Polícia

Ex-inspetor da Polícia Civil relembra o primeiro sequestro da história de Santa Cruz do Sul

9 de maio de 2024
  • Por
    Nícolas da Silva
  • Empresário Celso Esperdião era inspetor de polícia em 1994, quando foi registrado o primeiro sequestro de Santa Cruz | Foto: Nícolas da Silva
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    Neste mês de maio completa-se 30 anos do primeiro sequestro registrado na história de Santa Cruz do Sul. Para entender melhor e relembrar esse episódio, o Grupo Arauto conversou com Celso Esperdião, empresário na cidade e que na época trabalhava como inspetor na Polícia Civil, mais precisamente na antiga Delegacia Especializada de Furtos, Roubos, Entorpecentes e Capturas (Defrec).

    Esperdião, natural de Ibarama, compartilhou sua trajetória profissional, desde seus dias como policial militar em Santa Cruz até sua transição para a Polícia Civil. Ele foi um dos policiais selecionados para integrar a equipe da Defrec, sob o comando do delegado José Antônio de Araujo.

    O sequestro em questão ocorreu em 1994 e teve como vítima o estudante de economia Alexandre de Paula Dias, então com 22 anos. Segundo Esperdião, Alexandre foi libertado após uma semana em cativeiro, mas não sem sofrer um tiro no pulmão esquerdo. Os sequestradores exigiram um resgate de US$ 200 mil e CR$ 10 milhões, mas o pagamento não ocorreu conforme o planejado.

    O então inspetor relembra os esforços da equipe policial para rastrear os sequestradores, incluindo o principal suspeito, Carlos Ivan Fischer, conhecido como Teco. Fischer, habilidoso em comunicação e técnicas de evasão, representava um desafio significativo para as autoridades.

    O Teco fazia os contatos com aparelhos telefônicos, inclusive fazia ligações diretas em postes de energia para isso. Ele era técnico nessa área e tinha conhecimento sobre o assunto, e muitas vezes acabava confundindo as autoridades quanto à real localização que as chamadas eram feitas“.

    O ex-inspetor de polícia relembra uma noite em que Teco fez uma ligação para o pai da vítima e deu orientações do local que deveria ser deixado o dinheiro do resgate. “Ele disse que no local haveria um gravador com todas as orientações. Essa gravação era bem detalhada. Dizia o número exato de passos que o pai da vítima deveria caminhar e a direção para deixar o dinheiro do resgate. Também pedia para levar uma lanterna e fazer movimentos com ela. Era algo muito pensado“, relembra.

    Por algum motivo, o Mariano (pai da vítima) não conseguiu fazer o processo correto e quando ele jogou a mala com o dinheiro, caiu fora do local indicado. Ele retornou para Santa Cruz e tudo indicava um resgate pago. Ficamos na expectativa para vermos onde apareceria o refém, e um tempo depois houve outra ligação para a casa do Mariano, onde o Teco perguntava o que havia dado errado pois ele não tinha encontrado o dinheiro“, conta Esperdião.

    O cativeiro de Alexandre ficava no interior de Sinimbu. Depois do insucesso na troca da vítima pelo dinheiro do resgate, o criminoso pegou o refém e levou até Cachoeira do Sul. Ele mandou o jovem caminhar e lhe deu um tiro nas costas. “Felizmente ele resistiu ao ferimento e no dia seguinte alguém encontrou ele caído no local“, lembra Celso.

    A vítima foi transferida para Santa Cruz para fazer uma cirurgia. Quando recebeu alta, a polícia foi atrás do relato para colher pistas sobre o sequestrador. Celso lembra que Teco também contava com a ajuda de um comparsa.

    Celso relembra um momento crucial durante a investigação, com uma pista colhida através de depoimento da vítima. “O Alexandre lembrou que em um dia, quando tiraram a venda do seu rosto, ele conseguiu ver um cobertor no colchão com a marca de uma loja de Santa Cruz, a Keller Niedersberg. Quando ele nos falou isso, nos deu uma boa pista. Fomos até a loja, falamos com o proprietário e reunimos as vendedoras. Uma delas falou que havia vendido um cobertor novo para o Carlos Fischer, que era vizinho da vendedora. Então ele se tornou o nosso principal suspeito por intermédio dessa pista. Nesse momento solicitamos um mandado para captura dele“, conta.

    A Polícia Civil foi até o endereço do criminoso. “Quando chegamos com o mandado, ele já havia fugido e se tornado um foragido. Mesmo assim  conseguimos monitorar ele pelo uso do cartão de crédito”, diz Celso.

    O sequestrador foragido acabou rodando de carro pelo Rio Grande do Sul. Foi até próximo da fronteira com Santa Catarina e começou a retornar. “Aqui próximo de Herveiras ele quebrou o motor do carro. Quando saiu a foto dele no jornal, o senhor que havia recolhido o carro já compareceu à delegacia e nos avisou que havia localizado o veículo e o criminoso“.

    Na época, Teco ainda não tinha antecedentes criminais. “A gente acabou prendendo ele aqui em Vera Cruz, enquanto ele fazia deslocamento para se entregar“, lembra Esperdião. Ele cumpriu pena por um tempo e depois seguiu na vida do crime, inclusive sendo um dos principais parceiros de José Carlos dos Santos, o Seco. Em 2014, ele foi morto em uma tentativa de assalto entre Candelária e Passa Sete.

    “Era um outro tempo de tecnologia nas investigações, mas certamente marcou bastante a nossa cidade. Por todo o aparato policial e pela repercussão que teve. Depois de 30 anos muita coisa evoluiu de tecnologia, mas o trabalho de investigação da polícia segue eficiente”, finaliza Esperdião.

    Em março deste ano, a Câmara de Vereadores de Santa Cruz do Sul realizou sessão solene para a entrega do título de Cidadão Santa-cruzense ao empresário. A proposição foi do vereador Professor Cléber Pereira (União Brasil).

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