Profissionais de Santa Cruz, após experiência, chegaram a auxiliar Porto Alegre e Canoas
Quando a água do Rio Pardinho subiu, forçando famílias a deixarem suas casas em Santa Cruz do Sul há exatamente um ano, a prioridade era clara, de salvar vidas humanas. Ao longo do drama provocado pelas enchentes, outro grupo vulnerável também precisou de atenção — os animais de estimação, muitas vezes deixados para trás em meio à pressa.
O que se viu nas horas seguintes foi uma verdadeira mobilização social, liderada por veterinários, voluntários e ativistas da causa animal, que atuaram em uma força-tarefa para resgatar, cuidar e dar um novo destino a centenas de cães e gatos atingidos pela cheia. Segundo a coordenação da ação, mais de 300 animais passaram pelo centro de triagem montado emergencialmente no município.
“Foi um desafio sem precedentes. Nunca havíamos enfrentado algo assim por aqui”, relembra o médico veterinário Tiago Marques, que coordenou as operações de resgate e atendimento. “Tivemos que montar toda uma estrutura de acolhimento emergencial, com protocolos de avaliação clínica, vermifugação, vacinação e identificação, além de estabilizar os animais física e emocionalmente”, destaca.
Entre os resgatados, havia desde pets deixados para trás por suas famílias, até animais em situação de rua. A maioria chegou molhada, assustada, faminta, alguns com ferimentos, outros apenas com o olhar perdido. Em casos como o do cachorro Panda, o resgate foi quase cinematográfico. Encontrado no Bairro Várzea, em cima de um colchão boiando, o cão, de grande porte e temperamento agressivo, resistiu à tentativa de salvamento, inclusive tentando atacar a ativista Bruna Molz durante a ação.
Apesar dos desafios, os resultados foram positivos. A grande maioria dos animais foi devolvida aos tutores ou ganhou uma nova casa durante a feira de adoção realizada ao fim do processo. Hoje, apenas um segue no Centro de Bem-Estar Animal, o próprio Panda, que ainda aguarda por uma adoção responsável. Ele exige cuidados especiais, um período de adaptação e treinamento.
Solidariedade que não respeitou fronteiras
O esforço feito em Santa Cruz serviu de exemplo para outras regiões também atingidas pelas cheias. Quando a água começou a subir na Grande Porto Alegre dias depois, ativistas locais pediram socorro. A equipe de Santa Cruz, já com experiência e estrutura, respondeu ao chamado.
Bruna Molz, atual secretária do Bem-Estar Animal e uma das lideranças do movimento, relembra: “as protetoras de Canoas nos ligaram desesperadas. Não tinham barcos, não tinham equipes. Nós fomos. O Luís, um voluntário, emprestou o barco. Outro parceiro foi com jet ski. Passamos uma semana em Canoas resgatando animais e foi devastador ver a situação lá”.
Diferente do que ocorreu em Santa Cruz, a realidade em Canoas segue crítica. Muitos dos animais salvos ainda não encontraram um lar e os abrigos continuam superlotados. “Foi gratificante ajudar, mas também muito triste perceber que a adoção lá não acompanhou o ritmo da solidariedade”, lamenta.
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