma personagem.

Garanto que você conhece a Fada do Dente, mas e a Fada do Bico? Sim, ela existe. E é muito eficiente na arte de trocar as chupetas por presentes bem legais.

Lembro que o processo de largar o bico na nossa casa estava sendo trabalhado lá pelos 3 anos e meio, sem muito sucesso, quando conhecemos a tal da Fada. Fomos visitar uma amiguinha da escola, brincadeira vai, brincadeira vem, descobrimos a Fada do Bico. Ela havia passado lá na casa da amiguinha, levado o bico dela para os bebês e deixado um presente muito divertido: massinha de modelar.

A partir deste dia, Amanda também quis entregar seu bico para ganhar as tais massinhas que se transformam em comidinhas e sorvete. Então, deixava volta e meia o acessório na janela, esperando que a Fada viesse buscar. Contudo, na hora de dormir, pegava de volta. Quando o cansaço e o ranço batiam, também. Tinha o desejo do presente, mas a vontade de chupar o bico era ainda maior.

Eis que em uma ida de rotina ao dentista, a profissional indicou que o danado do bico estava causando alguns transtornos na dentição – o que até aquele momento não havia sido percebido. Muito bem, era o momento de ter uma conversa séria com a tal Fada do Bico.

Então combinamos, eu e a pequena, que era chegada a hora. Os bicos (o que estava em uso e os dois reservas, que ela mesma lembrou nominando pelas cores de cada um) seriam deixados na janela para a fadinha levar. Em troca, deixaria as desejadas massinhas (que a eficiente mamãe já havia providenciado).

Mas e como a Fada saberia? “Vamos ligar para ela”, sugeriu a Amanda.

Em um passe de mágica a dinda se transformou em Fada do Bico (de quem eu tinha inclusive o telefone) e em uma ligação estava tudo combinado. Os bicos foram, o presente veio. A noite veio também, e a hora (tensa) de ir para a cama.

Deitada, luz desligada, começa a conversa:

– Mãe, a Fada levou meu bibi?

– Levou sim, e já deve ter entregue para algum bebê que estava chorando. Mas você é grande né?

– Sim, vou dormir sem bibi. Se ela levou…

Demorou mais de meia hora, seguramente, e adormeceu – sem choro e sem bico. Pela manhã acordou feliz. E eu, aliviada.

A noite seguinte foi um pouquinho mais tensa. Crise de abstinência do bico, sabe? Relutou um pouco mais, parecia incomodada, ansiosa. No fim, adormeceu. Agora vai! O processo seguiu por alguns dias, mas deu certo. Sem maiores dramas e sem traumas.

A fase do bico virou uma saudade. E a Fada do Bico, virou história.