Geral e Covid 19

“Essa pesquisa pode salvar milhares de vidas”, esclarece UFPel em nota sobre estudo com testes de Covid-19

Publicado em: 17 de maio de 2020 às 15:22 Atualizado em: 22 de fevereiro de 2024 às 09:42
  • Por
    Milena Bender
  • Fonte
    Portal Arauto
  • Foto: Divulgação
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    Instituição se manifestou após pesquisadores enfrentarem dificuldades para coletar dados. Em alguns municípios, equipes foram detidas

    A Universidade Federal de Pelotas (UFPel) divulgou uma nota neste domingo (17), para esclarecer a população sobre o maior estudo populacional feito 133 municípios de todo o país – entre eles Santa Cruz do Sul – com testes de Covid-19. Os pesquisadores, coordenados pela instituição e em parceria com o Ministério da Saúde e Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (Ibope), mesmo identificados, estão enfrentando dificuldades para coletar os dados nas residências.

    De acordo com a nota, em cerca de 30 cidades do interior do país, as equipes aguardam autorização dos gestores municipais para coletar os dados e aplicar a pesquisa. Em alguns casos, os pesquisadores chegaram a ser detidos pela polícia. A Universidade lamentou as "situações constrangedoras" que as equipes de pesquisa vêm passando e salientou que se tratam "de cerca de 2.000 brasileiros e brasileiras, que estão trabalhando para sustentar suas famílias, numa pesquisa que pode salvar milhares de vidas".

    A nota afirma que as equipes "mereciam a proteção das forças de segurança e uma salva de aplausos por parte da população", mas que, em vez disso, "as forças de segurança em algumas cidades foram responsáveis por cenas lamentáveis e ações truculentas". Ressalta ainda por mais que a comunicação do Ministério da Saúde às cidades tenha chegado perto do início das coletas, "nada justifica o comportamento de 'xerifes' assumido por alguns gestores municipais, que impedem ou atrapalham a realização de uma pesquisa que pode ajudar a salvar milhares de vidas".

    A UFPel finalizou a nota salientando que, apesar dos ocorridos, as equipes vão seguir trabalhando até a terça-feira (19), "para garantir que o maior estudo populacional sobre coronavírus do país continue, e que no final, nossos pesquisadores sejam aplaudidos, e não agredidos".

    Confira a nota na íntegra:

    "EPICOVID19: uma pesquisa para salvar vidas

    A administração da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) vem a público prestar necessários esclarecimentos sobre a pesquisa EPICOVID19-BR, o maior estudo populacional sobre o coronavírus no Brasil. O estudo é coordenado pelo Centro de Pesquisas Epidemiológicas da UFPel, que há cerca de 40 anos realiza estudos populacionais em Pelotas, no Rio Grande do Sul, no Brasil e no mundo. O EPICOVID19-RS é financiado e apoiado pelo Ministério da Saúde, como consequência da experiência exitosa do EPICOVID19-RS, que já testou 13.189 gaúchos, de nove cidades, com total sucesso.

    O projeto EPICOVID19-BR foi submetido à apreciação ética da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep), tendo sido aprovado no dia 28 de abril (CAFE 30721520.7.1001.5313). Para a coleta de dados, foi contratado, via processo seletivo, o IBOPE Inteligência, empresa com larga experiência em pesquisas. Todos os requisitos éticos e de segurança são seguidos, incluindo o uso de equipamentos de proteção individual, a inclusão apenas de entrevistadores com teste negativo para coronavírus e protocolos para o descarte dos materiais, conforme pactuado com o Ministério da Saúde.

    O Ministério da Saúde responsabilizou-se por contatar os 133 municípios participantes da pesquisa, o que ocorreu por meio de ofício durante essa semana. Além disso, o estudo está divulgado na página oficial do Ministério (www.saude.gov.br). Infelizmente, desde o início do trabalho de campo, no dia 14 de maio, as equipes de pesquisa vêm passando por diversas situações constrangedoras, amplamente noticiadas na mídia. Em cerca de 30 cidades, os pesquisadores estão de braços cruzados esperando autorização dos gestores municipais, num processo burocrático que pode causar prejuízo aos cofres públicos, visto que a pesquisa é financiada com recursos públicos.

    Nas situações mais graves, os entrevistadores do IBOPE Inteligência foram detidos, com uso de força policial, tendo sido tratados como criminosos. Trata-se de cerca de 2.000 brasileiros e brasileiras, que estão trabalhando para sustentar suas famílias, numa pesquisa que pode salvar milhares de vidas. Esses pesquisadores mereciam proteção das forças de segurança e uma salva de aplausos por parte da população. Ao invés disso, as forças de segurança em algumas cidades foram responsáveis por cenas lamentáveis e ações truculentas, algumas delas felizmente registradas. Por mais que a comunicação formal do Ministério da Saúde aos municípios possa ter chegado muito perto do início da coleta de dados, nada justifica o comportamento de “xerifes” assumido por alguns gestores municipais, que impedem ou atrapalham a realização da pesquisa que pode ajudar a salvar milhares de vidas no país.

    Em meio a uma pandemia sem precedentes, o Brasil merecia que os gestores municipais das 133 cidades incluídas na pesquisa tivessem o mesmo comportamento da Prefeitura de Manaus, a cidade mais afetada pela pandemia no país e que, mesmo assim, foi a primeira na qual a coleta de dados foi encerrada, onde nossos pesquisadores receberam todo o apoio e suporte necessário.

    Pedimos que essa nota seja amplamente divulgada pela mídia e por toda a população. Apesar de tudo, nossas equipes estarão em campo até terça-feira (19/5) para garantir que o maior estudo populacional sobre coronavírus do país continue, e que no final, nossos pesquisadores sejam aplaudidos, e não agredidos."