Até os dias de hoje, os gaúchos costumam se referir com saudosismo quando falam em Varig. Em 7 de maio de 1927, era fundada pelo imigrante alemão Otto Ernst Mayer, a Viação Aérea Rio-Grandense, a nossa Varig, mundialmente conhecida e reconhecida pelo seu esmero em serviços de bordo e atenção aos seus clientes. Muita gente guarda com muito carinho – diria até que há peças raras, dignas de colecionador – dos souvenirs distribuídos aos passageiros, o que já rendeu até tarefa de gincana por aqui.
Esta imagem ao lado, por exemplo, é de uma necessaire distribuída em voos internacionais. A outra, um
LP em alemão que era distribuído nos voos para a Alemanha com músicas brasileiras, do amigo Rodolfo Kroth. Aliás, o Rudi e a esposa Teresinha trabalharam na Varig por uma década e foi numa excursão da empresa que se conheceram. Mas além de tarefa de gincana e história de amor, tem mais curiosidade da Varig com a região…
Em 1930, Wilhelm Kuhn, avô da sócia-diretora do Arauto, Flávia Teresinha Werner, era designado como primeiro agente da Varig em Santa Cruz. A recém criada empresa de aviação, pioneira no Brasil, passava por dificuldades e estava prestes a fechar. O agente santa-cruzense Wilhelm Kuhn elaborou um memorial expondo as vantagens das linhas aéreas e juntamente com uma comissão, entregou pessoalmente ao interventor federal Flores da Cunha, solicitando apoio à companhia. De imediato acolheu o pedido e foram adquiridos dois novos aviões, sendo um batizado de Santa Cruz e outro de Livramento (terra natal de Flores da Cunha). Este fato encontra-se narrado no livro “Berta, os anos dourados da VARIG” e o autor é Mário de Albuquerque.
Segundo consta no site https://www.varig-airlines.com, em 1930 a Condor Syndikat saiu da sociedade e a Varig teve que devolver o Atlântico e o Gaúcho. Sem aeronaves para transportar passageiros, a empresa buscou ajuda com o governo do Rio Grande do Sul. A companhia ganhou um terreno para construir um hangar e adquiriu novas aeronaves Junkers. A era dos hidroaviões havia ficado para trás e a aviação brasileira entrava na era dos monomotores terrestres. Para tal, a Varig construiu pistas de pouso e decolagem em cidades do interior do Rio Grande do Sul. Nesta época os campos de aviação eram simples áreas demarcadas, sem qualquer balizamento.
Com os Junkers, expandiu suas linhas, chegando em Livramento, Santa Cruz, Cruz Alta e Santana do Livramento. Os pilotos criaram uma maneira inusitada de se guiar. Para saber se estavam na rota certa, observavam se os animais se assustavam ou não com o barulho do motor da aeronave. Se eles se assustavam, era sinal de que não estavam acostumados com o barulho e então estavam na rota errada. Se os animais eram indiferentes, estavam na rota certa.
O serviço aéreo regular com os Junkers F-13 começou em abril de 1932, quando a aviação comercial era verdadeiro pioneirismo em território nacional. Nesta época não havia banheiro nas aeronaves e nem serviço de bordo. Os Junkers podiam pousar tanto na grama como em terra, na época os campos de aviação eram simplesmente áreas demarcadas.
Os voos eram marcados por turbulências, pois a aeronave voava baixo. O voo era todo visual, seguindo referências no solo, onde ajudava muito o nome das cidades escritas nos telhados das estações ferroviárias. Quando as condições ambientais impediam a navegação por contato, o voo prosseguia quase às cegas: os pilotos subiam e se orientavam por uma bússola e um relógio de bolso. O PP-VAF foi batizado de Livramento e o PP-VAG de Santa Cruz, homenagem as duas comunidades em que estes aviões operaram por longos anos.