Professora da Unisc dá detalhes e debate ações que podem ser adotadas para minimizar impactos futuros
Um ano após as enchentes históricas que devastaram o Rio Grande do Sul, o debate sobre medidas capazes de reduzir os impactos de eventos climáticos extremos ganha cada vez mais espaço. Em Rio Pardo, o retrato deixado pelas águas também escancara um problema estrutural antigo – a desigualdade social.
Dados do Mapa Único do Plano Rio Grande mostram que, na Cidade Histórica, a maior parte das pessoas atingidas pela enchente vive em situação de vulnerabilidade econômica. Ao todo, 8.839 moradores — o equivalente a 25,5% da população de Rio Pardo — foram diretamente impactados pelas cheias.
Entre esses atingidos, quase metade (46%) vive em extrema pobreza, com renda per capita de até R$ 100 por mês. Outros 13,5% estão abaixo da linha da pobreza, com renda de até R$ 200. Na sequência, 19,3% têm renda de até R$ 760, enquanto 17% recebem entre meio e um salário mínimo. Apenas 4,1% das pessoas afetadas possuem renda acima disso.
Para especialistas, esses números ajudam a explicar por que os desastres naturais costumam atingir com mais força as famílias de baixa renda. A professora Grazielle Brandt, do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), explica que a lógica de ocupação urbana contribui diretamente.
“Nosso modelo de expansão urbana vai do centro para as periferias. Quando os imóveis mais centrais ficam inacessíveis por conta do preço elevado, as populações de menor renda acabam sendo empurradas para as margens das cidades, muitas vezes ocupando áreas de risco, como beiras de rios ou terrenos sujeitos a alagamentos”, detalha a pesquisadora.
Segundo Grazielle, essa situação não é exclusiva dos Vales do Rio Pardo e do Taquari, regiões fortemente atingidas pelas enchentes em setembro e novembro de 2023 e em abril e maio de 2024, mas uma realidade presente em muitos municípios brasileiros.
Outro fator que contribui para a vulnerabilidade dessas comunidades é a ausência de um planejamento urbano que considere os impactos das mudanças climáticas. Para a professora, os municípios precisam rever seus planos diretores e incluir políticas específicas de prevenção a desastres e adaptação a eventos extremos. “Esses acontecimentos não são mais eventos isolados. A frequência e a intensidade das chuvas mostram que as cidades precisam se preparar. O que aconteceu no Vale do Taquari no ano passado e agora no Vale do Rio Pardo é um alerta que não pode ser ignorado”, afirma Grazielle.
Ficou interessado e quer saber mais? Esse é apenas um dos tópicos abordados no podcast do Grupo Arauto sobre o primeiro ano das enchentes em Rio Pardo. Ouça o material na íntegra:
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