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    Maiquel Thessing
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    William Rutzen: como uma artrite fez um médico de Santa Cruz ganhar a internet

    Publicado em: 28 de janeiro de 2023 às 10:38 Atualizado em: 04 de março de 2024 às 16:59
    Foto: Maiquel Thessing/Grupo Arauto
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    Profissional faz sucesso colocando o paciente como protagonista da própria saúde

    Um médico de Santa Cruz do Sul teve a carreira transformada por uma artrite psoriásica. William Rutzen começou a apresentar os sintomas da doença, que atinge as articulações, em 2013 e teve que modificar hábitos e adotar uma rotina mais saudável. A mudança deu resultado e, impressionado com os benefícios, decidiu compartilhar informações nas redes sociais e abrir um consultório para atender quem precisa de ajuda. 

    Natural de Campos Borges, na região do Planalto Médio, ele viveu até os quatro anos no município. Depois, os pais decidiram se mudar para Salto do Jacuí. William criou vínculos e cresceu na cidade, mas, para continuar estudando, precisou buscar regiões maiores. O curso de Medicina na Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) teve início em 2006, em 2013 ele iniciou especialização em Clínica Médica, e até 2014, o médico permaneceu na Terra da Oktoberfest. 

    O profissional foi ao Hospital Moinhos de Vento completar a formação em Medicina Intensiva, área que surgiu recentemente diante da necessidade de tratar pacientes em estado crítico. Pouco tempo depois, em 2017, voltou para atuar no município e, ao lado de outros sócios, fundou uma empresa e assumiu a gestão das escalas de plantão dos médicos das UTIs do Hospital Ana Nery e Hospital Santa Cruz. 

    A história de consultório, contudo, foge da terapia intensiva e foi motivada por uma doença que ele desenvolveu. Em 2013, iniciou com dor nas costas e lombar. Uma artrite em uma articulação coxofemoral, que liga o quadril e a perna, fez com que ele mancasse. Posteriormente, passou a apresentar quadros de artrite em outras articulações e a investigação levou ao diagnóstico de artrite psoriásica em 2015. 

    William iniciou os tratamentos e buscou o maior especialista na área, um médico de Porto Alegre. Ele fez todos os tratamentos convencionais aos quais se tinha acesso, com anti-inflamatório, corticoide, imunossupressores e imunobiológicos. “Eu nunca cheguei a atingir uma remissão completa dos sintomas. Eu já tinha desistido”, contou. Entretanto, uma situação familiar mudou tudo. 

    Em 2018, aos 30 anos, o médico se tornou pai. Logo depois do nascimento, a esposa estava com uma crise de dor lombar e o filho Benjamin começou a chorar no berço. A mulher pediu para que William buscasse o bebê. “Quando eu cheguei no quarto dele, eu não conseguia me abaixar para pegar no berço. Isso teve um efeito psicológico horroroso em mim. Eu me sentia impotente”, explicou. 

    O problema causou uma revolta e, com medo de ficar impedido de aproveitar os bons momentos ao lado do pequeno, decidiu buscar novos recursos. O especialista que o acompanhava informou que os pacientes tendem a ter menos quadros inflamatórios, menos artrite, quando estão mais magros. “Na época eu não era obeso, mas eu tinha 14 quilos a mais do que eu tenho hoje”, falou. 

    O médico começou a pesquisar dietas e a mudança dos hábitos alimentares causou uma melhora significativa na qualidade de vida, algo que, segundo ele, nenhuma medicação nunca tinha causado. “Eu comecei em setembro. Em dezembro, eu já estava reduzindo os medicamentos que estava utilizando. Em março do ano subsequente, de 2019, eu tinha limpado as medicações que eu usava”, relatou. 

    William também viu mudança na forma de encarar a própria Medicina. “Eu vi que o paciente podia ser protagonista e era capaz de prevenir muitas doenças com hábitos, mas eu me sentia envergonhado de falar sobre esses assuntos porque não era a minha formação original”, disse. Ele começou a estudar e, em uma conta no Instagram, passou a postar as descobertas. O perfil se tornou referência, hoje, tem mais de 102 mil seguidores. 

    As pessoas começaram a procurar o médico através das redes sociais e o atendimento, nos primeiros meses, era realizado em um consultório emprestado por um amigo. “Outros médicos passaram a encaminhar os seus pacientes e eu abri uma agenda tímida em março de 2021. Hoje, eu atendo uma demanda gigantesca de pessoas que querem transformar a sua vida, que são conscientes em termos de saúde e buscam mudança”, comemorou. 

    Quando percebeu impacto da mudança na alimentação, fez uma especialização em um dos centros mais conceituados do país – a Universidade de São Paulo (USP). Certo. A pós-graduação escolhida foi Nutrologia. “Eu não gosto do rótulo de nutrólogo, prefiro médico, porque, se vier consultar comigo, eu não vou atender apenas a parte nutricional. Vou atender o paciente. O foco da minha consulta é identificar quais são os comportamentos que não estão de acordo e ajudar a corrigí-los. A nutrologia é apenas uma de várias ferramentas úteis nessa intervenção”, detalhou. 

    Durante a entrevista, William lembrou de um paciente que enfrentava dificuldades até para amarrar os sapatos por conta da obesidade. “Ele tinha uma questão psiquiátrica que fazia com que recorresse ao alimento como uma forma de automedicação. Eu fiz um tratamento multidisciplinar. A gente envolveu um acompanhamento psicológico e aprendeu mecanismos de motivar esse paciente. Uma das maneiras que a gente usou foi pedir pra que a filha dele escrevesse o objetivo no papel e eu plastifiquei”, contou. 
     
    O método escolhido por William funcionou e o homem emagreceu 30 quilos em oito meses. “Ele desenvolveu a autonomia de se abaixar e levantar rapidamente. Ele tinha um quadro recorrente de dor articular e também deixou de usar muleta. A vida dele foi transformada. Para esse paciente, o estético nunca foi importante. Isso é a coisa mais recompensadora que existe”, finalizou.