Oftalmologista, referência no município, já sente saudades de tudo que construiu em 50 anos
A famosa frase "Faça o que você ama e você não precisará trabalhar um único dia de sua vida" combina com o amor que Antônio Carlos Crossetti Gontan sente por sua profissão. O santa-mariense, que construiu sua história como oftalmologista em Santa Cruz do Sul, anunciou nesta semana sua aposentadoria à coluna Feed de Negócios. Após 50 anos ininterruptos, Dr. Gontan – com aperto no peito – disse adeus ao consultório, aos pacientes e a uma trajetória linda que já deixa saudades.
Tudo começou em 1965, quando concluiu o curso de Medicina em Santa Maria. Foram cinco anos de preparação, trabalho e aulas em universidade federal até que um convite veio: atuar em Santa Cruz do Sul. Incentivado pelos colegas Ibanez Lara e Sandor Hoppe, Gontan veio ao município e logo se apaixonou. "Larguei meu cargo federal e vim me aventurar", conta. Ao lado da esposa Rosalie, construiu família, carreira e colecionou clientes. Como cirurgião, conquistou um espaço importante na medicina santa-cruzense e auxiliou para que tudo desse certo, mesmo sem as tecnologias dos dias atuais.
Um ano depois, trouxe o médico Nadir Costa para o time. "Foi uma década trabalhosa, com muito volume de trabalho. O Costa atendia as emergências do Hospital Santa Cruz (HSC) e eu as do Ana Nery. Trabalhávamos 11 horas por dia e era difícil a noite em que não éramos chamados", recorda. Gontan ainda lembra da primeira cirurgia que realizou: um menino de Encruzilhada do Sul havia cortado o olho com uma faca, em um acidente durante um conserto improvisado de violão. "Quando eu vi, me assustei, mas deu tudo certo. Pra mim e pra ele", alegra-se.
Foi assim que o especialista se encantou ainda mais pela profissão: ajudando pessoas, aprendendo com os colegas – especialmente com os doutores Farid Abed, Martim Panke e Douglas Weiss – e se sentindo em casa, mesmo no trabalho. Com o doutor Alvaro Correa, por exemplo, a relação que poderia ser de concorrência foi de lealdade, amizade e reconhecimento. "Ele se importava tanto comigo que ele chegava na sala de espera dele, olhava para a multidão e dizia: daqui pra lá vocês podem ir para o outro oftalmologista, que é muito bom", conta. Em meio a amizades e conquistas, 50 anos se passaram.
"Quero ver eu me acostumar"
Aos 81 anos e há 10 sem realizar cirurgias, o doutor Gontan percebeu que era o momento de parar. Anunciou sua aposentadoria aos colegas da clínica Oftalmoklinik e um filme passou em sua cabeça. Seja aos 20 anos, na preparação para o vestibular. Seja na primeira cirurgia. Seja trabalhando na Rua Marechal Floriano, Carlos Trein Filho ou na Marechal Deodoro. O reconhecimento e o carinho de Santa Cruz do Sul pelo oftalmologista mais tradicional do município são sentidos por Gontan, que lamenta precisar parar.
Quando olha para o passado e lembra tudo que viveu, o sentimento é de gratidão por todos os passos. Desde quando não havia tecnologias suficientes para facilitar o trabalho e as especializações vinham de livros e conversas. Ou quando passou a atuar com os equipamentos atuais e percebeu a evolução da medicina. "É uma profissão apaixonante, que fico triste de deixar. Nos últimos anos, chegava cansado do trabalho. Parecia que tinha corrido uma maratona. Ninguém é eterno", fala.
Porém, embora tenha finalizado suas atividades em consultório, seu legado fica. Na terra da Oktoberfest, o pai de Rodrigo e Fabrício quer continuar compartilhando momentos com quem ama, no município em que escolheu para chamar de seu. "Santa Cruz do Sul não é minha terra natal, mas é a terra que vou viver até morrer. Eu me adaptei aqui de uma maneira que eu não conseguiria viver fora daqui", pontua o médico que, embora aposentado, jamais será esquecido.