Covid 19

Com comercialização suspensa, tabaco se acumula nos galpões

Publicado em: 30 de março de 2020 às 19:53 Atualizado em: 22 de fevereiro de 2024 às 08:10
  • Por
    Taliana Hickmann
  • Fonte
    Jornal Arauto
  • Foto: Jornal Arauto / Taliana Hickmann
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    Quem deixou para vender o fumo mais tarde precisa agora driblar as dificuldades financeiras

    Nos últimos meses, a seca castigou a produção de tabaco. Agora, os fumicultores enfrentam mais um desafio: driblar as dificuldades econômicas frente à paralisação da compra do fumo. Como prevenção ao coronavírus, as fumageiras suspenderam as atividades. Algumas já vinham reduzindo a compra do produto, segundo o presidente da Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra), Benício Albano Werner, evitando fluxo grande de trabalhadores – muitos de outros municípios. Mas é desde a última quinta-feira, dia 26, que elas pararam totalmente, conforme determinação de decreto. Com os galpões de fumo ainda cheios – sendo que 30% da safra foi comercializada no Vale do Rio Pardo – os produtores devem sentir os impactos dessa paralisação rapidamente. 

    Essa é a realidade do produtor Mateus Ricardo Mueller, que mora no interior de Vera Cruz. Todo o sustento de sua família vem do trabalho com o fumo. Mateus conta que o plantio nesta safra foi de 180 mil pés, mas que perdeu 70 mil com a estiagem. Mesmo o que sobrou sofreu com perda na qualidade. “Só vendi até agora o fumo que não sofreu tanto com a seca e nesse tive supervalorização na esteira. Mas ainda nos resta 85% da produção”, pontua. 

    Assim como Mateus, outros fumicultores do município deixaram para comercializar a maior parte da safra agora – mas não imaginavam que a compra seria suspensa. “É difícil, pois assim como os demais, a gente precisa de dinheiro para dar continuidade à safra e para a compra de coisas básicas”, frisa Mateus. A última remessa de fumo que ele conseguiu vender foi no dia 23 de março, o que trouxe um pouco de ânimo. “Ajuda muito. Além de ser uma renda que entra, desafoga os galpões, pois como planto muito tabaco não vou ter como preparar ele sem comercializar, por falta de espaço”, afirma. 

    Quem comercializou mais cedo, de acordo com o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Vera Cruz (STR), Cristian Wagner, teve bom retorno financeiro. Ainda, segundo Cristian, 55% da safra já foi comercializada no município. Em Santa Cruz do Sul, a comercialização também vinha sendo satisfatória, conforme Sérgio Reis, diretor financeiro do Sindicato dos Trabalhadores Agricultores Familiares do município. 

    COMO SE VIRAR
    Apesar de a grande maioria dos fumicultores vera-cruzenses ter outras fontes de renda, como explica Cristian, as perdas em culturas como milho e soja, bem como na produção de leite, foram muito grandes. Assim, esses produtores estavam contando com a venda do fumo para ter capital de giro. Em Santa Cruz do Sul, a situação não foi diferente. No entanto, Sérgio afirma que alguns produtores têm por costume fazer reserva de dinheiro, o que pode ajudar em situações como essa, ou ainda conseguem apostar em opções de crédito. “A maioria dos nossos produtores já trabalha com alguma reserva, claro que nem todos, por isso, alguns vão sentir isso um pouco mais forte”, completa. 

    Preocupadas com a situação dos fumicultores, a Afubra e a Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Rio Grande do Sul (Fetag-RS) encaminharam às fumageiras, no dia 26 de março, pedidos de apoio aos produtores de tabaco. A Afubra sugeriu que cada empresa efetue um adiantamento aos produtores integrados por conta do tabaco contratado – e que será comercializado quando as fumageiras voltarem a funcionar -, e que o adiantamento fosse descontado na entrega do produto. Também, para buscar amenizar a situação dos fumicultores, a Fetag-RS solicitou às empresas a antecipação ou o adiantamento de parte do valor a ser comercializado pelo produtor na safra.

    Confira a matéria completa, com projeções para o início da próxima safra, no Jornal Arauto desta terça-feira.