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Quem transformou o Natal de quem?

Publicado em: 25 de dezembro de 2019 às 16:41 Atualizado em: 21 de fevereiro de 2024 às 21:05
  • Por
    Rafael Henrique de Oliveira Santini da Cunha
  • Fonte
    Jornal Arauto
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    Fazer um Natal diferente. Essa foi a proposta da residência geriátrica ao levar os idosos até as crianças do CRAS, em Vera Cruz

    Calor que ultrapassa 30 graus na tarde do dia 18 de dezembro, quando 10 idosos da residência geriátrica Viver Bem, do centro de Vera Cruz, partem para uma aventura diferente. Não chega a ser uma aventura, mas é encarado quase como isso. Numa van, saem rumo ao bairro Boa Vista, onde fica o Centro de Referência da Assistência Social (CRAS), que atende 30 crianças e jovens de seis até 14 anos. Esse foi o destino de 10 idosos. Mas a preparação começou bem antes para este dia diferente, conta a proprietária da residência, Vânia Schlesener.

    A preocupação com o próximo, a socialização, a integração com as crianças, tudo isso é considerado muito válido no dia a dia e foi trabalhado com eles. “O Natal é momento de sensibilização também com os familiares, envolvemos eles na ação, adotando crianças para presentear”, revela Vânia, que ainda providenciou lanches para a integração das crianças com os idosos. Vovôs e vovós entraram na brincadeira e embalaram os presentes, também produziram as tradicionais bolachas de Natal e quem teve condições de saúde, participou da breve excursão de poucos minutos que separam a residência geriátrica do CRAS.

    Com direito a músico a bordo e Papai Noel, as canções natalinas embalavam a van até estacionar na estrada de chão batido. Os passos lentos e as cadeiras de rodas foram se aproximando dos rostinhos infantis que estavam atentos, em silêncio incomum. Até o pequeno com nome sugestivo Natanael do Nascimento, de cinco anos, dizer: “quero dar um abraço em todas as vovós”, muito antes de ter seu nome chamado para ganhar presente. Essa troca de afeto que não tem preço e aconteceu.

    Muitos dos idosos que estão no residencial apresentam a doença de Alzheimer, conta Vânia, que vai comprometendo a memória, mas ao reviver este sentimento de doação, ajuda ao próximo e solidariedade, muitos idosos acabaram recordando o trabalho comunitário que desenvolveram ao longo da vida. E quanto isso faz bem. “Todos amaram, estavam realizados, com a sensação de dever cumprido, passam a valorizar o que têm de uma forma diferente”, frisou Vânia, destacando o próprio relato no trajeto de volta. Cassilda Edith Schilling, de 90 anos, recorda de muito já ter se dedicado a causas sociais, especialmente voltadas a deficientes físicos, e neste dia poder fazer a alegria de crianças em situação de vulnerabilidade social é algo muito feliz. Os que convivem com dona Edith presenciaram crianças como Natanael brincar feliz da vida com seu caminhão repleto de bichinhos da fazenda. Ou como Nathália Rodrigues, com uma boneca quase maior do que ela, e fez questão de sentar no colo da “vó Edith” para esbanjar sorrisos.

    Da coordenadora do CRAS, Luciméri Eisenhardt, as vovós, os vovôs e colaboradores do residencial ouviram que para muitas crianças aquele talvez seja o único presente. Aliás, contato com a figura dos avós, talvez muitos nem tenham. Um abraço, assim, quem sabe?

    Muitas fotos e vídeos foram feitos para eternizar este momento único, para as crianças e para os idosos. O dia em que os vovôs e as vovós da Viver Bem saíram da residência para visitar o CRAS. Talvez não dure muito tempo na memória deles, mas ficará para sempre no coração.