Esta embarcação simboliza a vida e o que vem depois. A pessoa não se evapora, continua a mesma, embora não mais possamos vê-la.
No caminho que leva à cidade grega de Tebas, conta a lenda, existia uma esfinge. Tinha a cabeça e os seios de mulher, corpo de leão e asas de pássaro. A cada viajante que passava, a esfinge fazia uma pergunta, com perigosa alternativa: adivinha o que é ou vou devorar-te. A pergunta era esta: de manhã tenho quatro pés, ao meio dia tenho dois e à noite tenho três. Um jovem, chamado Édipo, decifrou a charada, dizendo: é o homem, na infância caminha com quatro pés, na idade adulta, caminha ereto com dois pés e, na velhice, necessita de um terceiro pé, a bengala. Diante da resposta certa, a esfinge suicidou-se.
Todo o homem, toda a mulher, ao longo da vida, enfrenta o mesmo desafio: decifra-me ou eu te devoro. Trata-se de saber o que é a vida e o que é a morte: quem sou, de onde eu vim, para onde vou? Todas as civilizações deram importância capital ao sentido da vida e ao significado da morte. O dramaturgo William Shakespeare resume a impossibilidade humana para responder a estas perguntas: depois da morte, o Silêncio, depois da morte, o Mistério.
A Fé tem respostas otimistas para estas questões. A morte não é o fim, mas o começo. Depois da morte, a vida, depois da morte a casa do Pai.
Numa praia, no começo de uma manhã cheia de sol, um veleiro parte. Tudo é festa, risos, alegria, sonhos… Aos poucos o barco se afasta. Impulsionado pela brisa, vai ganhando o mar azul. O barco está cada vez mais longe. Agora é apenas um ponto entre o mar e o céu. Depois, alguém que ficou na praia, irá comentar: ele já foi. Teria sumido ou se evaporado? Apenas o perdemos de vista. O barco continua o mesmo, seguindo seu destino. Ele carrega suas riquezas, apenas nós não o podemos ver.
Esta embarcação simboliza a vida e o que vem depois. A pessoa não se evapora, continua a mesma, embora não mais possamos vê-la. O ser que amamos, continua, levando consigo suas riquezas, suas conquistas, seus dramas, seus afetos, suas virtudes, seu projeto de vida. Enquanto lamentamos: ele foi; do outro lado, o lado da Luz, alguém exclama: ele chegou!
Este drama tem dois componentes: a liberdade humana e a graça divina. Jesus, o filho de Deus feito homem, nos abriu a porta da Ressurreição. Entrar por ela é uma decisão nossa. Nossa resposta, nosso Sim a Deus, aniquila a esfinge da finitude. Não estamos partindo, mas chegando.
Frei Aldo Colombo