Faz um tempo eu estava no aeroporto de manhã muito cedo e entrei numa fila pra pegar um café.
Faz um tempo eu estava no aeroporto de manhã muito cedo e entrei numa fila pra pegar um café. O cara dois lugares na frente da fila me reconheceu, pediu pra tirar foto, o que causou uma bagunça na fila e, quando vi, eu tinha passado na frente de uma senhora, sem querer. “Opa, furei fila, pode passar senhora”. Ela então me respondeu: “não, pode ficar. Todos os dias tento fazer uma gentileza, hoje já vou bater minha meta antes das seis da manhã”. E sorriu.
Me esquentou o peito. Além de ser gentil, aquela senhora fez parecer que eu estava fazendo um favor a ela. Achei o auge da generosidade. Me inspirou. Resolvi passar aquilo a diante. Passei, a partir daquele dia, a tentar fazer o mesmo: uma gentileza por dia. Uma gentileza por dia que faça o dia de outra pessoa mais leve, mais feliz, mais esperançoso. Melhor.
Seguiu-se, então, o ano da gentileza. Ajudei pais com bebês nos aeroportos, sempre auxiliei senhoras com malas no avião, dei meu lugar inúmeras vezes para pessoas que estavam precisando, deixei cafés pagos em padarias para a próxima pessoa. Dei gorjetas generosas para bons Ubers e entregadores. Os presentes que ganhei em palestras ficaram pelo caminho, com crianças, motoristas, recepcionistas de hotel. Eu tinha uma meta. Uma gentileza por dia.
Sempre que alguém estava precisando de ajuda, eu estava lá. Com o passar do tempo, meu ano da gentileza virou um hábito. Se via uma criança, cuidava. Um idoso, ajudava. Uma pessoa, perguntava como poderia ajudar. Esses dias, me ocorreu uma coisa bonita: todo idoso é minha mãe, toda criança é minha filha, todo adulto é meu irmão.
Cada senhora que eu ajudava a carregar compras do supermercado, cada carrinho de criança que eu ajudava a dobrar para entrar no avião, cada pessoa que eu permitia passar na minha frente na fila, era como se fosse alguém da minha família.
O ano da gentileza, aos poucos, vai ultrapassando a barreira dos 365 dias. Vai se tornando parte do cotidiano, desse passeio bonito que é a vida. Vai chegar um dia que não terei forças pra ajudar os outros, levar suas sacolas, levantar uma mala no avião. Contudo, continuarei a permitir que me passem na frente nas filas. Na esperança de que uma faísca de gentileza possa acender uma fogueira no coração de alguém.
Marcos Piangers