Envolvimento da profe Adeline com a música começou bem antes de coordenar ensaios e apresentações
Levar a paixão pela arte e a música adiante. Durante anos Adeline Garcia, atualmente com 39, cumpriu esse propósito em Vera Cruz, fazendo história. Muitos vera-cruzenses, hoje já adultos (outros ainda adolescentes), vão se recordar com carinho dos tempos em que cantavam nos grupos de corais infanto-juvenis coordenados pela profe Adeline, como carinhosamente é conhecida. Mais do que incentivar o canto, ela encantou crianças e jovens.
O envolvimento de Adeline com a música começou bem antes de coordenar ensaios e apresentações. Quando jovem sonhava em fazer parte do grupo de coral da Escola Anchieta, “Os Rouxinóis”. “Fazia teste todo o ano e nunca conseguia entrar. Até que um certo dia, por insistência, a profe me aceitou”, conta, ao lembrar o quanto foi persistente. “Sempre digo que minha voz foi criada para cantar e educada pelos professores que eu tive. Quando entrei no grupo de coral da Aula Evangélica, por exemplo, era contralto [tipo de voz feminina mais baixo e pesado] e depois virei soprano [voz feminina mais aguda]”, revela a artista, que passou também pelo grupo de coral da Escola Sagrado Coração de Jesus, na localidade de Ferraz, até que aos 13 anos ingressou no Coral Municipal – época em que despertou o interesse pelo ensino do canto.
Nessa época, por volta de 1997, cursava Pedagogia e, como parte do currículo acadêmico, realizava atividades em escolas. “Começaram a me chamar para dar oficinas de música e de canto em escolas. Aí, como sabia a iniciação de flauta, comecei uma oficina sobre o instrumento nas escolas e dava aulas particulares de teclado”, conta a professora, que entre os grupos assumiu por anos a coordenação do coral da EMEF Helberg Franke e foi chamada pelo professor Nelson Inácio Wagner para auxiliar junto ao coral da Escola Anchieta.
Com os anos, algumas situações pessoais até tentaram afastar Adeline do envolvimento com os grupos de corais do município, mas o amor pela música sempre falou mais alto. Nestas andanças, começou a auxiliar no coral da Escola Música e Talentos – que mais tarde se desvinculou do educandário de música e passou a ser coordenado apenas por Adeline. Com o tempo, o grupo – batizado de CAMI (Canto, Arte, Música e Integração) – tomou proporções tão grandes que contava com 80 crianças e adolescentes, com idades entre seis e 16 anos. O crescimento veio através dos irmãos mais velhos – já participantes do grupo – que incentivavam os mais novos, bem como pelo dom de Adeline de encantar e cativar os jovens. “A gente procurava não centralizar em uma determinada escola, todos os alunos do município que tivessem interesse podiam participar. Era aberto a todos, pois sempre tive como princípio que todo mundo podia cantar, independentemente de ser afinado. Bastava querer”, complementa a regente.
Grupo Cantou Até em Alemão
Uma vez por semana as salas de aula da Escola Mesquita transformavam-se em palco para as crianças e os adolescentes mostrarem seu talento durante os ensaios. Primeiro, faziam o aquecimento vocal e trabalhavam a respiração e, depois, partiam para o repertório. “Tinha crianças muito pequenas e que ainda tinham dificuldade com a oralidade, algumas não sabiam nem ler. Aí, para que elas aprendessem as músicas eu ficava na frente delas repetindo as palavras e os versos até que decorassem. Lembro que como naquela época ainda não tinha WhatsApp e muitos não tinham internet, eu costumava pedir que os coralistas prestassem atenção quando as músicas tocassem no rádio ou que comprassem a fita-cassete ou o CD, assim eles iam aprendendo as músicas e pegando o repertório”, lembra aos risos.
Tamanho incentivo de Adeline fez com que muitos dos alunos que chegaram ao grupo tímidos, acabassem se soltando e desenvolvendo diversas habilidades. “Era mais do que canto e arte. A gente trabalhava a expressividade, a força de vontade, os sentimentos e a disciplina das crianças e dos jovens, tanto que muitos que chegaram tímidos nos primeiros ensaios se tornaram muito expressivos nas apresentações”, conta Adeline, ao se recordar de um dos momentos desafiadores para o grupo de jovens cantores, quando uma música em alemão passou a fazer parte do repertório. “O Coral Municipal cantava já a música ‘Rote Rosen’ e eu tinha esse sonho de ver meus alunos cantando também. Então, trouxe pra eles a música e foi um desafio, porque eles precisavam aprender a cantar em alemão. A ‘La Bamba’ [música mexicana] eles já cantavam e tiravam de letra, mas imagina o peso que tinha apresentar uma música em alemão, em uma terra de cultura germânica. No fim deu tudo certo, tanto que na primeira vez que apresentamos a canção o regente do Coral Municipal, Carmo Gregory, nos parabenizou pela pronúncia”, revela. Tal como as músicas mencionadas, conta que os coralistas tinham preferência pelas batidas mais agitadas e as quais podiam performar com coreografias. “Era um alvoroço quando a gente tinha coreografia. Uma das mais marcantes era aquela: ‘você é a escada da minha subida, você é o amor da minha vida, é meu abrir de olhos no amanhecer, verdade que me leva a viver”, entoa a regente, enquanto reproduz a coreografia, tão querida pelos alunos.
Emoção toma conta ao ver o sucesso e a evolução dos alunos
O comprometimento da profe Adeline no passado fez com que, anos depois, alguns de seus alunos soltassem a voz em concursos do Município, como o Canta Vera Cruz, e adotassem, inclusive, a música como profissão. “Lembro do Miguel Zanotelli, que iniciou as aulas de teclado comigo pequeno. Ele era tão tímido e eu acreditava tanto nele. Hoje ele é um sucesso e toca numa das maiores orquestras do Estado [na Orquestra Sinfônica de Santa Maria]. Fico encantada vendo ele tocar, assim como tantos outros alunos que estiveram comigo”, revela a professora com os olhos marejados, expressando o orgulho que sente de cada um deles. “Sinto-me feliz quando vejo eles [ex-alunos] muito bem e felizes. Sempre brinco que já tenho alguns netos por aí, pois muitos alunos já são pais e mães, e seguem cantando e tocando violão com seus filhos. Adoro quando eles me veem e dizem ‘oi profe’, sinto este carinho por parte deles. Claro, muitos seguiram outros caminhos, mas a música continua dentro de cada um. Dessa forma, acredito que aquela mensagem que eu trazia nas músicas deu sementes boas”, enfatiza.
As apresentações que marcaram
Os momentos emocionantes e marcantes que vivera ao lado dos jovens cantores seguidamente vêm à memória de Adeline. Entre eles, recorda da vez em que conquistaram a sonhada capa usada nas apresentações – nas cores preto e branca e com uma clave de sol bordada -, fruto do empenho das mães, chamadas carinhosamente de “Caravana da Coragem”, que saíram pela cidade em busca de patrocínio para custeá-la. A professora também não esquece das diversas vezes em que o grupo se apresentou em outras cidades da região, levando as vozes de Vera Cruz para fora dos limites do município. “Muitos momentos marcaram pela emoção, mas teve um em especial que marcou pelo nervosismo, porque eu fui e voltei o caminho rezando. Foi quando estávamos indo para Alto Castelhano, em Vale do Sol. O ônibus estava cheio e, quando eu olhava para fora, pela janela, só via um perau pra baixo. Rezei o tempo todo para que não caíssemos”, conta às gargalhadas. Outros momentos marcantes, segundo ela, foram as apresentações de fim de ano que o grupo realizava no Hospital Vera Cruz. “A atitude dos coralistas era encantadora, porque eles eram tão jovens, mas tinham uma vontade tão grande de cantar no hospital, pois sabiam o bem que estavam fazendo às pessoas acamadas”, relembra.
O CAMI encerrou as atividades por volta de 2009, tendo retornado algumas vezes, a mais recente delas em julho de 2017, já em nova formação – que também rendeu momentos inesquecíveis para a regente. “Sempre tive um certo medo de colocar os pequenos para apresentar solos, mas na nova formação resolvi arriscar. E teve uma apresentação de Natal, há alguns anos, em que minha afilhada Laura e outra aluna, a Rafaela, solaram a música ‘Botei meu sapatinho’. A espontaneidade e a leveza delas e, ao mesmo tempo, aquele nervosismo delas que foi sumindo conforme se sentiam poderosas naquela situação, são inesquecíveis”, recorda com um sorriso largo no rosto. Após pouco mais de um ano juntos, o grupo formado por quase 30 crianças e jovens encerrou novamente as atividades em 2018.
Desde então, mesmo não estando mais à frente dos grupos de corais infanto-juvenis do município e das escolas, Adeline nunca deixou de levar o canto e a música adiante e introduzir a arte na vida de crianças e adolescentes. Hoje, enquanto professora da educação infantil e dos anos iniciais na EMEF Helberg Franke, faz questão de agitar a criançada com aulas de música e tornar o canto presente em suas vidas. “A arte, a música, é algo viciante, a gente não consegue mais largar depois que começa”, arremata.
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