Tem uma frase, cunhada e forjada nos caldeirões fumegantes e incandescentes das redes sociais, que diz. “Foguete não tem ré”. Mas e a vida, tem?
Tem uma frase, cunhada e forjada nos caldeirões fumegantes e incandescentes das redes sociais, que diz. “Foguete não tem ré”. Mas e a vida, tem?
Eu tenho uma amiga, daquelas amizades de sagrado e precioso afeto. Esta amiga, há um tempo que já estava esquecido, foi impactada com a notícia de uma doença triste e, quase sempre, devastadora. Daquelas notícias que arrepiam os pelos da alma. Um filho pequeno, uma casa novinha que ainda ganhava o jeito e o perfume dos donos, um futuro a viver com a leveza que ela, a minha amiga, sempre teve. Mas aí veio a doença e foi preciso parar. Voltar um pouco nos planos que ela traçou na rota do destino. Recuar, reajustar a direção, para engatar nova marcha e corajosamente ir em frente. E ela foi. Tratou como tinha de tratar, tomou os remédios que o corpo precisou e ainda todos aqueles que o espírito exigiu nos momentos em que fraquejou. E venceu. Curou a doença e embalou a vida, sempre para frente. Afinal, “foguete não tem ré”. Mas e a vida, tem?
Passados anos que ela não contou, um exame, com pontinhos brilhantes de angústia e apreensão, foi impiedoso. A doença voltara, estava lá de novo. E de novo a vida matreira exigindo marcha à ré nos planos de ampliar a casa, de comprar um carro novo, de viajar sem pressa e sem rumo, de viver sem olhar para trás.
Tem uma frase no filme Tudo acontece em Elizabeth Tow que diz assim: “Você tem 5 minutos para mergulhar na tristeza profunda. Aproveite, desfrute, descarte… e siga em frente!". Na vida, tem ré! A vida não é viagem de se andar só para frente. É caminho arteiro e manhoso que volta e meia exige parar, respirar, buscar força e coragem resiliente, para voltar e começar de novo. Tudo de novo. Para achar nova rota e embalar outra vez.
A minha amiga, amiga de sagrado afeto, teve de parar. E duas vezes recuar, achar um outro caminho para andar de novo. E vai, vai andar leve, na viagem para a felicidade. Porque “foguete não tem ré”. Mas a vida, tem!
Luciano Almeida