Duas doenças afetam gravemente nosso tempo: a pressa e o barulho. Estamos sempre com pressa e sempre atrasados. Já o silêncio parece ser insuportável. Passamos a vida em alta velocidade e não reservamos pausas para ver e escutar. Não apreciamos a paisagem e não escutamos as vozes que soam dentro de nós.
Um fazendeiro perdeu, no celeiro, um relógio, muito valioso e de grande valor sentimental. Após extensa e inútil procura, recorreu à ajuda de um grupo de crianças e prometeu uma valiosa recompensa para quem encontrasse o relógio. Quando o fazendeiro estava prestes a desistir, apresentou-se um novo candidato. Um menino pediu uma oportunidade; ele certamente encontraria o relógio.
Depois de algum tempo, sorridente, o menino saiu com o relógio na mão. Todos ficaram admirados e o fazendeiro quis saber como conseguiu encontrar o objeto. Muito simples, esclareceu o menino. Eu não fiz nada, apenas fiquei sentado no chão. No silêncio eu escutei o tique-taque do relógio e, sem dificuldade, caminhei na direção certa.
Porque corremos e atrás do que corremos? Nossa resposta é confusa e não podemos encontrar algo se não sabemos exatamente o que é. Pior ainda: temos receio de encontrar a resposta verdadeira. Identificamos o silêncio com o vazio. Na realidade o silêncio é cheio de luz e sentido.
É no silêncio da terra que a semente germina; é nas águas profundas e silenciosas que a pérola se forma. É no silêncio que o artista imagina poemas e catedrais. É no silêncio de um seio materno que a vida se desenvolve.
No passado, místicos procuram o deserto, como horizonte para encontrar a Deus e com isso dar um significado à própria vida. Não podemos hoje buscar as areias infinitas e solitárias dos desertos. Devemos recuperar pequenos espaços de deserto em nosso dia, no silêncio e na tranquilidade. Uma mente em paz pensa melhor do que uma mente confusa e agitada. Em alguns minutos de deserto, em cada dia – em silêncio e sem pressa – podemos escutar a voz de Deus que nos conduzirá na direção certa e nos ajudará a definir a vida.
Não podemos imitar baratas tontas, correndo em alta velocidade, sem saber para onde ir. A especialidade do homem é o ruído e a pressa; a especialidade de Deus é o silêncio.