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Três mulheres com suas cicatrizes, dores e traumas compartilham superação

Publicado em: 30 de agosto de 2024 às 18:25
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    Portal Arauto
  • TRÊS MULHERES COM HISTÓRIAS DE SUPERAÇÃO INSPIRARAM PÚBLICO NA TARDE DE SEXTA-FEIRA | GRUPO ARAUTO
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    Roda de conversa do Agosto Lilás, em Vera Cruz, arrancou lágrimas da plateia com histórias de vida envolvendo abuso sexual, câncer e acidente

    Cada uma com sua cicatriz, sua dor, seus traumas, são gratas pela vida e compartilham hoje suas histórias”, resumiu Karine Wink, uma das três moradoras de Vera Cruz que protagonizaram a roda de conversa da programação do Agosto Lilás, realizada na tarde desta sexta-feira (30), no Clube Vera Cruz, numa promoção do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher. Karine descobriu um câncer de mama em 2008, o primeiro deles, e contou sua vontade de viver. Carla Soares levou a plateia às lágrimas ao narrar os recorrentes episódios de abuso sexual que sofreu na infância e adolescência do padrasto e do pai biológico. E Luciana Jost, vítima de um acidente de trânsito que resultou na amputação de uma das pernas, escolheu rir da vida, porque a vida lhe deu uma nova chance.

    A superação feminina foi a temática da programação escolhida para o Agosto Lilás de Vera Cruz. A presidente do órgão, Leci Kobs, frisou que a violência contra as mulheres atravessa fronteiras, manifesta-se de diversas formas, sexual, psicológica, emocional e o assunto gera preocupação. “Muitas mulheres vivem com medo da violência em suas casas, seus locais de trabalho. É necessário unir nossas vozes para construir uma sociedade que respeita e valoriza as mulheres, que elas possam se sentir seguras. E cada ação, por menor e mais simples, conta”, reforçou.

    As pessoas que eu achava que podia confiar eram as que abusavam de mim

    CARLA SOARES | GRUPO ARAUTO

    Carla Soares, moradora de Vera Cruz, fez um relato duro de sua vida. Aos sete anos começou a ser abusada pelo padrasto, até os 10 anos, sem ninguém para ajudar. Quando contou para a mãe, não acreditou e a colocou para fora de casa. “Dormi uma noite na praça de Santa Cruz até que o Conselho Tutelar me achou. Nunca vou me esquecer da cena quando cheguei em casa e minha mãe disse que eu havia fugido. Voltei a morar com minha mãe e os abusos continuaram. Por muitas vezes meu padrasto abusava de mim e minha mãe estava bêbada do lado”, relatou.

    Um pouco antes dos 10 anos, Carla conheceu seu pai biológico e achou que sua vida ia mudar. Foi morar com ele e sua madrasta. Mas a história se repetiu, dos 11 aos 14 anos. “Ele dizia no meu ouvido para ficar quieta, que não tinha a quem recorrer. E eu não tinha mesmo. Eu não tinha mais motivo para viver”, comentou. Com 12 anos, conheceu um casal que apresentou a igreja, e ao se agarrar na fé, se reergueu. “Os meus abusadores estavam dentro da minha casa. As pessoas que eu achava que podia confiar eram as que abusavam de mim”, frisou.

    Para as mães, um pedido: que prestem atenção no relato de seus filhos, não ignorem como sua mãe fez. Carla tem três filhos e garante: “eu tô aqui hoje pelos meus filhos e porque Deus me sustentou em todos os momentos”.

    Minha fé foi meu combustível

    KARINE WINK | GRUPO ARAUTO

    Karine Wink descobriu, em 2008, um nódulo no seio. Ao investigar, após a mamografia, o diagnóstico que toda pessoa teme: câncer. “Parece que um buraco se abriu no chão. Minha mãe tinha falecido dois anos antes, de câncer no esôfago”, relatou. Um ano antes, Karine havia perdido o noivo, numa morte trágica, e enfrentava uma depressão profunda, pois todos os sonhos haviam sido interrompidos de uma hora para outra. Com a doença, sua irmã lhe presenteou com uma viagem para o nordeste para lhe devolver um sorriso no rosto, para lhe fazer ter vontade de viver.

    Então Karine lutou bravamente e encarou todos os procedimentos, da cirurgia, quimioterapia, queda de cabelo, cura. Mas se passaram 10 anos e o pesadelo voltou.  Justamente quando começava novo relacionamento e novos planos se faziam, como o desejo de ser mãe.  Um cisto no ovário esquerdo, num exame de rotina, gerou o alerta. Muitos exames novamente, todos alterados, e Karine começou a inchar muito. “Achei que ia morrer”, descreve.  Ao fazer a biópsia, a situação era tal que o médico optou por imediatamente realizar a cirurgia. E com isso retirou útero, ovário, trompas e o desejo de ser mãe. “Eu perdi o poder de escolha, mas eu estava curada. E agora, cada dia é uma vitória. Minha fé foi meu combustível”, celebra.

    Eu quero é viver

    LUCIANA JOST | GRUPO ARAUTO

    O dia 22 de dezembro de 2023 poderia ser marcado na vida de Luciana Jost simplesmente pelo dia em que um grave acidente no trevo de Linha Capão, em Vera Cruz, lhe tirou uma perna. Mas ela tratou de encarar a vida com tamanho otimismo, que seria preferível dizer que foi o dia que ela renasceu, ela ganhou uma nova chance. Ela só queria ajudar o marido no cultivo da soja, pensava nisso enquanto andava com sua moto pela estrada. Em segundos, um carro atravessou seu caminho e não parou para lhe socorrer.

    Ao se deparar com a situação, rapidamente muitas pessoas foram ajudar, mas ela notou que um pedaço de pele segurava sua perna. “Eu quero viver”, repetiu para a plateia, como um mantra, daquele dia, nas vésperas do Natal. Quando acordou da cirurgia, a perna esquerda fora amputada. Mas se alguém pensa que Luciana seria só lamentos, se engana, ela esbanja bom humor. Tratou de rir porque estava viva. “Não vou romantizar o fato de perder uma perna. Eu encarei que não temos controle sobre nossa vida e às vezes a gente se apega a coisas tão pequenas. Eu quero é viver”, destacou.

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