Tempo do Epa

  • Por
    Carolina Almeida
  • Tempo do Epa

    Do tempo da casquinha que quebrava

    Publicado em: 18 de abril de 2025 às 10:36
    PINTAR CASQUINHAS PARA A OSTERBAUM VIROU TRADIÇÃO | CAROLINA ALMEIDA/ GRUPO ARAUTO
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    Lembro como se fosse hoje da dificuldade que tive em encontrar, certa feita, meu ninho escondido num milharal. Acho até que mais legal do que o chocolate que estava dentro era a tarefa da caça ao tesouro

    No meu tempo, tradição de Páscoa era pintar casquinha de ovo. E, claro, ovo que quebra, o da galinha mesmo, nada dessas coisas de plástico que tem agora, mas que – confesso – vieram para facilitar bastante a vida de nós, mamães. Adorávamos o dia da pintura com tinta guache ou papel crepom, se podíamos usar glitter, então, era o top da satisfação da criançada. Lembro que minha vó Dori nos acompanhava em muitas produções e ela tinha uns adesivos diferentes, que descolavam com a água para fixar na casquinha. Era lindo.

    OLÍVIA E O COELHINHO FEITO PELA FINADA BISAVÓ | CAROLINA ALMEIDA/ GRUPO ARAUTO

    E depois de feito o cri-cri em casa, tradição mantida na minha família, pelo menos, o “Coelhinho” ia encher as casquinhas com o amendoim para colocar no ninho. E essas cestas, de vime, eram cuidadosamente escondidas pela casa e pelo quintal. Lembro como se fosse hoje da dificuldade que tive em encontrar, certa feita, meu ninho escondido num milharal. Acho até que mais legal do que o chocolate que estava dentro era a tarefa da caça ao tesouro. Sem contar no coelhinho de tecido costurado pela vó, numa época em que não tínhamos pelúcia. Ainda guardamos com carinho para mostrar às nossas crianças.

    Das tradições, essa era a que mais nos envolvia na infância. Claro que sempre houve o peixe na Sexta-feira Santa, mas até certa idade eu só comia sardinha, não era lá muito fã, só mais velha que aprendi os prazeres da iguaria. Especialmente lembro do bolinho de peixe da vó e mais tarde, da receita do “peixe escabelado” da amiga Luci. Mas dos rituais, também segue viva a colheita da macela, ainda que cada vez mais rara de se ver.

    Pois hoje em dia, existe a Osterbaum, que tem um significado bem bacana. Mas na minha infância nem sonhávamos com a árvore seca que ganha casquinhas e se enche de cor para mostrar a renovação da vida. A tradição alemã acabou ganhando força por aqui e hoje em dia não tem ano que passe que deixo de fazer com meus filhos, na mesa de casa, assim como minha mãe faz questão de fazer para envolver os netos.

    Trago essas tradições para enaltecer a data cristã comemorada neste domingo, mas que mexe com a gente na hora de montar a árvore (assim como o pinheirinho no Natal), com o cri-cri (igual a bolacha de Natal), os ninhos, as pegadas pelo chão, a celebração na igreja, a refeição com peixe… e especialmente na hora de refletir sobre a renovação da vida. Sobre começos e recomeços e o quanto o significado da Páscoa é atual para todos nós.