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Uma jornada de reflexão e de descobertas

Publicado em: 03 de julho de 2017 às 09:23 Atualizado em: 19 de fevereiro de 2024 às 14:50
  • Por
    Jaqueline Gomes
  • Fonte
    Portal Arauto
  • whatsapp-image-2017-06-28-at-15-11-48-2-.jpeg
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    Percorrer o Caminho de Santiago de Compostela proporcionou turismo e conhecimento

    Quer uma experiência diferente, fazer algo por si, um aventura, uma jornada de autoconhecimento e de quebra aliar turismo e novas amizades? A pergunta é ao mesmo tempo um convite e uma lista de incentivos para quem quer fazer o caminho de Santiago de Compostela, na Espanha, e ainda não colocou o projeto em prática. As vera-cruzenses Solange Walter, 49 anos, e Márcia Paz, 56 anos, fizeram a jornada de mais de 800 quilômetros em 30 dias, a pé, e relataram a experiência em um diário de viagem aqui no Portal Arauto. Agora, passados alguns dias da caminhada que iniciou em 19 de maio e chegou ao destino em 17 de junho, as aventureiras fazem uma avaliação da experiência e dão dicas para encorajar quem já pensou no projeto. Antes de qualquer coisa, o principal incentivo é: "faça algo por você mesmo!".

    Quem pensa que fazer o Caminho de Santiago de Compostela é algo sofrido e de privações está enganado. É claro que o esforço físico da caminhada exige do corpo e da mente, mas o trajeto é repleto de recompensas e os abrigos, em hósteis e albergues, são aconchegantes. Pelo caminho, há muitas orientações para os peregrinos não se perderem e paisagens de tirar o fôlego. Nas cidades e povoados, os "pueblos", há muito o que conhecer e aprender. São muitos sentidos despertados pelo caminho. 

    Há três anos a terapeuta Solange Walter decidiu fazer a travessia. "Sempre gostei de caminhar e acho que isso é uma forma de fazer algo por mim mesma", conta. A vera-cruzense fez o planejamento para viajar e teria uma companhia que, às vésperas de comprar a passagem para a ida até a Espanha, acabou declinando do projeto. Foi então que a empresária Márcia Paz entrou na história. Ao ouvir sobre o planejamento da amiga, em dois dias decidiu embarcar na aventura e por uma mensagem de WhatsApp deu o veredito: "Solange, vou caminhar contigo". Desde o início deste ano, as duas passaram a fazer caminhadas juntas. Para acostumar o corpo à rotina, carregavam uma mochila com o peso dos pertences que teriam que levar na viagem. Um exercício de desapego, já que a mochila não poderia ficar muito pesada: somente as mudas de roupas necessárias e lanches para um dia.

    São 11 opções de caminho, com distâncias e tempos diferentes de caminhada. Solange e Márcia optaram pelo mais longo, o Caminho Francês, com mais de 800 quilômetros e duração de 30 dias. No começo da caminhada as vera-cruzenses tiveram a companhia de Ivonne Gassen, de Santa Cruz do Sul, e de Sílvia Mossmann, de Novo Hamburgo. Depois de alguns dias, cada uma passou a fazer o seu percurso, isso porque era possível programar a quilometragem de caminhada para cada dia. "Cada um fez o seu caminho", reitera Solange, lembrando que no ponto de partida os aventureiros recebem a credencial de peregrino e todas as orientações como um guia de viagem, onde constam os mapas, pontos de abrigo, distâncias entre as cidades, entre outras dicas. "Hoje também é possível despachar a mala de um ponto para o outro. Nós optamos por carregar para não estarmos presas a um ponto de chegada. Despachamos apenas nos dias de chuva", explica Márcia. "Logo no segundo dia chegamos a fazer 44 quilômetros", lembra Solange. Essa foi a maior distância de caminhada em um mesmo dia. 

    A partida foi de Saint Jean Pied de Port, ainda na França. A aventura de atravesssar, a pé, a Espanha, pelo Caominho de Santiago de Compostela, além dos carimbos na credencial (carimbos de igrejas, bares, albergues e demais pontos turísticos) ficou registrada em muitas fotografias e em um diário escrito em um caderno por Solange Walter. Das coisas que mais chamaram a atenção foram os quesitos de segurança, as construções medievais e os longos trajetos somente ladeados por plantações, especialmente de trigo, cevada e oliveiras. "Caminhávamos por trilhas, no mato, até chegar aos pueblos", conta Márcia. Os povoados, em geral, são formados em torno de igrejas. Alguns, com poucas dezenas de habitantes, chegam a ter três ou quatro igrejas. 

    No caminho, assim como nos albergues e hósteis, diariamente as peregrinas faziam novas amizades e descobertas culturais. Em alguns locais era possível preparar as refeições e fazer jantares compartilhados. A cultura e a língua diferfente eram superadas por gestos e mímica. Falar o alemão também ajudou as vera-cruzenses. "Chegamos a dormir em um albergue com mais de 60 pessoas juntas", revelam. "Foi muito prazeroso, fazíamos amizade muito rápido", anima-se Solange.

    Além das belas paisagens, construções históricas, templos e locais como o Finisterre (Finisterre era o objetivo das primeiras peregrinações, há milênios: o "Fim da Terra", quando ela ainda era plana), outra curiosidade vivenciada pelas vera-cruzenses foi o calor fora de época. Além disso, o sol se punha somente pelas 22h30min. "Às 5 horas da manhã a gente acordava para caminhar cedo, com calor mais ameno", fala Solange. 

    Na chegada, em Santiago de Compostela, muitos peregrinos com os quais as vera-cruzenses caminharam por alguns dias, se reencontraram. Solange e Márcia, inclusive, chegaram a separar por um dia e se reencontraram no ponto de chegada. Ao todo, foram 30 dias de caminhada e 35 de viagem. "Faria tudo de novo", sentencia Solange. E, de fato, repetir a experiência é um projeto de vida. A ideia é fazer o roteiro português daqui a cerca de três anos.

    Para quem quer caminhar, a principal dica é o desapego: três mudas de roupa são suficientes e um chinelo para descansar os pés à noite. O custo da viagem varia. Com opções mais econômicas, as vera-cruzenses gastaram cerca de R$ 4 mil em passagem e seguro e outros R$ 3,6 mil a R$ 4 mil durante a caminhada para o pagamento das hospedagens e alimentação. "Não passamos necessidade. Todo o caminho é muito bem sinalizado e as cidades preparadas para receber os visitantes. Tem muita história e cultura, uma forma diferente de fazer turismo", incentivam.

    Confira os relatos da viagem:
    Chega ao destino a Caminhada de Santiago de Compostela

    Chegada a Santiago de Compostela é neste sábado

    Caminhada já ultrapassa 20 dias

    Peregrinação chega a cerca de 400 quilômetros pela Espanha

    Vera-cruzenses chegam ao 11º dia no Caminho de Santiago de Compostela

    Passando por Estella, Los Arcos e Logrono

    Marca da Arauto fica no caminho de Santiago de Compostela

    Vera-cruzenses vão atravessar a Espanha em caminhada

    Peregrinas estão no ponto de partida do Caminho de Santiago de Compostela

    Nas imagens é possível conferir um pouco da história, cultura e turismo que o Caminho de Santiago de Compostela proporciona.