DEPOIMENTO

“A profissional saiu e eu chorei”, recorda repórter que viu amigo da família sendo resgatado

Publicado em: 02 de maio de 2025 às 07:09
  • Por
    Eduardo Elias Wachholtz
  • Foto: Pedro Thessing/Grupo Arauto
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    Profissional do Grupo Arauto atuou na linha de frente da cobertura do maior desastre climático da região

    Com pouco mais de um ano na profissão e ainda cursando Jornalismo, a jovem repórter Emily Lara precisou encarar um dos maiores desafios da sua vida pessoal e profissional – cobrir a maior enchente da história da região há pouco mais de 12 meses. Além da tensão e da dor de acompanhar de perto o sofrimento de milhares de pessoas, Emily teve que lidar com a angústia de ver pessoas próximas diretamente afetadas pela tragédia.

    Entre os atingidos, estava Aureo Luiz Jaeger, amigo do pai de Emily, Paulo Lara. Aureo perdeu o contato com a esposa, que ficou presa em casa durante a enchente em Rio Pardinho, interior de Santa Cruz. Ele saiu para trabalhar no início da manhã e, como água subiu durante o dia, não conseguiu retornar. Sem notícias da companheira, buscou um barco emprestado e foi até a área. Foi nesse momento que a família de Emily perdeu contato com ele.

    “Foi desesperador. A gente não sabia se ela estava viva, se ele tinha conseguido chegar até ela. Em meio à cobertura da tragédia, eu chegava em casa e via o desespero dele [pai da repórter]. Ele não conseguia contato com o melhor amigo”, conta Emily. Durante a noite que ficou marcada pela incerteza, a família buscava notícias. “A gente achou que eles tinham morrido. Foi uma noite horrível, tentando contato com todos os lados”, lembra.

    Horas depois, veio a notícia. Aureo havia conseguido chegar até a esposa, mas agora ele também precisava ser resgatado. Com apoio da Defesa Civil e do Corpo de Bombeiros, os dois e outras pessoas que moravam do Recanto do Sossego, na área do antigo Balneário Panke, foram retirados do local e levados ao Parque da Oktoberfest, onde se concentravam os abrigos improvisados em Santa Cruz, para acolher os afetados pela enchente.

    A repórter, que naquele momento estava em serviço cobrindo a movimentação das equipes que auxiliavam na retirada das áreas de risco, viu o amigo da família entrar e não conseguiu segurar a emoção. “Naquele momento, a profissional saiu. Eu só conseguia chorar. Ver eles ali, molhados, exaustos, depois de tudo que passamos naquela noite. Eu me vi no lugar deles. Aquilo me atingiu de uma forma que nenhuma pauta tinha me atingido antes”, relata.

    Além da cobertura exaustiva, que envolveu jornadas longas e contato constante com o sofrimento de outras famílias, Emily enfrentava também o peso psicológico da tragédia. “Era muito difícil chegar nos lugares e não saber o que dizer. Ver crianças chorando, famílias inteiras perdidas. A gente queria colocar a mão na massa, fazer mais do que só mostrar”, desabafa.

    Ficou interessado e quer saber mais sobre o primeiro anos das enchentes em Santa Cruz? Ouça o podcast produzido pelo Grupo Arauto: