Em 1975, cardiologista chegava com a família na cidade que lhe acolheu na medicina, na política e no esporte
"O Chevette branco, ano 73, boca de tubarão, partiu na manhã de sexta-feira do dia 27 de março de 1975 de Porto Alegre com destino a Santa Cruz do Sul. Os passageiros eram eu, a Renata e nossa pequena filha Cristiane, com dois anos de idade. O carro vinha repleto de bagagens, além das coisas intangíveis, como nossos sonhos, desejos e expectativas quanto ao que viria, uma vez que para o Senhor do tempo o futuro é sempre uma incógnita e se diverte, por vezes, em modificar previsões e prognósticos". Esse relato é de Paulo Roberto Jucá no livro de 50 anos da turma de formandos da Medicina sobre sua chegada na Terra da Oktoberfest. Local que o acolheu e o fez ter vontade de dizer: eu sou santa-cruzense.
A história do porto-alegrense iniciou com a decisão de fazer o vestibular para Medicina. Aos 17 anos, na primeira tentativa, ingressava no curso. Além de descobrir sua vocação, foi durante a faculdade que também conheceu o amor de sua vida. A santa-cruzense Renata Becker também estava no curso de Medicina e ao lado dela os dois construíram uma história entre família e também como colegas de profissão. Começaram a namorar no primeiro ano de faculdade e se casaram no último, oito dias após a formatura. "Nos formamos médicos dia 4 de dezembro de 1970 e casamos dia 12 na Igreja Evangélica de Santa Cruz do Sul", relembra. Entretanto, a vida profissional de ambos começou na capital do Estado. "Continuamos em Porto Alegre para a residência, ela na ginecologia e obstetrícia e eu na medicina interna e cardiologia. Foram dois anos de residência. Em 1973, começamos a trabalhar em Porto Alegre, cada um na sua especialidade. Buscamos consultórios particulares, começamos lentamente a fazer uma clínica, trabalhando em plantões. O início é sempre complexo. Eu também passei no concurso para médico intensivista da UTI do Hospital Militar", conta.
Mas, como sempre que podiam o casal vinha a Santa Cruz do Sul visitar os familiares de Renata, Jucá começou a nutrir um sentimento cada vez maior pela cidade. "Naquela época, o interiorano queria ficar em Porto Alegre. Eu fiz o contrário", se diverte. Por mais que a esposa fosse santa-cruzense, foi ele quem motivou a mudança de cidade e a construção das carreiras no Vale do Rio Pardo. "Institui o consultório e no outro dia já tinha pacientes me procurando. Abri no prédio da antiga rodoviária, na Tenente Coronel Brito com a Júlio de Castilhos, para atuar com Cardiologia e Clínica Médica", conta. Já Renata iniciou como primeira médica obstetra da cidade, com muitos partos para fazer. Além dos atendimentos no consultório, Jucá também foi admitido no corpo clínico do Hospital Ana Nery e do Hospital Santa Cruz, onde tornou-se diretor. Foram anos de muito conhecimento e também de protagonismo entre a comunidade e os sindicatos médicos. "Eu trabalhava muito. Eu não tinha tempo de fazer outra coisa a não ser medicina. Eu saia de manhã, entrava no hospital, almoçava, ia para o consultório que estava cheio e depois voltava para o hospital", relata.
Com 55 anos de trajetória, muitas são as lembranças guardadas na memória e no coração. "Eu passei por toda a evolução médica de Santa Cruz do Sul, desde na época sem UTI, quando os pacientes graves eram tratados nos quartos. Não tínhamos monitores, nada de material de auxílio e diagnóstico, não tinha ecografia. Era só raio-x e a clínica. Lembro que fui o primeiro médico a usar insulina em pacientes no hospital. Os procedimentos que aprendi na residência eu comecei a fazer aqui", recorda. Após fazer história na medicina, também começou a ser reconhecido em outras áreas. "Primeiro foi uma dedicação no trabalho médico, depois comecei a ser visto como uma pessoa que poderia trabalhar para cooperativa. Aí começou minha vida dentro da Unimed. Fiz parte do Conselho de Ética por quatro anos, Conselheiro de Administração por oito anos, vice-presidente de Santa Cruz do Sul e então fui presidente", salienta.
Na política e no esporte em Santa Cruz do Sul, Paulo Roberto Jucá também fez história. Foi vereador pelo PSDB entre 1996 e 2000 e tornou-se presidente do Futebol Clube Santa Cruz, o Galo, que ainda tem o seu coração. "Fui presidente quando ninguém queria ser, na época que o time caiu a primeira vez para a segunda divisão do Gauchão", analisa. Porém, mesmo quando outras atividades surgiram em sua vida, jamais deixou de se atualizar. "Na medicina tu não pode parar de estudar. Eu arranjo tempo para me manter atualizado na área da Cardiologia. Se eu não tiver domínio das novas drogas que estão por aí, dos novos tratamentos, eu não poderia estar exercendo a medicina. Eu sou uma pessoa extremamente feliz e realizada. Gosto do que eu faço. Gosto de atender gente. Me relaciono bem com os meus pacientes, eles me querem bem. Não deixo ninguém na mão", diz.