Para o pesquisador, o caso de Sinimbu exige um estudo aprofundado sobre os efeitos da enchente e a reorganização da ocupação do solo
Ao caminhar pelo centro de Sinimbu, um ano após a enchente que assolou o Vale do Rio Pardo, ainda é possível ver as cicatrizes deixadas pela força das águas. Embora a maioria dos imóveis tenha sido restaurada e o comércio retomado poucas semanas após, há marcas visíveis da destruição. Algumas áreas seguem abandonadas e a Ponte Centenária continua inativa, à espera da recuperação que foi adiada por entraves na licitação.
Os paralelepípedos arrancados em alguns trechos da Avenida General Flores da Cunha, a principal via da área urbana, ainda não foram recolocados e a sede da Prefeitura opera apenas no segundo pavimento, já que o térreo foi invadido pela enchente. Segundo o prefeito Wilson Molz, antes de retomar o aspecto estético da cidade, é necessário concluir a limpeza das galerias e tubulações, tarefa que ainda está em andamento.
Diante desse cenário de reconstrução, o Grupo Arauto ouviu especialistas e pesquisadores ao para entender os caminhos possíveis para a adaptação aos eventos climáticos extremos. Um dos entrevistados é o professor Rogério Leandro Lima da Silveira, do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc). Ele alerta para a urgência de repensar a ocupação urbana, especialmente em áreas de risco como a proximidade do Rio Pardinho, em Sinimbu.
“Esse é o grande desafio dos municípios da nossa região dos Vales. São cidades colonizadas no século XIX, por imigrantes italianos e alemães, que foram se estabelecendo às margens dos rios. Agora, com a recorrência dos eventos extremos, precisamos pensar com muita atenção a localização das nossas cidades”, afirma Silveira.
Para o professor, o caso de Sinimbu exige um estudo aprofundado sobre os efeitos da enchente e a reorganização da ocupação do solo. Ele defende que novas construções, especialmente comerciais e industriais, não devem ser estimuladas em áreas suscetíveis. Em locais já consolidados e atingidos, deve-se avaliar a possibilidade de realocar estruturas para diminuir futuros prejuízos.
O professor reforça que o problema não se resolve apenas com obras emergenciais. É necessário um planejamento de médio e longo prazo, que inclua a reestruturação dos marcos legais, como os planos diretores e os planos de uso e ocupação do solo. “É natural que, após a tragédia, as prioridades sejam salvar vidas, reconstruir pontes, restabelecer contatos, mas não podemos deixar que, com o tempo, o debate estrutural vá se apagando”, defendeu.
O pesquisador chama atenção ainda para a dificuldade que muitos pequenos municípios enfrentam para executar essas mudanças. A escassez de recursos financeiros e técnicos, a dependência de repasses e a falta de pessoal especializado tornam o desafio maior. Por isso, ele defende um papel mais ativo dos governos estadual e federal, com investimentos em capacitação, parcerias com universidades e criação de consórcios intermunicipais.
A fala do professor é um dos destaques do podcast que o Grupo Arauto produziu sobre o primeiro ano das enchentes em Sinimbu. Ouça:
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