No primeiro mês, é um tom um pouco acima do normal, é uma grosseria eventual, mas não vê perigo nenhum, afinal você o ama.
No primeiro mês, é um tom um pouco acima do normal, é uma grosseria eventual, mas não vê perigo nenhum, afinal você o ama.
No segundo mês, ele aponta o dedo na sua cara, com os olhos esbugalhados e as veias saltando, parece uma outra pessoa, não o reconhece, porém releva, perdoa a desavença, acredita que é unicamente excesso de preocupação, excesso de trabalho.
No terceiro mês, ele lhe proíbe de sair de vestido curto, você pensa que é brincadeira, só que não, ele lhe desafora para a plateia dos vizinhos. Você desiste de se encontrar com as amigas e acha que é somente uma má fase da relação.
No quarto mês, ele não aceita ouvir a sua opinião, segura o seu braço com força e lhe ameaça:
– Não ouse me responder!
Você está encurralada num canto, na teia do cuspe dele, no hálito acentuado dele, mas releva, os ajustes e brigas são naturais para quem se ama, a possessividade é compreensível por quem se deseja, busca se convencer disso.
No quinto mês, já são uivos, já são socos na mesa, você responde que ele não é seu dono, e ele corre enlouquecido atrás. Você se tranca no banheiro. Ele esmurra a porta. Você chora deitada num canto e espera a raiva dele passar para abandonar o esconderijo, vem o cansaço e o sono e esquece de contar para a família o que aconteceu.
No sexto mês, ele questiona alguma foto que publicou no Facebook, se aquilo são modos de mulher casada, você não enxerga mal nenhum, ele lhe empurra com força e você bate a cabeça no chão. A testa sangra, mas entende aquilo como um acidente e não leva a queixa adiante. No emprego explica que caiu da escada.
No sétimo mês, ele chega em casa tarde, bêbado, e lhe força a ter relações sexuais, você não quer, mas se cala novamente pelo amor que um dia já guardou por ele.
No oitavo mês, ele começa a fazer piadas machistas a seu respeito na frente das visitas, zombando que tem que mais que obedecê-lo, todo mundo ri, menos você, que vai tirar satisfação a sós. É neste momento, do nada, que ele dá um soco em seu rosto. Você cai e ele ainda chuta a sua barriga, o ventre do filho possível, o ventre do sonhado filho, mas você já está muito sozinha para ser socorrida, com muito medo para se levantar, com a estima muito baixa para virar as costas e fazer as malas.
No nono mês, você nem sente mais que está mentindo porque não existe mais nenhuma verdade em sua vida. Silencia-se por dentro, evita passear, evita as chamadas dos colegas, evita o contato nos olhos. Tenta apenas não morrer. Você não o ama mais, mas também não se ama mais e é tarde para pedir ajuda.
Por favor, se proteja, peça ajuda. Não deixe isso acontecer.
Autor: Fabrício Carpinejar