Aos 30 e poucos, a gente entende que a vida não muda de repente — ela vai mudando de forma lenta e bonita, como o sol que se põe devagar e tinge o céu de outras cores. Não sei se é a idade, os desafios ou essa calma que chega de mansinho, mas é fato que o olhar muda. Criamos uma espécie de casca, sim, mas não para endurecer. É uma camada de proteção delicada, que aprende a filtrar o que nos fere e a guardar o que nos cura.
Troquei a noite pelo dia. A balada pela academia, não como uma troca óbvia, mas como uma troca de desejo. É o prazer que muda de endereço. As roupas novas perderam importância, mas os perfumes sempre estão em dia — porque a gente percebe que o cheiro é uma memória que permanece. As gripes deram lugar aos shots de imunidade, e o que antes era preguiça virou cuidado, quase carinho.
Hoje, me preocupo com o jardim. Quem diria? Eu, que mal sabia a diferença entre uma suculenta e um cacto, agora cuido das plantas com um cuidado maternal. Não é só sobre ver algo crescer, é sobre sentir a vida florescer nas pequenas coisas. E as preocupações, antes voltadas para o mundo lá fora, agora se voltam para dentro. Eu descobri que minha saúde mental é o verdadeiro motor da minha força. Minha paz é o silêncio que escolhi para ser minha companhia, e minha família, a razão que sustenta tudo.
E então, nesta fase da vida, percebemos que a maior força que nos molda é a intangível: a fé. Você começa a crer naquilo que não vê, no que não pode tocar, mas sente profundamente. É uma conexão que vai além das palavras, que flerta com o impossível. Independente do credo, é uma força transcendental, uma esperança renovada que redefine o que é o sonho. Você passa a acreditar não apenas no que deseja, mas no que pode ser — e isso, talvez, seja o maior milagre.
Agora me desculpe, preciso regar minhas plantas e depois levar os cachorros para passear. A paz de quem a gente ama vira a nossa paz. E isso, aos 30 e poucos, é o que chamamos de felicidade.
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