Muitos agricultores viram a chuva se transformar em mar em suas propriedades. Humberto Weiss, de Sinimbu, foi um deles
Quase três meses já se passaram desde que a chuva, por tantos verões tão pedida e aguardada pelos agricultores, se tornasse literalmente um tormento. Em Sinimbu, no Vale do Rio Pardo, uma tragédia nunca antes vista se abateu por todos os cantos, do interior ao centro. Pontes caídas, estradas interditadas, construções demolidas, lama por todo lado. O cenário de horror não sai da mente de quem viveu o fim de abril e o início de maio deste ano. A enchente levou muita coisa embora, deixou prejuízos que talvez ainda não sejam quantificáveis. Mas nem tudo ela levou. E é sobre isso que o 25 de julho comemora hoje, no Dia do Colono e Motorista.
Humberto Weiss mora na localidade de Linha Rio Pequeno, em Sinimbu, há 21 anos. Lá ele produz tabaco, o carro-chefe da propriedade, além de milho, soja, pastagem e toda a diversificação para a subsistência da família. Formado técnico agrícola, ele chegou a trabalhar na cidade, em uma multinacional, mas não tardou a voltar para as suas raízes, para o que lhe traz felicidade. Mesmo quando o destino impõe tantas barreiras. Humberto é agricultor com orgulho e reconhece: ali é o seu lugar, o seu chão, mesmo que precise recomeçar.
A água chegou próxima dos dois metros de altura em sua casa. Destruiu um galpão e dos que sobraram de pé, nada mais estava limpo. O lodo ficou como recordação. Carregou implementos que precisam de conserto, derrubou eucaliptos. “A gente não sabe o que tem embaixo dessa água, vamos sair antes de começar a desmoronar e ver a casa se desmanchar. Sentar e chorar não adianta. Vamos embora”, disse à família quando a água subia rapidamente, naqueles dias de enchente. Na casa do vizinho, no alto do morro, cerca de 30 pessoas se refugiaram.
Os prejuízos são incontáveis, mas Humberto nem pensou em sair da morada que o pai comprou. É a persistência e a resiliência unidos à vocação que o movem. “Sempre gostei da agricultura, é desafiador, às vezes desanima, mas não dá para desanimar”, frisa. “Eu nunca pensei que ia viver algo assim”, resumiu ele, que mora em frente ao rio Pequeno e até via ele sair do leito vez ou outra, mas jamais nessa proporção, como se fosse mar aberto. “Levou tudo, lavouras, as árvores…”. Mas não a esperança.
As contas, os investimentos, precisam ser pagos, prorrogados, porque lidar com prejuízo é inevitável. Mas desanima? “Não, não desanima”, atesta ele, enquanto vislumbrava a área que era destinada à soja e que ficou completamente submersa. O tabaco havia sido todo vendido cerca de 15 dias antes da enchente, um alento à família. E agora, prepara as mudas para um novo ciclo, como recomeço, um novo ânimo depois de semanas tão turbulentas. Logo logo elas serão transplantadas para a terra e uma nova safra de tabaco toma forma. E assim, as esperanças se renovam, junto da vontade de prosperar no campo, de garantir o sustento da família, de ser feliz com a profissão que escolheu e foi escolhido.
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