Psiquiatras Rochelle Affonso Marquetto e Sayra Catalina Coral são as entrevistadas da semana
Conviver com a pandemia tem sido desafiador. Rotinas mudaram e a preocupação consigo, familiares e amigos é constante. Dessa forma, o momento pode desencadear nos indivíduos sentimentos como raiva, angústia, ansiedade, solidão e desespero, bem como pensamentos suicidas. No Arauto Saúde desta semana, as médicas psiquiatras Rochelle Affonso Marquetto e Sayra Catalina Coral falam sobre como é possível evitar que esses sentimentos negativos se aflorem e ajudar quem está passando por isso.
Rochelle explica que essas sensações são naturais para o período vivido porque os indivíduos estão inseguros acerca do futuro ou da situação econômica, têm medo de que as coisas não voltem a ser como eram antes, bem como se sentem incomodados pelas notícias perturbadoras e pelos conflitos familiares, que se intensificam com o maior tempo de convívio. Somando-se a isso, “há uma sensação de perda de controle das coisas”, frisa.
Segundo ela, não há receita pronta para eliminar totalmente este mal-estar, mas o momento é de desenvolver a resiliência, “que é a capacidade de lidar com situações adversas e entender que cada um vai fazer isso do seu jeito”. Como dicas, a especialista diz que é importante promover um espaço em que o indivíduo se sinta seguro para pensar, conversar e tentar entender o que lhe deixa triste ou ansioso, manter uma rotina mais próxima do normal, não perder o contato com amigos e familiares e praticar exercícios físicos para aliviar a ansiedade. “É fundamental que a pessoa não seja rígida com ela mesma, tentando ser seu próprio amigo, tolerando mais suas falhas e se ajudando”, completa.
Acerca do suicídio, Sayra esclarece que uma das formas mais eficazes de prevenção é a informação. “Quanto mais oportunidade e espaço as pessoas tiverem, quanto mais elas forem questionadas sobre ter pensamentos acerca da morte, há mais chances de serem auxiliadas, encaminhadas e tratadas de forma adequada”, frisa. A profissional cita alguns sinais de comportamento suicida que exigem atenção, tais como se afastar, ficar mais triste, interagir menos com as pessoas ao redor e parar de realizar atividades que antes praticava. Além disso, o indivíduo pode ter alterações no sono e na alimentação, se tornar mais agressivo e hostil, bem como ter comportamentos autodestrutivos, como aumento da ingestão de substâncias químicas. “Isso pode ser percebido pelos familiares, amigos, pelos colegas de trabalho ou até mesmo pela própria pessoa que passa por este sofrimento intenso. É importante o acolhimento e uma escuta sem julgamento, porque a pessoa precisa ser encorajada a procurar ajuda profissional”, explica Sayra, que acrescenta que isso deve ser feito sempre o mais rápido possível.