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ARTIGO DE OPINIÃO

Santa Cruz é uma cidade arborizada?

Publicado em: 18 de fevereiro de 2025 às 10:54 Atualizado em: 18 de fevereiro de 2025 às 11:21
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Artigo de opinião da arquiteta e urbanista Fernanda Antonio, mestre em Tecnologia da Arquitetura pela USP

Fernanda Antonio

Arquiteta e Urbanista pela UFRGS | Mestre em Tecnologia da Arquitetura pela USP

Desenvolve projetos sustentáveis na escala arquitetônica e urbana | Integra o Departamento de Mobilidade Urbana do Clube Santa Ciclismo

 

Nos últimos dias, temos lidado com a perda de algumas das tipuanas do nosso Túnel Verde, em decorrência das intervenções para a requalificação da Rua Marechal Floriano. Há poucas semanas, estávamos enfrentando uma alta de temperaturas sem precedentes, com um impacto considerável na nossa qualidade de vida. Temos a (falsa) sensação de que Santa Cruz do Sul é uma cidade arborizada, mas não é. Temos um cinturão verde que está se convertendo em áreas urbanizadas por loteamentos e condomínios, e o túnel verde, que é nosso cartão-postal. No entanto, se passearmos pelas nossas cidades, a pé ou por imagens aéreas, podemos facilmente perceber a escassez de arborização urbana efetiva ao longo das ruas. Em muitos locais, encontramos árvores de pequeno e médio porte, muitas delas com podas que não permitem um desenvolvimento das copas que proporcione sombreamento efetivo. Além disso, temos diversas vias sem qualquer vegetação.

Em tempos de mudanças climáticas, com períodos de calor extremo cada vez mais frequentes, me parece fundamental implementar estratégias que ampliem a arborização das nossas ruas. A arborização urbana gera inúmeros benefícios para as cidades, impactando enormemente a habitabilidade urbana e as condições de conforto para a população. Além dos benefícios relacionados ao microclima urbano, Jeff Speck, autor do livro Cidades Caminháveis, afirma que “por terem um impacto tão forte na caminhabilidade, árvores de ruas têm sido associadas a melhoras significativas tanto no valor dos imóveis como na viabilidade do varejo”. O autor salienta ainda que “as comunidades seriam financeiramente irresponsáveis se não investissem, pra valer, em árvores”.

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No dia 23 de janeiro, registrei algumas imagens da área central da cidade com uma câmera térmica. Apesar da margem de imprecisão nos dados coletados, é nítido o impacto do túnel verde nas condições de conforto e habitabilidade urbana. As áreas com sombreamento efetivo das copas das árvores apresentam uma temperatura quase 20°C mais baixa do que as áreas expostas à radiação solar. Essa diferença é muito expressiva e impacta profundamente no conforto urbano, podendo ser determinante para que a nossa comunidade passe a aderir de fato à mobilidade ativa (deslocamento usando a energia do próprio corpo). Apesar da margem de erro da imagem térmica, essa variação de temperatura entre área sombreada e área exposta ao sol é respaldada por publicações técnicas da área de pesquisa de conforto urbano.

RUA RAMIRO BARCELOS, NO TRECHO ENTRE A MARECHAL FLORIANO E A RUA TENENTE CORONEL BRITO

RUA MARECHAL FLORIANO PEIXOTO, NO TRECHO ENTRE AS VIAS RAMIRO BARCELOS E FERNANDO ABOTT

Na nossa cidade, apesar de ainda termos áreas verdes como as massas de vegetação nas áreas de morro que circundam a cidade ou em lotes que preservam sua vegetação, a arborização urbana ao longo das vias deixa muito a desejar. Alguns movimentos que qualificam espaços para pedestres, como a ampliação dos calçadões da Rua Marechal Floriano, avançam na rua principal da nossa cidade, mas há grandes oportunidades de ampliar significativamente a arborização de Santa Cruz do Sul para além dessa rua. A cidade possui, em boa parte de sua área urbana, um perfil viário que comporta arborização de porte, e é um desperdício não investir para tornar Santa Cruz do Sul efetivamente mais verde, mais caminhável, mais bela, mais saudável e mais confortável.