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Vale do Sol, 32 anos: da complicada emancipação aos dois aniversários

Publicado em: 10 de novembro de 2023 às 08:24 Atualizado em: 06 de março de 2024 às 16:50
  • Por
    Guilherme Bender
  • Fonte
    Jornal Arauto
  • Foto: Jornal Arauto / Guilherme Bender
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    A luta pela separação de Santa Cruz do Sul exigiu persistência e energia para, por fim, Trombudo virar o que é hoje

    Trombudo, ou melhor, Vale do Sol, completa 32 anos nesta sexta-feira (10). A data que celebra a emancipação do município de Santa Cruz do Sul é referente ao plebiscito de novembro de 1991 no qual, por voto popular, foi aprovada a separação não somente do Vale da Terra da Oktoberfest, como de diversos outros distritos de seus municípios.

    Entre vetos e outros "nãos"

    Conforme explica o historiador Ireno Finkler, o plano de emancipação do distrito de Trombudo não era um sonho novo, mas sempre passou por empecilhos. A trajetória, como conta no livro “A História da Emancipação de Vale do Sol”, começou quando Finkler voltou à sua terra natal após os estudos, em 1987. Um ano depois, concorreu a vereador com o dizer “Lutar com a comunidade pela Emancipação de Trombudo e Formosa. Criar um novo Município”. As estratégias variavam, mas tiveram grande enfoque na comunicação, em edições de um jornal próprio chamado “EmanSIMpação”, e em programas de rádio.

    Tudo tomou forma, no entanto, em novembro de 1990, nas instalações da Sociedade Cultural e Esportiva Trombudo, onde a primeira Comissão Provisória Pró-Emancipação foi eleita em reunião comunitária. Seis representantes regionais foram eleitos: Vilson Molz e Astor Adelario Grunewald, da Região Serrana, Hardy Fischborn e Aldo Reni Rusch, de Formosa, e Darci Fischborn e o próprio Ireno Finkler, do Centro. O grupo dividiu Vale do Sol em 18 localidades, reorganizadas em 15 logo depois, nas quais foram realizadas reuniões para eleger a Comissão Emancipacionista Oficial. 45 representantes e 45 suplentes foram eleitos. “Na época, havia preocupação que se infiltrassem na comissão pessoas contrárias à emancipação, tínhamos que cuidar disso”, lembra Finkler. “Eu ia tomar um cafezinho toda manhã por estas regiões, para conversar com as pessoas, aproximar uns dos outros”.

    Em Assembleia Geral, a Comissão Emancipacionista Oficial foi eleita em janeiro de 1991, formada pelo presidente Ireno Finkler  e outros 11 membros.

    A parte contrária

    Evidentemente, havia oposição. As campanhas iam desde dentro do distrito, como de fora. “O prefeito de Santa Cruz do Sul era extremamente contrário, bem como outras pessoas. Diziam: entre um distrito forte e um município novo e fraco, vote não”, explica o professor Finkler. 

    Por fim, a campanha negativa não foi o suficiente e o plebiscito recebeu mais votos favoráveis do que contrários. Foram 2.542 pelo “sim” e 1.005 para o “não”. A proposta passou para a Assembleia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul, que aprovou a emancipação. O Governador da época, no entanto, vetou o projeto. “O Alceu Collares vetou não somente a emancipação de Vale do Sol, mas de diversos outros municípios. Isso exigiu um retrabalho, mais idas e vindas a Porto Alegre, para convencer a Assembleia a derrubar o veto”, destaca Finkler.

    Conforme ele explica, a emancipação de Vale do Sol tornou possível que outros municípios, como Sinimbu, se separassem de Santa Cruz do Sul. “Não havia como apenas um se emancipar”. Vale do Sol conectava-se a Santa Cruz do Sul pela localidade de Sinimbu, que se emancipou no mesmo plebiscito. Caso somente este distrito se separasse, o Vale não teria fronteiras com o restante da Terra da Oktoberfest, sendo interceptado por Vera Cruz e o próprio Sinimbu.

    Outra questão que complicou a vida dos emancipacionistas foi a transformação de Faxinal de Dentro, território próximo ao antigo distrito Trombudo e hoje, localidade interiorana de Vale do Sol, em um novo distrito. “Isso ocorreu a pouco mais de 20 dias do plebiscito e devia ter acontecido há 20 anos. Não fazia mais sentido naquela época, foi para sujar a água dos emancipacionistas”, salienta o historiador.

    Enfim, assinado

    A legalização da emancipação veio, por fim, em 20 de março de 1992, mais de quatro meses após o plebiscito ser aprovado pela população. E é neste momento que surgiu uma confusão: quando “nasceu” Vale do Sol? Para Ireno e para a população, bem como o que consta na bandeira do município, é a data em que o povo decidiu aprovar, 10 de novembro de 1991. “Foram dois momentos. Nós escolhemos a que foi realizada a votação”, relata Finkler. A dúvida, no entanto, já se arrastou ao longo das décadas, ao ponto de se instaurar confusões de datas ao longo dos aniversários do município que, agora, oficialmente e sem discrepância, comemora seus 32 anos, ainda que ano passado festejou os 30 anos.

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