Essas pesquisas foram conduzidas em aulas feitas especificamente para avaliar o desempenho dos alunos em diversas situações
Uma matéria publicada recentemente no New York Times revelou uma série de estudos que apontam para efeitos negativos do uso de notebooks durante a aula sobre o aprendizado. A matéria era assinada por uma professora que, com base nos dados desses estudos, bania o uso de dispositivos eletrônicos em suas aulas.
A primeira evidência a esse respeito vem de um estudo feito por pesquisadores das Universidades de Princeton e de California, Los Angeles. O estudo (pdf) pediu que metade dos alunos de uma determinada aula tomasse notas usando papel e caneta, enquanto a outra metade fazia o mesmo usando um computador.
Anotar sem pensar
Quando a aula terminou, os participantes fizeram uma pequena prova para medir o seu entendimento e a sua fixação do conteúdo da aula. O resultado da pesquisa foi que, "em três estudos, descobrimos que os alunos que tomavam notas usando laptops iam pior em perguntas conceituais do que os que haviam tomado notas à mão".
Há motivos para isso, segundo os pesquisadores. Eles acreditam que embora os computadores permitam anotar mais informações, os alunos se aproveitam disso para transcrever tudo que os professores dizem, palavra por palavra – uma tarefa mecânica que não exige muita atividade mental dos alunos.
Os alunos que usam papel e caneta, por outro lado, precisam processar a informação dada pelos professores antes de escrevê-la, pois não conseguem anotar tão rapidamente. "A tendência dos usuários de notebook de transcrever as aulas palavra por palavra em ves de processar e interpretar a informação em suas próprias palavras é prejudicial ao aprendizado", conclui a pesquisa.
Fazendo mal aos outros
No entanto, não são apenas os usuários de notebooks que são prejudicados: quem senta perto deles também acaba indo pior. Foi isso que um estudo conduzido por três pesquisadores canadenses demonstrou. Nesse estudo, os pesquisadores pediram a alguns dos alunos que completassem algumas tarefas simples (como pesquisar a duração de alguns filmes) ao mesmo tempo em que tomavam notas sobre a aula.
Como seria de se esperar, esses alunos tiveram pontuações piores na prova aplicada ao final do estudo do que os que não precisaram realizar essas outras tarefas. Mas o mais interessante foi que os alunos que estavam sentados próximos a eles também tiveram notas piores do que quem estava longe deles. A hipótese é que a presença de uma tela mostrando materiais não-relacionados à aula acabava distraindo as pessoas sentadas perto de quem estava usando o computador.
Situações reais
Essas pesquisas foram conduzidas em aulas feitas especificamente para avaliar o desempenho dos alunos em diversas situações. No entanto, outros pesquisadores realizaram um estudo semelhante na academia militar dos Estados Unidos, com cadetes que estavam tendo uma aula de introdução a economia.
Durante esse estudo, os alunos tiveram essa aula em três grupos, e foram designados de maneira aleatória a uma das três condições: eletrônicos liberados, eletrônicos proibidos, ou eletrônicos permitidos mas desligados e em cima da mesa. Os grupos tiveram as aulas dessa matéria da mesma maneira ao longo de todo o semestre.
Tanto as salas nas quais os dispositivos eletrônicos estava liberados quanto aquelas nas quais eles eram permitidos se desligados e colocados sobre a mesa foram pior na matéria do que a sala que não usou dispositivos eletrônicos durante as aulas. E considerando que os cadetes têm um forte incentivo para ir bem – já que suas notas podem impactar o seu salário no futuro – é de se imaginar que esses mesmos resultados se repetiriam em qualquer situação de aula.
Pesquisas como essas são importantes não apenas para fins pedagógicos, mas também para nortear a adoção de políticas públicas de educação. À luz desses dados, a recente decisão do governo de São Paulo de garantir a permissão do uso de celular em sala de aula pode ser gravemente equivocada.
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