Hoje em dia, com a facilidade do correio eletrônico e a instantaneidade do WhatsApp, é raro quem mande cartões pelos Correios
Quem ainda envia ou recebe cartas pelos Correios? E os típicos cartões de Natal, com aquelas lindas mensagens, desenhos coloridos, desejos de prosperidade para toda família? Em tempos virtuais, em que a comunicação é facilitada e instantânea pelas redes sociais, os cartões se multiplicam ao serem encaminhados em grupos, linhas de transmissão, como uma produção em série, muitas vezes sem nem saber o destinatário. Já se foi o tempo que cada recado era pensado e escrito a próprio punho, com a individualidade necessária, não é mesmo? Já se foi?
Não, ainda não. Existem alguns remanescentes para salvar as tradições. Uma delas é a santa-cruzense Isis Schöninger, que desde 1991 cultiva uma linda amizade que veio a se fortalecer por meio dos cartões de Natal enviados pelo Correio.
Tudo começou quando o filho de uma amiga de Isis foi morar nos Estados Unidos e se apaixonou por Margaret, a Maggie, como carinhosamente passou a chamar. O casal veio ao Brasil passear, chegou a Santa Cruz e a família Schöninger hospedou Maggie em sua casa, por cerca de 10 dias. Neste período, ainda que não tenha a fluidez no idioma americano, as duas conseguiram estabelecer um vínculo incrível, laços que se estenderam por toda família. O namoro da americana com o brasileiro acabou, Margaret retornou e ele seguiu a vida, casou, mas sofreu com um câncer fulminante, terminal.
Mas a história não termina aqui. Ela apenas está começando. Maggie e Isis nunca deixaram de manter contato, apesar dos milhares de quilômetros que as separam.
Margaret casou, a família Phillips aumentou com um casal de filhos, a Caitlin e o Christopher. Empreendeu, descasou. Por aqui, Isis relatava como estava a família, o crescimento das crianças que ela chegara a conhecer: a Gabriela, a Neíse e o Nei Antonio. Tudo estava descrito em cartas que iam e eram respondidas, em inglês, sempre acompanhadas do cartão de Natal, às vezes com algum presentinho. Mas sempre, sempre com uma fotografia da família.
Isis confessa que guarda com todo carinho este verdadeiro álbum de memórias da amiga estrangeira, um documento que mostra a evolução dos filhos de Maggie. O cartão era feito com a própria fotografia dos filhos, algo típico para os americanos, e que a santa-cruzense acha lindo, artístico. “Não é à toa que americano gosta tanto de fotografia. Quem não pega essas fotos e não se emociona? Foto é documento, eterniza um momento, é lindo”, sublinha a santa-cruzense, encantada.
Com isso, ela faz questão de anexar ao cartão de Natal que envia a cada ano uma foto de família também, para Maggie ver como estão Dilson, o seu marido, além dos filhos, nora, genros e a netinha Julie, de apenas cinco anos. Além das cartas, elas até têm o acesso pelas redes sociais para conversar, e quem não tem hoje em dia? Mas Isis confessa quem nem pensa em perder o vínculo criado e fortalecido a partir das cartas. “Tudo globalizou, mas conseguimos manter isso (esta conexão por meio do papel). Apesar da passagem do tempo, mantemos este vínculo, esta amizade e aquela expectativa do que vem pelo Correio, que é escrito especialmente para mim, detalhando coisas da família, não uma mensagem automática, só encaminhada”, enaltece Isis, que guarda com carinho os cartões que comprovam uma amizade de quase três décadas e que alimenta um novo plano: de matar a saudade pessoalmente, mas em solo americano.
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