A mesma gota que faz um copo transbordar, quando última, faz o copo secar e são essas coisas que tornam o perdão tão importante e ao mesmo tempo desafiador no mundo
“A diferença entre o remédio e o veneno está na dose”. A frase é antiga, mais precisamente do século XVI, proferida pelo médico e físico suíço-alemão Paracelso, e ao mesmo tempo tão atual e propícia para o mundo em que vivemos.
Nos últimos dias, a primeira onda de frio desse ano, ainda não estamos no inverno, e com ela as delícias que acompanham o frio e ao mesmo tempo as amarguras que ele pode trazer. Pobre de São Pedro que tenta agradar a todos, pois a alegria de uns pode ser a tristeza de outros.
Na vida tudo seria melhor se em equilíbrio e às vezes tenho a sensação que ele cada vez está mais longe. A tão sonhada harmonia que buscamos já chegou às mesas…kkkk….pois a moda agora são as refeições harmonizadas e pensando bem, isso é muito bacana, pois nada mais justo que aproveitarmos todas as nuances de comidas e bebidas explorando todas as sensações que o alimento nos proporciona.
No outro lado do mundo, em meio à guerra, povos brigam para apenas ter uma bacia com algo para comer e um galão d’água para beber, haja vista que a harmonia por lá passa longe há muito tempo.
Com o frio chegando, lareiras funcionam a mil, casas quentinhas e ainda um cobertor enrolado nas pernas para assistir aquela série de tv preferida amenizam o frio. Enquanto isso, no outro lado da cidade ou até mesmo algumas quadras da nossa casa, 3 folhas de papelão sobrepostas servem como colchão, um cobertor doado serve com segunda proteção e a primeira é uma camiseta e uma calça pois a terceira proteção são mais 2 folhas de papelão para atacar o vento.
Com o frio chegando, junto às chuvas, por vezes em excesso, tornando nossos dias desafiadores, aumentando riscos de quedas nos idosos, acidentes de trânsito e alagamentos. Enquanto uns “ fogem” do mau tempo fazendo passeios em locais mais quentes, com praias paradisíacas, outros fogem de suas casas atingidas pelas águas e encontram um lugar quentinho nos abrigos públicos e nas casas de corações aquecidos.
O inverno ainda não começou, mas é só aparecer um frio que alguém já diz ter saudade do verão. Esquecem que no verão a seca também castiga, o sol gera câncer de pele, as verduras não crescem e, ao sair do banho, já estamos suando. Para não crucificar verão e inverno temos a beleza da primavera, as flores nascem, embelezam os ambientes e ao mesmo tempo, adivinhe, afloram as crises de rinite em todos. Talvez o outono seja a mais calma e equilibrada das estações, aquela onde as pessoas falam que a temperatura está agradável, onde ventiladores e aquecedores descansam e as horas parecem passar de maneira mais leve.
A vida realmente é esse mar de opostos, diariamente, e precisamos achar um equilíbrio nisso. Aqui por casa buscamos maneiras de amenizar as diferenças e mostrar para nossa família que existe um caminho mais leve, justo e perfeito de levar a vida. Eu, a exemplo de meu pai, não nasci para viver sozinho e isso não significa que eu seja dependente dos outros mas sim que em cada uma das pessoas que eu amo tem um pedaço que me constrói como ser humano e nesses momentos elas são fundamentais.
Na vida é preciso aprender a dosar e isso tem sido o grande desafio. A mesma gota que faz um copo transbordar, quando última, faz o copo secar e são essas coisas que tornam o perdão tão importante e ao mesmo tempo desafiador no mundo. Talvez o excesso de julgamentos esteja contribuindo para o excesso de escolhas extremas; talvez a intolerância, fruto da impaciência, da raiva, da inveja e da soberba estejam contribuindo muito para tudo isso.
Não quero tudo certo pois o certo sempre terá um conjunto de regras e valores que podem e devem mudar de pessoa para pessoa uma vez que são as diferenças que propiciam e estimulam o crescimento e evolução de uma comunidade. Entretanto, há de se ter respeito, tolerância e senso de coletividade para que as situações evoluam de maneira mais harmônica.
Essa constante “guerra” em defesa do certo, em prol do ego, tem tornado o dia-a-dia por vezes cansativo. Diga-me com quem anda e eu direi quem você é está sendo levado rigorosamente ao pé da letra e criando uma necessidade de que pertençamos a um determinado grupo sendo que a obrigatoriedade de escolha, por vezes, tem tornando a humanidade nervosa, agoniada e desrespeitosa entre seu pares.
Toda vez que alguém me ofende tenho mais certeza que a ofensa diz muito mais sobre quem a fez do que sobre mim. Essa é uma ideia interessante para tornar meu dia mais leve. A clareza de que minhas energias caminham para onde eu coloco a atenção fazem com que pensar assim seja fundamental para eu não me perder e entender cada vez mais o que eu quero e o que eu preciso fazer.
Minha mãe essa semana falou que em dias frios, quando deita, fica angustiada ao saber das diferenças que existem no mundo e que sabe o quanto as pessoas sofrem nessa época do ano. Na contrapartida, vejo que ela já ajudou e ajuda tanta gente e por isso a gente não deve se cobrar tanto em relação a essas situações. Meu sogro fala que é como um beija-flor no incêndio levando pequenas gotas para combater o fogo, ou seja, que a sua parte ele fez.
Estamos carentes de compaixão pois apenas a empatia não tem ajudado, ou melhor se diga, não tem sido suficiente para equilibrar esse mundo gigante. Compaixão é fazer pelo outro aquilo que precisa ser feito. Não adianta se colocar no lugar do próximo como forma de entender e acolher mas não fazer nada. Fazer algo não significa fazer tudo e sim apenas fazer a sua parte pois não salvaremos o mundo sozinhos.
Diferenças sempre vão existir, por vezes e não poucas serão injustas, e compete a cada um de nós fazer a sua parte para diminuí-las, sem se auto culpar. Se por ventura nos sentirmos culpados por elas aí estará uma grande oportunidade para exercitar o perdão. Perdoar a si é o primeiro passo pois não podemos fazer ao próximo aquilo que não sabemos fazer para nós mesmos.
Digo e repito, começa na sua casa, na sua família, nos seus amigos de verdade. Todo dia existem oportunidades para diminuirmos diferenças e equilibrar o mundo, basta sabermos direcionar o nosso radar. Talvez um simples bom dia, um deixa que eu seco a louça, algo em que eu possa lhe ajudar e, quando alguém lhe agradecer por algo feito apenas relate a sua certeza de que você não tem dúvidas de que essa pessoa faria o mesmo por você. Simples assim, não apenas quanto ao que fazer como também por onde começar. Abençoado dia.
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