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Em busca de desafios, santa-cruzense pedala até a Argentina

Publicado em: 25 de janeiro de 2017 às 16:27 Atualizado em: 19 de fevereiro de 2024 às 11:47
  • Por
    Luiza Adorna
  • Fonte
    Portal Arauto
  • Foto: Arquivo Pessoal
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    Professor universitário e jornalista, Demétrio de Azeredo Soster realizou, em 10 dias, a Operação Banda Oriental

    Foram 10 dias, 1.130 km, muitos encontros e barrinhas de cereais. A viagem de bicicleta de Santa Cruz do Sul à capital da Argentina, em Buenos Aires, rendeu mais do que esforços físicos para o professor universitário e jornalista Demétrio de Azeredo Soster. Ele colecionou momentos e ainda reconheceu, nele mesmo, um outro ser humano, esquecido no tempo. Nomeada Operação Banda Oriental, a pedalada, que iniciou no Bairro Santo Inácio, onde mora, o fez entender que o mundo é grande demais para vivermos isolados no comodismo.

    Com 49 anos, Soster saiu, com sua bicicleta Canondale, apelidada de La Negra 2, rumo a outro país. Em casa, sua esposa e seus filhos demonstravam apreensão e medo. Mas, mesmo assim, o apoiavam. Foram meses de preparo e que podem ser lidos por aqui. Foram quase 13 kg a menos e muitas pedaladas até Sinimbu, Rio Pardinho, Encruzilhada, Pantano, Barros Cassal e General Câmara como teste. Enquanto isso, a vontade de viajar mais longe só aumentava. Há dois anos, ele e a sua família viajaram de carro pela costa do Uruguai até Colonia del Sacramento e de lá de volta ao Brasil, pelo Chui. “Lembro que, no caminho, vi muitos ciclistas na beira da estrada, de onde despertou minha vontade e nasceu o projeto Operação Banda Oriental. Banda Oriental é como se chamava Uruguai antigamente”, conta.

    Com dois alforges pesando 30kg, a viagem tornou-se ainda mais ousada. A preparação física foi, realmente, importante. Uma barraca, uma manta, uma rede, barrinhas produzidas por ele mesmo, roupas para o verão, mas também para o frio. Foram muitos os itens carregados pelo professor. Soster dormiu em muitos postos de gasolina, em hostels, em hotéis e em um sítio em Vau dos Prestes, entre Canguço e Encruzilhada do Sul. Conheceu muitas pessoas, tantas que não saberia calcular. “Não faço a menor ideia, mas sinto saudades de todas elas”, diz.

    Sozinho, ele viajou até Montevidéu. Lá, encontrou dois amigos, Lincoln Paiva e Emerson Rodrigo Lacerda, que vinham de Porto Alegre e, os três, decidiram seguir juntos. Junto com Soster, também estava o chimarrão e a térmica. O mate, tão amado pelo jornalista, não ficaria de fora dessa aventura. Além das barrinhas, ele se alimentava de ala minutas, chivitos (comida uruguaia), PF de beira de estrada, sanduíches e comida de acampamento (massa com linguiça, principalmente). Depois de tantos quilômetros, um choro derramado de emoção em um dos vídeos gravados e muitas histórias para contar, Soster chegou. Chegou, passou um dia em terras argentinas, e retornou ao Brasil de ônibus. 

     

    • Sentiu medo?

    Medo, não. Apreensão em algum momento. Como quando, por exemplo, pedalava pela Rota 9, em direção a Braga, e anoiteceu em meio a nada e lugar algum, faltando cerca de 30 km para a cidade. Ou ao chegar em Montevideo e me dar conta que a cidade era grande demais e que eu deveria ter reservado um hostel antes de partir, o que não fiz, claro. Ou, ainda, quando, ao chegar à Reserva do Taim, a estação ecológica, onde eu dormiria, estava fechada e tive de seguir, então, adiante, sem ideia de onde iria dormir.

    • Novos objetivos

    De Bike, provavelmente, Chile. A pé, o Caminho de Santiago (oficial, da França para Espanha), este em 2018, em princípio.

    • Livro contará histórias

    Um livro será escrito para narrar as aventuras da viagem. O formato ainda não foi decidido, mas nele vai conter a preparação e a viagem propriamente dita. Durante as noites, Soster escrevia sobre seus dias, com um papel e uma caneta. Ele ainda levava um netbook junto, uma GoPro e um celular.

    • Do que se arrependeu?

    Me arrependi de não ter comprado uma barraca mais adequada. A que eu levei não aguentaria uma chuva forte. Isso, de certa forma, influenciou na decisão de voltar por Buenos Aires, e não por Riveira/Santana do Livramento, como pretendia inicialmente.

    • O que diria para as pessoas que têm medo de ousar e de ir atrás de seus sonhos e desejos?

    Ousem. Vão atrás de seus sonhos. Não tenham medo de desejar. Lembrem que o medo, na medida certa, tempera a vida; em exagero, ou pouco, estraga tudo. Joguem-se, pois tem um mundo inteiro à nossa espera lá fora. Parti em em busca de alguém que ficou para trás em minha vida há muito tempo. Não sei se o encontrei, mas, desconfio, cheguei perto. Talvez eu precise viajar novamente para encontrá-lo – este foi o primeiro passo, e é muito provavelmente o que eu farei logo ali adiante. Tudo isso, junto, penso, faz da gente alguém melhor. Lembro que, quando eu estive cansado, e pensei em encurtar minha viagem, foi minha filha, Verônica, quem disse: “Tudo bem pai, haverá outras viagens”. Também lembro que meu filho, Pedro, me perguntou, ao telefone, como eu havia apreendido a falar espanhol – crianças são gentis; meu espanho é tosco! – e aí eu contei pra ele sobre o que eu estava vivendo e tals, e ele então curtiu demais tudo isso. Entende o que eu digo? Especificamente como jornalista, busco, desde há muito, novas narrativas. Esta é uma delas. A primeira, diria.