Artista santa-cruzense dedicou sua vida para alegrar a comunidade e ensinou seus filhos a trilhar o mesmo caminho
Forte. Talentoso. Amigo. Sonhador. Essas características resumem bem Ênio Knak, artista nascido e criado em Santa Cruz do Sul. Foi aqui na Terra da Oktoberfest, entre os Bairros Goiás e Avenida, que o músico se formou. Tudo começou ao observar as aulas de gaita do vizinho, ainda quando era criança. Se o menino não estava interessado, Ênio – sem ser o dono do instrumento – queria mais do que tudo aprender a construir sons. Um dia, após muito prestar atenção, pegou a gaita escondido durante o intervalo da aula do amigo e tocou sua primeira bandinha.
Desde lá, nunca mais parou. "São 64 anos de trabalho e de vida com a música enraizada. Desde sempre gostei e participava de todos os corais. Esporte e música sempre caminharam comigo", destaca. Aprendeu diversos instrumentos ao longo de sua trajetória, mas começou sua carreira já adulto, enquanto trabalhava de representante comercial. "Algumas bandinhas mais simples me chamavam para tocar aqui e ali. Eu quebrava galhos até conseguir entrar para a banda Casal 20 e conhecer os colegas que me ajudaram a criar a Bandinha União. Com o tempo passou para Musical União. Tocamos muito tempo até que cada um foi para seu lado. Aí eu transformei em Banda Ghermania e lá se vão 30 anos de boas histórias", explica.
Com a Banda Ghermania, realizou o sonho de tocar com os filhos Ênio Knak Júnior (in memoriam) e Marcel Knak. "A parceria com os meus filhos aconteceu naturalmente. O Júnior começou a fazer aula de música com cinco, seis anos. Mas ele era autodidata, aprendia sozinho. Com 8, 9 anos já começou a subir no palco. Nosso tecladista na época não tocava samba, essas coisas assim. Quando chegava a hora de algo diferente o Júnior ia para o teclado. Depois dei uma gaita. Com 10 anos era titular no palco", relembra.
Irmão mais velho, foi Júnior também que ensinou Marcel a dar os primeiros passos dentro da música. "O Marcel começou carregando luz e caixas, às vezes colocavam ele para cantar. Um dia Junior pediu: 'bah, pai, vamos dar uma chance pro Seco? Deixa comigo! Eu preparo ele'. Os dois foram tocar em Cachoeira do Sul e desde lá o Marcel foi se aperfeiçoando", ressalta.
A parceria entre pai e filhos terminou em 2012, quando Júnior, aos 27 anos, morreu após sofrer uma descarga elétrica durante um show em Santo Ângelo, na Região das Missões. "Quando aconteceu o acidente fechamos a banda na hora. Fiquei meio ano sem querer ouvir falar. Meus filhos seguiram o que eu sempre gostei, mas eu fui penalizado com a maior perda", conta emocionado.
Quase 10 anos depois, Ênio segue forte com saudade de um filho e orgulhoso de toda conquista de Marcel. Aposentado e com planos para o futuro da banda, o artista aproveita seus dias com outras paixões: o tênis – que ele joga três vezes por semana – e a construção de motorhome. "A pandemia nos fez camaleão. Eu comecei a fabricar mini motorhome caseiro. Eu preparo as vans em casa mesmo", destaca.
Entre uma bandinha e um passatempo, Ênio recorda com carinho tudo que viveu através de sua profissão, ao lado de seus filhos e dos colegas de Banda Ghermania. Um dos momentos mais especiais foi quando os músicos foram agraciados com o Prêmio Vitor Mateus Teixeira, criado pela Assembleia Legislativa para reconhecer e valorizar o trabalho de artistas que enaltecem a música gaúcha. "Foi a coroação de tudo que eu fiz. Sempre fui muito caseiro e montamos a banda do nada. Atribuo nosso sucesso ao nosso trabalho e à coragem de encarar os desafios", diz.