Moradores ainda tentam reconstruir e voltar a viver com sossego no local
Além dos prejuízos materiais como móveis destruídos, estruturas danificadas e carros inutilizados, a maior enchente já registrada em Santa Cruz do Sul também deixou marcas invisíveis e profundas. Um ano após a cheia, o marceneiro Anderson Raasch, morador da área conhecida como Praia dos Folgados, no Bairro Várzea, relembra com emoção e dor o que não pôde ser salvo – as memórias de uma vida inteira.
“Eu fiquei até o último momento. A água normalmente passava pela frente da minha casa e seguia, nunca tinha entrado. Moro aqui há mais de 40 anos. Nunca imaginei que entraria água, e entrou um metro e sessenta dentro de casa”, conta Anderson. Casado e pai de uma filha, ele tentou de todas as formas proteger o que pôde, usou pedaços de MDF e latas de tinta para levantar móveis, como fazia em outras enchentes menores.
Quando o nível da água se tornou incontrolável, a família precisou ser resgatada de barco. Anderson ficou por último. Só conseguiu sair com a ajuda de um empresário local, que desceu com um jet ski. A esposa e a filha foram acolhidas na casa de uma irmã, na parte alta da cidade. Três dias depois, ao retornar para casa, o cenário era de desolação.
“Não sobrou nada. Perdi as ferramentas de trabalho, os dois carros, os móveis, mas o pior foram os álbuns de fotos, as ecografias da minha filha, o umbiguinho guardado, o cabelo do primeiro corte, o vídeo do nosso casamento. Tudo virou lama, virou lixo”, relata.
Apesar de estar novamente morando no imóvel, a reconstrução ainda está longe de ser concluída. Anderson vai, aos poucos, comprando o que pode para recomeçar, mas como ele próprio resume: “não se reconstrói 40 anos em um”.
A dor vai além dos prejuízos financeiros. “As pessoas olham pra gente aqui na Várzea e dizem que sempre dá enchente, mas não entrava água nas casas. Minha casa foi construída um metro acima do nível da rua. Eu mesmo ergui 50 centímetros além do nível da enchente de 2010, que era a maior até então e, mesmo assim, entrou um metro e sessenta de água”, desabafa.
A entrevista com Anderson é um dos destaques do podcast que o Grupo Arauto produziu sobre o primeiro ano das enchentes em Santa Cruz. Ouça:
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