Filhas de Teresinha, Luciane e Tania Beckenkamp, eram as responsáveis pela empresa
Se tinha uma empresa que os vera-cruzenzes desejavam nunca precisar dos serviços, mas sempre que necessitavam, saíam satisfeitos, era a Funerária Frantz. Ao falar do local, o nome de Erna Teresa Beckenkamp – ou simplesmente Teresinha Beckenkamp -, parece saltar da boca imediatamente. Já bem conhecida na Capital das Gincanas pelas atuações junto à Igreja Católica, na Sociedade de Damas Victória Thereza, no Grupo de Bolão Feminino, bem como na Associação Vera-cruzense de Orquidófilos, Teresinha seguiu os passos do pai Antônio Frederico Frantz e da mãe Alvina Matilde Becker e passou a tocar os negócios da família a partir de 1978.
A prestação dos serviços funerários iniciou ainda nos tempos de Vila Teresa e de uma forma bem despretensiosa, conforme contam as filhas de Teresinha, Luciane e Tania Luci Beckenkamp, de 51 e 55 anos, – que até o encerramento das atividades, em 1º de agosto de 2016, eram as responsáveis pela empresa. “Todos caímos de paraquedas no ramo funerário. O vô tinha a marcenaria e o engenho de serra [na rua Thomaz Gonzaga 1.087 – onde a Funerária Frantz funcionou por anos], então, quando falecia alguém, as pessoas costumavam dizer ‘vou lá no Seu Antônio que ele vai construir o caixão’”, revela Luciane. “Os familiares mediam a pessoa com um pedaço de corda ou cordão e o caixão era feito na medida exata”, complementa Tania. A novidade trouxe mais facilidade para os munícipes, já que até então tinham que buscar tal serviço nas cidades vizinhas.
Simplicidade
Na época, o serviço era muito mais simples do que hoje, sem preparação do corpo ou até mesmo acessórios para o velório. Seu Antônio vendia o caixão, que era retirado pelas pessoas de carroça ou com uma camionete emprestada, e o velório acontecia na casa dos familiares – que vestiam e arrumavam seu ente querido e ornamentavam a cerimônia com flores colhidas do quintal. “A mãe [Teresinha] sempre conta que conforme os pedidos foram aumentando, eles começaram a deixar alguns caixões prontos como estoque e Seu Antônio passou a intitular o local de Casa Funerária. Com o tempo também os cinco filhos, entre eles a mãe, começaram a se envolver na atividade. Mas foi quando o vô faleceu que a mãe realmente assumiu o local, como um pedido da vó, que também auxiliava nas atividades, e porque os demais filhos tinham seguido outras profissões”, relata Luciane, ao citar que a primeira urna (caixão) comprada de fábrica foi utilizada para o sepultamento de Seu Antônio.
Não demorou muito para que a Funerária Frantz fosse vista pela comunidade de Vera Cruz como muito mais do que um negócio. Tratava-se de um local onde o serviço era prestado de forma carinhosa e respeitosa com a pessoa que viera a falecer e com os familiares enlutados pela perda. “A mãe e o pai [Elemar Beckenkamp, já falecido] sempre foram muito simples. Para a mãe nunca tinha tempo ruim, estava sempre disposta a ajudar, tanto as pessoas que vinham buscar os serviços, como as outras empresas funerárias. Ela nunca tratou os outros como concorrentes, mas sim como colegas que se ajudavam sempre que precisavam”, frisa Luciane.
Na Memória
Ao longo dos quase 40 anos de serviços prestados pela Funerária, que por um tempo teve suas atividades desempenhadas junto à rua Tiradentes, muitos foram os momentos marcantes. Grande parte deles chocaram e emocionaram a família, mas muitos também são recordações divertidas, tais como as vividas com a famosa Kombi branca, na qual Teresinha transportava os corpos e as urnas funerárias. “O pessoal costumava dizer: ‘coisa boa enquanto eu vejo a Teresinha na Kombi, pois é sinal de que não estou dentro dela”, revela Tania às gargalhadas, ao recordar que aprendeu a dirigir no veículo. As irmãs contam que muitos foram os perrengues vivenciados com a Kombi, de motor 1.0, principalmente para subir os perais pelo interior do município. “Ela não subia, a gente tinha que voltar para o início e pegar embalo para conseguir subir”, diz Tania. “A Kombi vivia estragando por aí. Teve um momento que a gente disse pro pai: ou tu nos dá um curso de mecânico ou a gente vai ter que levar um mecânico junto sempre que sairmos”, complementa Luciane aos risos.
O trabalho exigia seriedade, mas o jeito carismático de Teresinha e das filhas sempre foi marcante para a comunidade, assim como sua dedicação com as atividades e o atendimento aos clientes, mesmo com aqueles que por dificuldades econômicas não puderam pagar pelos serviços. “Pra nós não interessava saber se a pessoa tinha dinheiro ou não. A gente tinha o compromisso de atender bem aquela família que estava nervosa e dolorida por perder alguém. Aprendemos isso com a mãe, que atendeu a todos com carinho independente de qualquer coisa”, salienta Tania.
O encerramento das atividades se deu no prédio onde tudo começou, na rua Thomaz Gonzaga. Cientes do cuidado e carinho que tiveram ao longo de 38 anos com a comunidade vera-cruzense, Luciane e Tania entenderam – naquele agosto de 2016 – que era hora de fazer o mesmo pela sua família, em especial pela mãe Teresinha, hoje com 80 anos.
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