Filme com direção de Bruno Corralo Granata, de 27 anos, explora diagnóstico tardio
Um aluno da Universidade de Santa Cruz (Unisc) lançou neste mês o filme Eu, Girassol sobre autismo com diagnóstico tardio no nível 1 de suporte, que explora a perspectiva de três entrevistados no espectro. O diretor do documentário, Bruno Corralo Granata, de 27 anos, é estudante de Produção em Mídia Audiovisual e também usou sua trajetória e perspectiva pessoal a respeito do diagnóstico na produção.
Natural de Porto Alegre, Bruno reside em Santa Cruz do Sul e confirmou o diagnóstico de autismo neste ano. “Eu tive por um tempo aquilo que a gente chama de hiperfoco, no assunto do autismo, então não parei de pesquisar e pensar sobre isso”, lembra. Próximo de realizar o projeto experimental para o curso, decidiu abordar o assunto. “Eu senti que era um tema que eu precisava falar, porque eu estava profundamente implicado com ele e é um tema que também tem função social, que interessa muitas pessoas.”
Para a construção do filme, optou por entrevistas com pessoas no espectro autista, ao invés de ouvir especialistas. “Eu quis, desde o início, produzir um filme em que eu trouxesse para a tela só pessoas com autismo. Porque ainda que se fale pouco sobre o autismo, quando a gente ouve falar de autismo é sempre em terceira pessoa, é sempre uma visão de fora. São os neurotípicos olhando para os autistas, então o autista é colocado como objeto, ele raramente é sujeito”, explica.
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A produção escolheu focar no diagnóstico tardio, que possui características que diferem do diagnóstico na infância. Já o nível 1, considerado autismo leve, acaba sendo invisibilizado. A pessoa passa por neurotípica e nem sempre consegue deixar claro que possui necessidades especiais, que enfrenta grandes provações, por vezes em tarefas simples do cotidiano.
Desta forma, Eu, Girassol amplia as vozes de seus personagens, abre um espaço para que as pessoas com autismo relatem quais as suas diferenças e dificuldades. Bruno relata que queria mostrar na obra que uma pessoa com autismo está apta a falar sobre a própria condição e que suas falas possuem valor, se sustentam sem a necessidade de opiniões técnicas.
Quanto a ser um dos entrevistados no filme, o diretor conta que queria compartilhar sua visão. A narração do filme, que é acompanhada por fotos da infância de Bruno, encerra o filme de forma emocionante. “Foi um processo bem desafiador. As locuções foram escritas a partir de um texto que eu fiz, com vários pensamentos, reflexões e sentimentos sobre todo esse processo de descoberta. Foi uma experiência difícil, mas eu considerei que era um trabalho de valor, algo que valia a pena ser feito”, comenta.
Bruno Granata assina o roteiro e a direção do filme, além de dar seu depoimento e ter atuado na produção, montagem e locução. Também compõem a equipe Vitz Almeida, Diego Ertel, Luiz Gabriel, Gianne Vianna, Richard E. Mas e a trilha sonora original foi composta por Fábio Corralo. Os demais depoimentos são de César Augusto Hartungs e Isadora Spolti Pazuch.
As gravações foram realizadas em outubro e novembro deste ano, com a finalização em dezembro. Na semana passada o trabalho foi apresentado por Bruno, e levou nota máxima. O objetivo do cineasta agora é inscrever a obra em festivais e realizar exibições na região, em escolas e outros locais onde possa gerar um debate e reflexões sobre o tema do autismo.
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