Conheça as histórias de três profissionais que atuam no Ambulatório de Campanha de Santa Cruz
Enquanto médicos e cientistas trabalham para encontrar o tratamento da Covid-19, um grupo atua na linha de frente para dar assistência a pacientes com suspeita ou a doença confirmada. E são nesses momentos difíceis que o juramento das profissões e a vontade de ajudar o próximo falam mais alto. A Secretaria de Saúde de Santa Cruz do Sul abriu um banco para voluntários que quiserem auxiliar nas ações de enfrentamento à pandemia. Já são 521 pessoas inscritas e, dessas, 164 são da área da saúde. Técnicos em enfermagem representam a maioria do grupo – 107 se disponibilizaram a entrar nessa batalha sem esperar nada em troca, a não ser salvar vidas. Conheça agora a história de três profissionais que atuam no Ambulatório de Campanha, no Ginásio Poliesportivo, como voluntárias.
"O sentimento de poder ajudar é a maior recompensa"
Foi de um cantinho da extensa Pantano Grande, lá onde o horizonte parece tocar os campos e as lavouras de arroz, que a neta do casal Maria e José Tavares saiu com a pretensão de salvar o mundo em pequenas porções. Jéssica Tavares Salgueiro, hoje com 29 anos, trocou os trajes informais pela responsabilidade do uniforme branco. Hoje voluntária no Ambulatório de Campanha, a experiência em atuar na linha de frente em situações emergenciais começou a ser construída em 2010, aos 19 anos, quando formou-se técnica em enfermagem e, um ano depois, passou a atuar no Pronto-Atendimento do Hospital Santa Cruz. Em 2013, por ocasião da tragédia da Boate Kiss, candidatou-se para auxiliar os feridos. "O sentimento de poder ajudar diversas pessoas e recordar isso é a maior recompensa", diz. Uma de suas boas recordações permanece guardada, e intacta, em forma de objeto: ganhou de uma paciente idosa, e já falecida, um batom, depois de tê-la atendido inúmeras vezes na casa de saúde. "Ela chegava e já perguntava por mim, queria que eu a atendesse sempre. E foram tantas vezes que percebeu que eu gostava de estar sempre maquiada, e me deu esse presente", conta.
Agora atuando na linha de frente no combate à pandemia, é de Pantano Grande que vem as orientações para ela se cuidar. "Toda vez que falo com meus avós por chamada de vídeo, choramos juntos, porque eles queriam que eu estivesse perto deles. Eles têm medo que eu fique doente", relata. A ausência da netinha preferida na casa dos avós, que já completa sessenta dias, fez até dona Maria, de 76 anos, conhecida como a "rainha da maionese", abolir do cardápio o prato predileto de Jéssica. Inclusive, conta-se que há um burburinho descontraído no meio familiar, de que dona Maria voltará a descascar batatas novamente só após o período de distanciamento social. E seu José, também de 76 anos, não quis ficar para trás. Também como demonstração de carinho pela neta, não há mais churrasco aos domingos enquanto ela não voltar.
A experiência que deu certo
Seu Rômulo, vítima de um Acidente Vascular Cerebral (AVC), alimentava-se por sonda, não caminhava, usava fraldas e recebia banho na cama. Morador de Cachoeira do Sul, tinha quatro cuidadoras muito especiais que se revezavam para ampará-lo dia e noite: a esposa e três filhas. Uma delas era Aline Lobato Dickin, na época com apenas 10 anos de idade. "Eu era uma criança, mas nos turnos que meu pai não tinha sessões de fisioterapia, eu e minha mãe fazíamos exercícios com ele", relembra. Agora com 80 anos, as filhas ainda o chamam carinhosamente de "bebezão". E graças ao cuidado que recebeu, embora sempre monitorado, caminha, fala e se alimenta sozinho. A dolorosa experiência familiar e o desfecho com final feliz, influenciou na escolha profissional de Aline ainda adolescente. Com apenas 14 anos tomou uma decisão: queria se especializar na área da saúde e, no mesmo ano, paralelo ao ensino médio, iniciou o curso técnico em enfermagem. Mais adiante, em 2008, graduou-se enfermeira pela Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc).
Nesse período de pandemia, a autêntica Aline é mais uma das voluntárias que colocou sua experiência à disposição no Ambulatório de Campanha. "Escolhi ajudar pelo juramento que fiz, de dedicar minha vida profissional a serviço da humanidade", relata. Mas por escolher cuidar de outras pessoas, Aline teve que fazer o que para ela é o maior dos sacrifícios: permanecer longe do filho, de 16 anos. "Desde que ele nasceu, é a primeira vez que estamos separados. Já faz um mês. Se tudo der certo, ganho um dia de presente ao lado dele no Dia das Mães", finaliza.
De mãe para filha
Antes de colocar o pé para fora de casa e ao retornar do trabalho, a técnica em enfermagem Mayana Eifert dos Santos tem um hábito do qual nunca esquece: primeiro, em forma de prece, pede a Deus que a acompanhe, que lhe proteja e que tenha forças para enfrentar os desafios no trabalho. Já, no fim do dia, agradece por ter conseguido ajudar as pessoas que dela precisaram. Aos 36 anos, 18 deles atuando na área da saúde, a habilidade de Mayana em cuidar de gente começou a ser cultivada ainda pela mãe, Nelcinda, já falecida, nos tempos da vida simples em Linha São João, no interior do hoje município de Sinimbu. Nelcinda, já adulta, mudou-se para Porto Alegre e trabalhou por 16 anos como escriturária no Hospital Nossa Senhora da Conceição. E foi lá que nasceu a pequena Mayana. Já na primeira infância, não foram poucas as vezes que presenciou sua mãe recebendo gente suplicando por saúde. De tanto vivenciar situações assim, especializou-se na área e já trabalhou em hospitais de Porto Alegre, Lajeado e Santa Cruz. Mayana, agora atuando na área de saúde do trabalhador em empresas, é mais uma das voluntárias no Ambulatório de Campanha. "Me senti chamada, porque atuo há tanto tempo na área da saúde, e esta é a profissão que escolhi e que domino. Me sinto útil em poder fazer algo que eu sei e que gosto para auxiliar toda a comunidade", conclui.
*As inscrições podem ser feitas por formulários do Google. Clique aqui para ser voluntário na área da saúde ou clique aqui para ajudar em outras áreas.
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